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Sinopse

A história de Ip Man, mestre de artes marciais conhecido no Ocidente pelo fato de ter sido o mentor de Bruce Lee. Gênio das artes milenares, ele propagou uma filosofia muito particular de luta que acabou influenciando gerações.

Crítica

Wong Kar-Wai se fez conhecer no ocidente em um período muito criativo da sua filmografia. Em 2000, com Amor à Flor da Pele, alcançou o reconhecimento merecido e recebeu a proposta de experimentar produzir fora de casa. O resultado veio sete anos depois, com o decepcionante Um Beijo Roubado (2007), cuja proposta estética apenas repete o que fizera até então e o conteúdo esbarra em um roteiro fraco e superficial. O retorno se dá com O Grande Mestre.

Sabemos que Kar-Wai retornou logo na primeira cena, quando Tony Leung, parceiro tradicional do diretor, interpreta o mito das artes marciais Ip Man em um discurso sobre o Kung Fu, o gênero de cinema mais popular em Hong Kong. Estamos em Foshan, em 1930, quando, sob uma chuva torrencial, somos apresentados às habilidades de Man, representante das técnicas do sul, contra Gong Yuitan (Qing-xiang Wang), mestre do norte. Em uma sequência tecnicamente impressionante – compilação de cortes rápidos, plasticidade nos movimentos, closes e suspensão temporal – Kar-Wai mostra que, apesar de ter feito somente um filme de ação (Cinzas do Passado, 1994), o gênero não lhe é estranho.

Ainda que o título diga respeito a Ip Man, O Grande Mestre desenvolve sua narrativa ancorada em duas histórias. A primeira trata do personagem de Leung, representante do estilo de luta Wing Chun, enquanto a segunda é a história de Gong Er (Zhang Ziyi), filha do mestre do norte, que busca vingar o pai. Entremeado a isso, a invasão japonesa, que transforma o país em um campo de guerra e disputas de poder.

Lidar com enredos complexos, com vários personagens e desdobramentos múltiplos, nunca foi uma dificuldade para o diretor. Tal característica, aliás, é uma de suas virtudes. No entanto, O Grande Mestre se ressente de um fio condutor robusto. Por um lado, se pretende uma homenagem ao Kung Fu. Dedicado a Bruce Lee, expoente da luta chinesa no Ocidente, o filme busca transmitir a essência da arte, com seus mestres, códigos de honra e ensinamentos. Por outro, tenta traçar as histórias de Ip Man e Gong Er, com um desfecho que tenciona admiração, ressentimento e amor. Entretanto, o entrelaçamento de núcleos exige uma força de coesão inexistente no filme. A preocupação com a ornamentação das cenas e em apresentar diálogos suntuosos – chega a ser patética a busca por fazer de cada objeto um poço de sabedoria milenar – se sobrepõe ao encadeamento e à unidade, resultando em uma frouxidão esteticamente avassaladora – inegavelmente impressionante.

Depois de um primeiro ato bastante competente, Kar-Wai se perde. A entrada dos soldados nipônicos despedaça o filme, tal qual o território chinês, ao abrir leques não desenvolvidos, como o de “O navalha” (Chang Chen), e trazer informações gratuitas, como a morte dos filhos de Man durante a guerra. A direção retoma o controle somente no último ato, quando é tarde demais. O desfecho faz o possível para encaixar o enredo de modo apropriado, mas lhe falta a intensidade desperdiçada anteriormente. É bem provável que a relação de Ip Man com Gong Er, introduzida ao apagar das luzes (quase acender das luzes, na verdade), seja a tentativa derradeira de resgatar a veemência perdida. Ou, para ser mais justo, a veemência jamais alcançada em O Grande Mestre, exceto pela imponência de suas lutas.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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