Crítica


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Sinopse

Aos 30 anos, Mariano mora na casa de uma cafetina. Ele se apaixona por Guadalupe, prostituta envolvida com Esmeraldo, sujeito que perseguirá o casal durante a tentativa de colocar em prática um plano de fuga.

Crítica

No relicário nacional, a pornochanchada assume espaço de destaque, extrapolando o próprio cinema feito no Brasil. Seja pelo exotismo de seus filmes dentro da cinematografia dos trópicos, seja pela crueza formal, estética e discursiva com que trata certos temas do cotidiano, os títulos cômicos e populares movidos por leve crônica social e exploração pesada do erotismo se mantiveram para o público médio, por muitos anos (pós-ditadura e até a retomada), tanto como sinônimo de cinema brasileiro quanto fundamento cultural. Não por coincidência, Memórias de Um Gigolô propõe de forma premonitória representações da malandragem e do jeitinho brasileiro que, se um dia foram celebrados, hoje configuram uma das raízes da tragédia tupiniquim.

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No Rio de Janeiro hedonista dos anos 1970, urbano, quente e com um pé no vício, o órfão cuja protetora idosa acaba de morrer passa a ser criado pela dona de um bordel. Bendito fruto entre as mulheres, Mariano (Cláudio Cavalcanti) cresce na duvidosa mordomia que a classe média baixa poderia lhe oferecer. Aos poucos, descobre como se dar bem às custas dos outros, aplicando pequenos golpes com a ajuda das meninas que trabalham no prostíbulo. Com o tempo, se torna mestre em vida fácil e no agenciamento de mulheres, conquistando vaga na presidência de uma empresa ao tornar sua namorada, a prostituta Guadalupe (Rossana Ghessa), amante do industrial que coordena o empreendimento.

Exageros do roteiro à parte, o filme de Alberto Pieralisi observa a mulher como moeda de troca entre homens, transitando entre a glamorização e a denúncia deste hábito. Além disso, evidencia algo improvável que, no Brasil do novo milênio, tornou-se trivial: o acesso do sujeito ardiloso e teoricamente incapaz aos mais importantes postos da nação – no caso, um alto cargo na iniciativa privada. Assim, o longa observa a ascensão social do malandro, figura que vem trilhando seu caminho mais claramente desde o início do século XX e que, a partir dos anos 1970, passa a protagonizar um constante esquema de assalto ao Estado ao ocupar as mais diversas zonas de influência. Não fosse essa prática lesiva, não veríamos seguidas gerações de empresários desonestos se aliando a políticos corruptos para sequestrar o bem público repetidamente.

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Ainda que no passado Memórias de Um Gigolô tenha vislumbrado o pesadelo sociopolítico atual, mérito do escritor Marcos Rey, e mesmo que o filme se coloque à frente da nossa brazuca exploitation, o longa de Pieralisi sofre com sequencias frouxas e amadorismo na captação de imagens, demonstrando deficiência técnica e estética na direção de fotografia, problema que dificilmente seria resolvido pela montagem. Com atuações fracas e direção executiva que peca pela omissão, o clássico da pornochanchada diz muito sobre o Brasil mesmo não sendo da melhor forma audiovisual possível.

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é jornalista, doutorando em Comunicação e Informação. Pesquisador de cinema, semiótica da cultura e imaginário antropológico, atuou no Grupo RBS, no Portal Terra e na Editora Abril. É integrante da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul.
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