Crítica


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Onde Assistir

Sinopse

A Marinha Norte-Americana e a Marinha Imperial Japonesa se enfrentam na Batalha de Midway, no Oceano Pacífico, em junho de 1942, num dos episódios mais importantes da Segunda Guerra Mundial.

Crítica

A imagem mais recorrente em Midway: Batalha em Alto-Mar é a dos bravos pilotos norte-americanos mergulhando, em seus aviões defasados, na direção contrária das saraivadas de projéteis incandescentes disparados pela artilharia antiaérea japonesa. O cineasta Roland Emmerich não decepciona os admiradores de seu contumaz estilo grandiloquente. Os embates são enormes, com planos esquadrinhando porta-aviões e encouraçados ardendo, gente se perdendo nas chamas resultantes do ataque nipônico a Pearl Harbor e vislumbres reiterativos dos efeitos espetaculares de avanços e revides. Todavia, com exceção das poucas cenas bonitas e expressivas, como a da aterrissagem do piloto arrojado que decide simular condições adversas, o longa transpira artificialidade, seja pela presença da computação gráfica (o que lhe tira a organicidade) ou ainda pela forma trôpega de costurar os infortúnios humanos. Falta-lhe substância e estofo dramático.

A ação, do lado estadunidense, se desenvolve em duas frentes que deveriam ser complementares, mas que acabam meramente alternadas. Numa delas o protagonista é Dick Best (Ed Skrein), piloto de arrogância apenas equivalente à suas coragem e habilidade. A experiência dele nos dias que antecederam a Batalha de Midway atravessa Midway: Batalha em Alto-Mar com destaque. O cineasta sobrecarrega esse personagem com várias funções: ele é o herói de todas as horas; o que, alçado à chefia, mantém a moral do esquadrão; o que chora a morte de um amigo querido; o pai/marido zeloso que permite ao espectador o contato com a lancinante posição das esposas, impotentes, que aguardam notícias dos soldados e oficiais; o salvador da pátria quando as perspectivas apontam para uma derrota acachapante, etc. Com tantas atribuições a ele conferidas, sobra pouco espaço ao pleno estudo de suas subjetividades. Se trata de um compêndio de arquétipos de guerra.

Na outra frente norte-americana de Midway: Batalha em Alto-Mar está Edwin (Patrick Wilson), oficial da Inteligência e, como tal, peça fundamental para neutralizar investidas japonesas. Embora não seja assoberbado como Dick, tampouco tem terreno para desvencilhar-se da camisa de força de sua posição na Marinha. É uma figura como tantas vistas em filmes desse tipo, trabalhador de jornadas insalubres que enfrenta moderadas reprimendas domésticas da esposa insatisfeita e preocupada. Numa produção transbordante de testosterona, em que o importante, definitivamente, é sublinhar a intrepidez ianque e, quando muito, o senso de honra dos inimigos, as mulheres desempenham papeis meramente burocráticos, somente apoiando maridos atravessados por dilemas óbvios e atirados na telona como subterfúgio na tentativa frequente de causar alguma comoção. Mas acaba que o caráter postiço se impõe, tornando a jornada cansativa.

Midway: Batalha em Alto-Mar não consegue lidar com o tempo, pelo menos não no sentido de molda-lo a favor da construção da atmosfera de tensão que sobrevém à ofensiva japonesa a Pearl Harbor. Como é de seu feitio, Roland Emmerich aposta pesado na pirotecnia. Entretanto, os enfrentamentos parecidos e as manobras estratégias dispostas com displicência depõem contra o todo. Há pequenos lampejos de inspiração, mas nada que consiga dirimir o caráter genérico dessa produção que requenta expedientes bastante desgastados do gênero. Há uma bem-vinda piscadela aos cinéfilos, o par de cenas em que John Ford aparece. O grande cineasta foi verdadeiramente a Midway, onde filmou um dos curtas-metragens mais conhecidos da Segunda Guerra Mundial, A Batalha de Midway (1942). Mas nem isso o realizador alemão consegue sublinhar com a devida atenção e reverência. Tirando certas passagens visual e sonoramente eficientes, o filme esgota rapidamente a sua precária munição e fica planando como um avião sem rumo. Mas a queda é inevitável.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
4
Francisco Carbone
3
MÉDIA
3.5

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