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Sinopse

A falta de representatividade de atores e atrizes com deficiência nas produções para cinema e televisão. Artistas selecionados trabalharão em uma filmagem de uma história de faroeste - tentando enteder o porquê de não haver mais oportunidades para portadores de necessidades especiais nas telas.

Crítica

Expressão cultural das mais potentes, o cinema é também instrumento próprio à integração social nos mais diversos níveis, funcionando como tecido conjuntivo para sujeitos que tanto produzem quanto apreciam a sétima arte. Becoming Bulletproof expõe essa qualidade do segmento audiovisual em um sentido ainda mais impactante ao registrar o processo de acolhimento de pessoas com necessidades especiais por parte de uma equipe de realizadores interessada em reunir talentos mantidos à margem do mercado cinematográfico nos Estados Unidos.

O filme de Michael Barnett documenta as atividades do coletivo Zeno Mountain Farm, coordenado desde 2008 pelos irmãos Will e Peter Halby, na última empreitada fílmica da dupla. Com quase uma década de atividades, o grupo já lançou filmes de gêneros tão diversos quanto ficção científica, drama e terror, sempre com elencos formados por sujeitos com paralisia cerebral, Síndrome de Down ou Síndrome de Williams.

O último projeto da Zeno é considerado pelos Halby como o filme mais bem acabado da produtora. O faroeste Bulletproof, curta-metragem sobre as mudanças provocadas em um vilarejo após a chegada de um destemido forasteiro, é justamente o filme dentro do filme de Barnett. Rodado em uma pequena cidade desértica na Califórnia com elenco misto, no qual integrantes da equipe técnica fazem pequenas participações especiais, Bulletproof reúne em sua linha de frente somente atores em condição especial de desenvolvimento físico ou mental. É registrando a história da realização do curta dirigido por Will e Peter que Barnett aponta as muitas dificuldades e alegrias de uma equipe imersa nessa ação integradora.

Independentemente dos resultados obtidos na telona, o documentário de Barnett demonstra o quanto o processo de inclusão sociocultural é muito mais importante do que a obra audiovisual em si – ainda que a alta qualidade técnica e artística da produção seja a meta de todos. Assim, o longa indica como o ato de acolhimento se dá sob diversas formas, desde a seleção de futuros atores especiais, passando pelos cuidados pessoais que cada um deles recebe dos integrantes da Zeno durante as filmagens até chegar ao momento da estreia do filme para familiares e amigos em um evento fortemente marcado pela emoção coletiva. Nesse intenso percurso, outro objetivo da produtora sobressai: instrumentalizar o elenco na tentativa de tornar real o sonho de cada em se tornar ator profissional.


Se esse desejo pela atuação como ofício é comum a todos, a vontade dos integrantes do grupo em superar seus desafios é também inerente a eles. Para ilustrar essa aspiração, Barnett, com apoio de Will e Peter, obtém depoimentos contundentes capazes de esclarecer o quanto são lúcidos e energéticos esses atores especiais. Com seu longa, o documentarista amplifica o intuito inicial da Zeno de compartilhar talentos inesperados por meio da aventura criativa proporcionada pelo cinema.

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é jornalista, doutorando em Comunicação e Informação. Pesquisador de cinema, semiótica da cultura e imaginário antropológico, atuou no Grupo RBS, no Portal Terra e na Editora Abril. É integrante da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul.
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