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Sinopse

Antes de se tornar um vilão tão engenhoso quanto atrapalhado, Gru é uma criança que se dá mal ao tentar entrar para o grupo dos malfeitores mais temidos do mundo. Mas, Gru planeja algo na companhia dos queridos minions.

Crítica

Para começo de conversa, importante que algo fique claro: o título nacional está equivocado. Minions 2 não se propõe a narrar ‘a origem de Gru’, como alardeado por aqui, mas, sim, ‘a ascensão de Gru’, que seria a melhor tradução para o original The Rise of Gru. E qual a diferença? Bom, é imensa. Afinal, muito foi visto nas aventuras anteriores sobre como as coisas começaram para o personagem, tanto na trilogia Meu Malvado Favorito, como em Minions (2015). A adoção das pequenas Margo, Agnes e Edith, a relação dele com a mãe, a descoberta de um irmão gêmeo e a união com dezenas de ajudantes amarelos adoradores de banana: tudo isso fora explorado antes. Poderia se esperar, portanto, que esse novo filme fosse atrás das raízes da vilania de Gru, o que o levou a pender para o mal e quais os feitos que o tornaram o ser desprezível apresentado ao mundo em Meu Malvado Favorito (2010). Ao invés disso, o espectador é convidado a se deparar com uma figura formada – apesar de ter apenas 11 anos, Gru está bem ciente de suas tendências maléficas e da vontade de se tornar um dos maiores nesse campo. Eis, portanto, o núcleo da trama. E onde essas figuras amareladas se encaixam? Em qualquer lugar – ou em nenhum, dependendo do gosto do freguês.

Essa é mais ou menos a lógica por trás do projeto dirigido por Kyle Balda (que desde Loucuras do Minions, curta de 2010, tem se envolvido em quase tudo relacionado aos personagens), dessa vez contando com as co-direções de Brad Ableson (que comandou o curta Minions Holiday Special, 2020) e Jonathan del Val (Pets: A Vida Secreta dos Bichos 2, 2019). Os minions estão por tudo, mas pouco interferem no desfecho de cada um dos eventos pelos quais acabam se envolvendo em maior ou menos grau. O Sexteto Sinistro (também visto em aventuras anteriores) expulsa seu líder – Willy Kobra – por considerá-lo ultrapassado. De posse de um medalhão com poderes mágicos, os cinco restantes pretendem dominar o mundo. Antes, porém, abrem uma seleção entre os demais bandidos de todo o mundo que desejarem se candidatar à vaga recém aberta. O protagonista chega a ser convidado para uma entrevista, mas quando descobrem que ele é não mais do que uma criança, o descartam sem cerimônias. Revoltado e decidido a provar seu valor, parte para um plano ambicioso: rouba para si o cobiçado artefato!

A situação se complica quando, durante a fuga, deixa a joia preciosa nas mãos dos minions, que obviamente não tardarão em perdê-la. Quando Gru é sequestrado por ninguém menos do que Willy Kobra – que também quer a pedra para recuperar seu posto de origem e é o maior ídolo do garoto – três linhas narrativas se dividem: uma com esses dois, outra com os remanescentes do antigo Sexteto no encalço deles e, por fim, os heróis da Liga Anti Vilões tentando capturar todos. Mas que ninguém se deixe enganar: esses são apenas os encontros e desencontros que se sucedem na superfície da história. Pois, em sua base, estão os minions, e como eles lidam com tudo isso. Apesar de serem quase todos iguais entre si – amarelos e olhudos, falando de modo incompreensível e agindo quase sempre de modo bastante atrapalhado – em Minions três deles foram apresentados com destaque: Stuart, Bob e Kevin. Pois bem, em Minions 2 esse trio mais uma vez está no centro dos acontecimentos, com um acréscimo que, supostamente, deveria fazer diferença: Otto. Mas apesar do aparelho nos dentes e de ser um pouco mais rechonchudo, é quase igual aos seus colegas. E o que era para ser a novidade se mostra, enfim, apenas mais do mesmo.

E eis o sentimento que percorre o enredo do início ao fim: repetição. O roteirista Matthew Fogel (que assinou as continuações Uma Aventura Lego 2, 2019, e Vovó... Zona 3, 2011) pouco acrescenta a esse universo ao se apropriar dos personagens, meio que seguindo o lema de que “em time que está ganhando não se mexe”. Afinal de contas, tanto Minions quanto Meu Malvado Favorito 3 (2017) faturaram mais de US$ 1 bilhão nas bilheterias de todo o mundo (cada), e diante de uma franquia milionária como essa, o retorno mais seguro do investimento é entregar ao público exatamente o que dela se espera. Porém, tem-se em mãos figuras destinadas majoritariamente ao público infantil, e se passaram cinco anos desde o último longa – um período que pode significar o fim da infância e o início da adolescência para esses espectadores. Ou seja, é quase, portanto, como se estivessem recomeçando, assim como Gru, diante de uma audiência completamente nova. Para os demais, no entanto, o minions se tornaram uma piada envelhecida, de uma só nota, que não mais tem o que acrescentar ao imaginário popular ou cultural. Podem até provocar um meio sorriso aqui e ali, mas nada que perdure por muito tempo.

Filmes que se passam antes de episódios exibidos anteriormente – chamados de prequel no jargão cinematográfico – possuem a sina de terem seus desfechos facilmente antecipados: afinal, se sabe de antemão o que irá acontecer com os personagens no futuro. Se faz necessário, portanto, muita imaginação e criatividade para que o se propõe a narrar seja interessante o suficiente para justificar o durante, uma vez que o fim deverá se situar num ponto previamente conhecido. Minions 2 frustra justamente nessa expectativa, pois além de se direcionar apenas aos recém-chegados na plateia, sem nada de relevante a oferecer a quem acompanha os tipinhos coloridos há mais tempo, o que apresenta é tão identificado enquanto sua zona de conforto que pouca emoção irá agregar a essa jornada. É uma aventura na qual os que deveriam ser protagonistas se comportam como coadjuvantes, e o tal ‘malvado favorito’ se mostra mais interessado em ajudar o seu próprio ‘malvado favorito’ do que em criar um nome para si mesmo. Na melhor das hipóteses, eis uma comédia medíocre que deverá ser esquecida, sem maiores danos. Mas nem quanto a isso recomenda-se uma torcida entusiasmada.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
3
Alysson Oliveira
3
MÉDIA
3

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