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Sinopse

Fabio e Miá se conhecem há apenas um mês, mas mesmo assim resolvem se casar. A viagem de lua de mel acontece em um navio do Rio de Janeiro até a Europa, onde ela reencontra seu ex-namorado, o bem-sucedido Beto, que está casado com a estonteante Laura, antiga paixão não correspondida de Fabio. Atrapalhados com essa coincidência, os recém casados viverão uma viagem cheia de surpresas, sempre enfrentando o risco de arruinar a relação.

Crítica

Diante da sinopse “casal que mal se conhece parte para lua de mel em transatlântico e durante a viagem reencontra antigas paixões, abalando as convicções do seu casamento”, o que é possível esperar além de uma comédia romântica das mais açucaradas? Pois é exatamente isso que entrega Meu Passado Me Condena: O Filme (o acréscimo é para diferenciar tanto na minissérie exibida no canal à cabo Multishow, base deste projeto, como do clássico homônimo de 1961, estrelado por Dirk Bogarde). Mas se o longa protagonizado por Fábio Porchat e Miá Mello trilha um caminho seguro, é justamente este desenvolvimento até o final mais do que previsível que o torna um programa relativamente interessante.

Fábio e Miá (Porchat e Mello, pois os personagens possuem os mesmos nomes dos intérpretes) se conhecem há apenas um mês, mas mesmo assim a atração entre os dois é forte o suficiente para que decidam se casar. Após assumirem o compromisso às pressas, partem para uma viagem marítima até a Itália, lugar de sonho e de muito romance. Mesmo assim, basta que o passeio comece para que as diferenças passem a se manifestar. As reservas, feitas por ele, foram feitas para um pacote de férias promocionais, que oferece poucos extras. Ou seja, qualquer atividade extra terá um custo adicional, o que o rapaz se recusa a pagar. Ela, jornalista econômica acostumada a lidar com um nível de alta esfera, logo percebe os conflitos que a relação com um animador de festas infantis irá lhe proporcionar. Os dois atores, no entanto, possuem uma boa química juntos, e realmente acreditamos que possam ser duas pessoas apaixonadas, à despeito do abismo social que possa existir entre eles.

Mas se um gosta do outro e estão dispostos a superar os problemas de um caminho a ser trilhado juntos, onde está o conflito dessa história? Na incômoda coincidência de um ex-namorado dela (Alejandro Claveaux, com pose de galã pré-fabricado) e de uma ex-paixão dele (Juliana Didone, com cara de paisagem) aparecerem no mesmo navio e, ainda por cima, casados. Claro que um irá se abalar pelo outro – o marombeiro bem sucedido tentará reconquistar a antiga namorada, a miss simpatia sem graça se demonstrará receptiva ao charme infantil do comediante. Mas é muito pouco para que uma verdadeira dúvida se instaure no espectador. É por isso que o roteiro de Tati Bernardi (Qualquer Gato Vira-Lata, 2011) e do estreante Leonardo Muniz trata de inserir na trama mais um ponto de discórdia: um amigo do noivo, também em viagem, que segue caminho ao lado deles, se intrometendo em praticamente tudo que o casal programa junto – indo até dormir no mesmo quarto deles.

Esse subterfúgio de última hora força ainda mais a paciência da audiência, já cansada de tanto chover no molhado. Nesse momento começa a ganhar destaque – numa jogada sábia da diretora Julia Rezende – um outro casal de coadjuvantes: os trambiqueiros Suzana (Inez Viana, de Nosso Lar, 2010), e Wilson (Marcelo Valle). Os dois funcionam quase como um coro grego, comentando os acontecimentos: são funcionários do navio que intermediam o que vai sucedendo com os outros personagens, muitas vezes interferindo diretamente em suas ações. Eles acabam sendo os tipos mais interessantes, e muitas vezes o público se pegará torcendo mais pelo desenlace deles do que pelo destino dos protagonistas – pois esses, afinal, todo mundo sabe de antemão como irão terminar.

Meu Passado Me Condena: O Filme é mais uma comédia nacional feita a toque de caixa – as filmagens levaram apenas 3 semanas, tempo exato da viagem transatlântica – para aproveitar um momento propício, preocupada mais em agradar plateias em busca de diversão rápida e passageira. O que salva o longa do esquecimento instantâneo é a produção competente, que inclui belas passagens por Marrocos e Itália, e o elenco, capitaneado por um Fábio Porchat que vem conquistando um merecido estrelato. Este é seu quarto filme em menos de 12 meses, indicando uma versatilidade e uma afinidade com a tela grande digna de nota. Por ele, principalmente, é válido o esforço desta realização. Bonito e fugaz, não faz feio diante seus paralelos hollywoodianos, ainda que precise comer muito feijão para ser, de fato, relevante.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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