Crítica
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Sinopse
A diversidade através da história de vida de Jacqueline Rocha Côrtes, uma mulher transexual brasileira, militante, que tem a vida marcada por lutas e conquistas. Jacque ocupou cargos no Governo Brasileiro e na Organização das Nações Unidas. Hoje casada e mãe de dois filhos, mora numa pequena cidade do interior levando uma vida voltada para a família.
Crítica
Meu Nome é Jacque. Na verdade, Jacqueline Rocha Côrtes. Mas poderia ser Angela, Luís, Julia, Tiago, Maicon, Renato, Célia, Fernando, Marcelo, Tomás, Damião ou qualquer outro. Afinal, o que o documentário Meu Nome é Jacque mostra é a vida de uma pessoa igual a tantas outras, mas única no seu jeito e forma de ser. E é justamente por essa universalidade compartilhada com individualismo que tal obra se torna tão pertinente. Não pelo formato, estrutura ou conjunto técnico. Mas, acima de tudo, pela mensagem que carrega. É apenas um filme, mas poderiam ser muitos. E reconhecer essa verdade é seu maior mérito.
Angela Zoé foi produtora de Betinho: A Esperança Equilibrista (2015) e é uma das responsáveis pela Documenta Filmes, produtora focada no cinema documental. Como é de praxe, o profissional focado nessa área está sempre atrás de boas histórias e, talvez ainda mais, de personagens cujas trajetórias contenham múltiplas possibilidades. Jacque é tudo isso e mais um pouco. Vinda de família humilde, nasceu como membro do sexo masculino, mas nunca conseguiu se ver como tal. Sua mente lhe tratava no feminino, e aos poucos foi assim que começou a se ver. Essa realidade foi ganhando cada vez mais espaço, até o momento em que não pode mas conter dentro de si e precisou mostrar ao mundo. O rapaz estava morto, Jacque havia sobrevivido. E tinha muito o que contar.
Não há muita invencionice técnica na condução de Meu Nome é Jacque. Assumindo-se como uma reportagem prolongada, tem estrutura e forma bastante identificada com a narrativa televisiva. São depoimentos, entrevistas com Jacqueline, seu marido e irmãos. Não é um caso a ser estudado. Não temos cientistas, analistas externos, comentaristas ou observadores distanciados. A emoção fala mais forte, e em mais de um momento chega-se às lágrimas – tanto ela como aqueles que vivenciaram ao seu lado o que está sendo exposto, como um dos irmãos ou a irmã adotiva. São experiências de vida muito íntimas, sendo abertas ao mundo. É preciso muita coragem para tanto. E, acima de tudo, é necessário reconhecer este esforço.
Jacque sofreu, se desiludiu, bateu a cabeça mais de uma vez. Pensou ter perdido tudo, desistiu da luta, mas terminou por levantar de novo e seguir em frente. Deixou a masculinidade para trás, fez tudo ao seu alcance e hoje é mulher. Se tornou ativista, virou exemplo, defendeu quem não tinha como. Se descobriu com HIV +, precisou se reinventar para não morrer. Gay, homem, fêmea, ser humano: foi de tudo um pouco, mas sempre refutando rótulos. Hoje é Jacque, casada, feliz, com dois filhos, a família por perto, dona do seu nariz e merecedora do respeito alheio. Fez por onde. E aqui mostra como, ilustrando cada um destes passos com sua própria voz. Não esconde, ou se assim o faz, é eficiente neste disfarce. Parece não deixar espaço para as pequenezas da vida, para as feridas, para as dores que já se foram. Caminha sozinha, acompanhada, iluminada. E deixa no caminho uma sombra que não abafa, mas conforta. E com isso diz mais do que todas as suas palavras podem almejar.
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