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Sinopse

Três anos após a turbulenta lua-de-mel, Miá, que é jornalista e dá o maior duro, não aguenta mais as irresponsabilidades de Fábio, que trabalha com o pai num bufê infantil e acorda tarde todos os dias. Agora, os dois embarcam em uma viagem para Portugal para, talvez, salvar o casamento.

Crítica

Grande parte do sucesso de Meu Passado Me Condena (2013), longa de estreia da cineasta Julia Rezende e primeiro trabalho de Fábio Porchat como protagonista, devia-se à boa química que o ator conseguia estabelecer com sua parceira de cena, a atriz Miá Mello, e à forma leve e tranquila como a diretora conduzia sua história, sem se preocupar em reinventar a roda, mas focada apenas em entregar um bom passatempo. O sucesso foi tanto – mais de 3 milhões de espectadores nos cinemas – que uma continuação era inevitável, ainda mais em tempos em que pouco se arrisca na produção nacional. Mas Meu Passado Me Condena 2, curiosamente, comete todos os pecados evitados pelo seu antecessor, resultando em uma comédia romântica sem graça e nada apaixonante.

Casal decide viajar junto, mas ao chegar no destino passam a brigar um com outro a ponto de se separarem, apenas para serem cortejados por terceiros até perceberem que nenhuma paixão de última hora poderá substituir o amor verdadeiro. Esta sinopse, que muito bem poderia ser a do recente Qualquer Gato Vira-Lata 2 (2015), também se aplica à perfeição em Meu Passado Me Condena 2. A questão, apenas, é que ao invés de um resort no Caribe temos o interior de Portugal – um destino, é preciso concordar, bem menos paradisíaco que o do seu concorrente. E se Miá e Fábio (os personagens tem os mesmos nomes dos atores) estavam destinados a “viver felizes para sempre” no final do primeiro filme, agora descobrimos que essa felicidade eterna não durou dois anos. Os encontramos em meio a uma crise, ela trabalhando muito para sustentar o casal, ele dormindo até tarde e envolvido em empregos sem futuro. O rompimento é iminente.

Um sinal de mudança é dado quando, no meio de uma discussão, o telefone toca e ele recebe a notícia que sua avó faleceu. Na verdade não é bem isso – se trata da segunda mulher do avô, com quem ele nem tinha muito contato. Mas é a desculpa perfeita para se fazer de vítima, conquistar mais uma vez a atenção da esposa e levá-la junto ao enterro. Em Portugal. A viagem acontece, mas nenhuma das reclamações dela é levada à sério. E assim que chegam à Quinta da família dele a farsa vem abaixo, apenas para aumentar o desgosto da mulher. E sem muita justificativa para permanecerem por lá, os dois tentarão aos trancos e barrancos se entenderem – ou não.

Ao contrário do longa anterior, em que a maior parte da ação se dava durante a viagem – num cruzeiro – dessa vez a trama se passa já no destino final, e muito pouco se aproveita do cenário. Se antes as tentações que cada um do casal enfrentava eram representadas pelo par formado por Juliana Didone e Alejandro Claveaux, estes dois saem de cena apenas para serem substituídos pelos portugueses Ricardo Pereira e Mafalda Rodiles – alteram-se os rostos, porém suas funções (e desenlaces) permanecem exatamente os mesmos. Por fim, tal qual vimos da primeira vez, os picaretas de plantão interpretados por Inez Viana e Marcelo Valle estão novamente de volta, porém com piadas mais fracas e em participações sem sentido que em nada contribuem para melhorar o já fraco resultado final.

Porchat, longe do bom desempenho visto neste ano no dramático Entre Abelhas (2015), está mais exagerado do que nunca, e Miá Mello pode até ser simpática, mas precisa se esforçar muito ainda para ser uma atriz razoável. Assim, Meu Passado Me Condena 2 resulta em uma tentativa pífia de extrair a última gota de um projeto que já foi longe demais (além do cinema, há versões da mesma história também no teatro e na televisão). Porém esquece-se do fundamental: a necessária empatia com o público. Com dois protagonistas de comportamentos irritantes que passam mais tempo discutindo do que tentando encantar ou despertar qualquer tipo de emoção mais sincera, tudo o que se consegue é a repulsa e o desprezo. E assim temos mais um projeto que até começou bem, mas que termina resvalando na vala comum do esquecimento descartável.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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