Crítica
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Sinopse
Crítica
Curioso como algumas expressões dependem mais de como são ditas do que da maneira como são percebidas pelos ouvintes. Basta ver o caso do título dessa comédia estrelada pelos sumidos Reese Witherspoon e Ashton Kutcher. Se no Brasil a frase Na sua casa ou na minha? costuma fazer referência a um encontro sexual imediato e passageiro, sem maiores repercussões – geralmente o fim de uma balada que resultará em uma ressaca no dia seguinte – por aqui o convite é empregado de modo bem mais comedido, de acordo, aliás, como dita as expectativas relacionadas a uma comédia romântica que visa um público abrangente, sem grandes especificações. E assim como retira qualquer potencial apimentado da proposta, o conjunto também se mostra igualmente ameno, morno até, caminhando lentamente a um desfecho fácil de ser antecipado desde os primeiros instantes. E o pior: sem se importar se tal desenlace se dará no apartamento dele, ou no ambiente familiar dela (o dava a entender ser crucial, ao menos pelo que indicava o título).
Debbie (Witherspoon, que não aparecia em um longa desde Uma Dobra no Tempo, 2018) e Peter (Kutcher, que não tinha um trabalho de destaque desde o malfadado Jobs, 2013) são melhores amigos. A relação dos dois não chega a ser tão pudica assim, afinal, é quase uma lei em Hollywood que homens e mulheres não podem simplesmente gostar uns dos outros de um modo fraternal – há sempre uma segunda intenção por trás. Entre eles essa aproximação se deu muitos anos antes, quando jovens, mas após uma única noite juntos cada um seguiu seu caminho – sem, no entanto, perderem contato. Assim, seguiram ligados, mas separados geograficamente: ele foi para Nova York se tornar um empresário importante, enquanto ela ficou na Califórnia para seguir seu sonho de professora, esposa e mãe.
Assim como Navarre (Rutger Hauer) e Isabeau (Michelle Pfeiffer) em O Feitiço de Áquila (1985), um casal apaixonado, porém amaldiçoado a se transformar em um falcão durante o dia (ela) e em um lobo à noite (ele), Debbie e Peter também não conseguem manejar um modo de ficarem juntos. Tanto é que desencanaram – mal entendidos e outras preocupações se impuseram entre eles, e cada um tratou de seguir com sua vida da melhor maneira possível. Porém, nas vésperas de uma aguardada férias em que finalmente iriam se rever, ela descobre não ter mais com quem deixar o filho pequeno, e pensa em cancelar a viagem. A solução é proposta por ele – afinal, ela iria atravessar o país não apenas para vê-lo, mas para participar de um curso de capacitação profissional (reencontrá-lo seria um bônus). Assim, é ele quem decide se sacrificar, percorrendo o caminho inverso: enquanto ela assume o espaço de solteirão dele na Big Apple, ele irá se mudar para o pequeno e aconchegante chalé com jardim e vizinhos inesperados em Los Angeles, fazendo as vezes de babá para que ela possa estudar em paz.
Talvez esse jogo de cadeiras fizesse sentido até 2019, mas, em um 2023 pós-pandemia, a pergunta que fica é: por quê ela não leva o garoto consigo, uma vez que o menino poderia seguir com suas aulas de modo remoto, enquanto os antigos colegas finalmente teriam as condições para desfrutar um da companhia do outro? Bom, como ninguém chega sequer a cogitar essa possibilidade em cena, percebe-se logo que se trata de um daqueles deslizes que é melhor o espectador tratar de abstrair o quanto antes, pois, caso contrário, poderá prejudicar a experiência por completo – o que não parece ser tão difícil. No final, o que sobra é mais uma comédia de erros e menos um romance água-com-açúcar. Serão dois estranhos em ambientes que não dominam, e como tais tentarão de um jeito ou de outro sobreviver às provações à medida em que elas irão surgindo.
Se por um lado ela terá a carismática Minka (Zoe Chao, de Alguém que eu costumava conhecer, 2023) – quem não queria ter uma Minka em sua vida? – para lhe apresentar a cidade e o charmoso Theo (Jesse Williams, de Grey’s Anatomy, 2009-2022) para lhe distrair, ele terá que se virar com uma certeira Alicia (Tig Notaro, de De Repente Uma Família, 2018), sempre lhe dizendo o que precisa ouvir, e um desperdiçado Zen (Steve Zahn, que pelo jeito não tinha nada melhor para fazer). Os quatro, no entanto, se fazem presentes apenas como meio de equilibrar uma balança que não chega a ter importância, uma vez que qualquer um minimamente perspicaz saberá bem para onde tudo isso irá se encaminhar. E se por um lado é válido o esforço de mostrar a figura feminina como aquela independente e determinada, enquanto o homem é visto como o inseguro e carente de um empurrão na hora certa, o desfecho apressado – ninguém mais aguenta essas correrias de última hora em aeroportos – e a falta de química entre os protagonistas (que funcionam melhor separados do que juntos) é suficiente para eliminar qualquer maior expectativa em relação à Na sua casa ou na minha? Afinal, melhor mesmo será em nenhuma das duas, e bem longe dali.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 4 |
Francisco Carbone | 5 |
Maria Caú | 5 |
Isabel Wittmann | 6 |
MÉDIA | 5 |
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