Crítica
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Sinopse
A cuidadora Katie se envolve numa rede de mentiras e contravenções ao se tornar a única herdeira de um paciente. Para sobreviver, ela sabe que não pode confiar em qualquer um.
Crítica
Depois de ser salva pelo marido que frustrou um assalto em seu antigo trabalho, Katie (Camila Mendes) se torna cuidadora do endinheirado Leonard (Elliott Gould). Mentiras Perigosas passa um bom tempo delineando a relação entre patrão e contratada, com o intuito específico de diminuir a controvérsia das ações que sobrevém à fatalidade. Exatamente porque sabemos da boa vontade dele diante dos problemas financeiros dela, é menos complexa a decisão da protagonista de se apropriar de uma enorme soma de dinheiro assim que o milionário recluso morre repentinamente à noite. É uma pena que o cineasta Michael Scott construa esse caminho afetivo na tentativa de blindar a jovem dos questionamentos morais e éticos. Talvez deixa-la a mercê dessa ambiguidade a tornasse mais instigante como figura humana inserida num emaranhado aparentemente sem fim, feito de reviravoltas costuradas com displicência análoga a do fraco desenho dos personagens.
Depois de ser tratado como herói por livrar a esposa, Adam (Jessie T. Usher) passa por uma transformação repentina. Deixa de ser o estudioso, atolado em dívidas, mas batalhador, para virar uma peça gananciosa. A ideia de Mentiras Perigosas é fazer com que não tenhamos absoluta certeza quanto às suas motivações. Assim como Katie, duvidamos do caráter do sujeito. Isso é engatilhado pela maneira como a câmera sublinha olhares desejosos ao carro do novo patrão e os comentários supostamente recheados de segundas intenções, algo que se intensifica tão logo um infortúnio acabe determinando a sorte do casal. Todavia, para que fossem densos os dilemas mencionados por ambos diante da possibilidade de enriquecer sem prejuízos alheios, era preciso que as personalidades deles fossem minimamente apresentadas. Para aumentar essa sensação de displicência, as eventuais discordâncias não ganham lastro suficiente para formatar algo a ser utilizado dramaticamente.
Katie até ensaia protestar diante da praticidade do marido ávido por tirar o pé da lama. Porém, ela rapidamente sucumbe, num processo de tal modo ordinário que não deixa espaço a conjecturas. Aparentemente pouco importa a Michael Scott entender se a protagonista é submissa ao cônjuge ou se apenas segue o fluxo em meio às complicações. De certo ponto em diante, Mentiras Perigosas vira um daqueles exemplares demarcados por reviravoltas desajeitadas, em meio às quais pessoas inicialmente confiáveis demonstram suas verdadeiras naturezas mesquinhas. Há um exagero na quantidade de infortúnios atrelados à decisão do casal de gozar da herança. É aos solavancos que os novos moradores descobrem segredos enterrados na mansão, propriedade alvo de um corretor de imóveis para lá de bizarro. O filme não consegue entrelaçar organicamente esses indícios gradativamente desvelados com os impasses pessoais em voga.
Mentiras Perigosas poderia ser um longa-metragem sobre o peso de escolhas teoricamente inocentes. Afinal de contas, que mal há em ficar com o dinheiro do falecido sem família para reclamar? A inclinação moralista aparece no jeito como Michael Scott formula as respostas. Isso porque a manutenção da verdade teria poupado os personagens de praticamente todas as dores de cabeça que decorrem de seus vereditos superficialmente coerentes. Entretanto, as questões dispostas no decurso da trama carecem de estofo, sobretudo porque o trânsito pelo labirinto genérico e desinteressante ganha as luzes principais. Assim sendo, temos uma história que vale o quanto pesa o seu teor de suspense – o que é pouco –, a partir disso negligenciando as hesitações e dúvidas que atravessam o comportamento dos personagens. Quanto ao elenco, praticamente todos estão no piloto automático, à exceção do grande Elliott Gould, capaz de sobressair mesmo em seus escassos minutos.
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