Crítica
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Sinopse
Holmes é um nonagenário aposentado que vive numa casa de campo. Ao seu redor apenas o filho Roger e sua governanta de longa data. Ao revisitar suas memórias, ele é novamente tomado por um caso não resolvido.
Crítica
A prova da qualidade de uma criação é a persistência ao tempo. Sherlock Holmes, o detetive criado por Arthur Conan Doyle na metade final do século XIX, é um exemplo imune aos anos. Gerações e mais gerações passaram os olhos pelos casos aparentemente insolúveis que encontram no incrível raciocínio dedutivo de Holmes a resposta (em um dos casos mais famosos, por exemplo, o detetive sequer deixou a poltrona do escritório).
Por isso, há algo de melancólico em Sr. Sherlock Holmes, filme do inglês Bill Condon (Kinsey: Vamos Falar de Sexo, 2004), ao mostrar a velhice do investigador. O avanço da idade não poupa o velho Sherlock, que toma corpo pela grande interpretação do irrepreensível Ian McKellen. Se a resistência física ainda o permite cuidar das abelhas no jardim da casa de campo, a memória, no entanto, já não é mais a mesma. O crescente esquecimento de nomes, acontecimentos e do desligar do gás fazem com que Holmes sinta-se obrigado a romper com o tradicional isolamento (ele nunca se casou) e divida a casa com a governanta Sra. Munro (Laura Linney) e filho de 14 anos dela, Roger (Milo Parker), quem cresceu tendo Sherlock como figura masculina. À medida que admite a fragilidade das recordações, Holmes se propõe a recompor o último caso em que esteve envolvido. Tal investigação tem importância particular porque resultou na morte de uma mulher e foi decisivo para colocar fim a sua carreira. A fim de poupá-lo da crueldade da posteridade, Watson, o responsável por registrar os feitos de Holmes, teria dado ao caso um desfecho menos trágico.
O filme de Condon trabalha, então, com idas e vindas do passado na tentativa de conseguir a versão verdadeira, presente unicamente na memória debilitada do protagonista. No presente, um Holmes doentes, anotando em um diário os esquecimentos, volta no tempo ao se deparar com objetos aleatórios, como um par de luvas ou as abelhas, que lhe trazem as imagens necessárias para completar o final do caso. Inspirado na obra A Slight Trick of the Mind, de Mitch Cullin, o roteiro ainda utiliza o presente para desconstruir a imagem tradicional do protagonista. O perfil marcado pela frieza e racionalidade vai dando lugar à afetividade construída na relação com Roger. O personagem de Parker, em ótima atuação, dá a Holmes a experiência negada por Doyle, seu criador: a humanidade.
O terceiro ato, porém, se revela problemático. Condon sente que precisa resolver os caminhos abertos pela trama, seja completando o passado ou dando um fechamento a altura do presente. A narrativa acelerada torna a trama afobada. A relação com a Sra. Munro cai em um tom excessivo, em que Holmes se ajoelha e chora. Ainda que comprometa apenas de leve a obra como um todo, o final melodramático de Sr. Sherlock Holmes é imerecido, e certamente estaria longe de ser aprovado por Sherlock.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Willian Silveira | 7 |
Edu Fernandes | 6 |
MÉDIA | 6.5 |
Sobre o terceiro ato: também senti um desconcerto. Foi a parte do filme que de fato me causou um certo incômodo, algum desagrado. Um fechamento ainda sensível e introspectivo, assim como são o começo e a metade do filme (na maior parte do tempo), porém mais sóbrio teria sido melhor apreciável. É ótimo o filme, com o lindo tema musical principal sendo um dos meus pontos favoritos. Um Sherlock Holmes com quase 100 anos e uma visão intimista sobre esse personagem muito me causaram interesse ao longo da sessão, ainda mais pela excelência de Ian McKellen. Gostei das brincadeiras feitas no roteiro, por exemplo, sobre hábitos de Mr. Holmes e seus casos e tudo que Watson escreveu e tudo aquilo que se tornou popular a respeito do detetive. Eu pretendo ler o livro (A Slight Trick of the Mind) e ver o quanto este e a adaptação cinematográfica são semelhantes.