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Sinopse

Trajetória do lider estudantil Marcos Medeiros, mostrando seu exílio na França e Cuba. Em 1968, aderiu à contracultura quando a militância política se tornou expressão audiovisual de intervenção na realidade social.

Crítica

Há três âmbitos de discurso utilizados pelo cineasta Vicente Duque Estrada à construção de Marcos Medeiros: Codinome Vampiro. Primeiro, o oriundo dos depoimentos de contemporâneos do jovem e proeminente líder estudantil que afrontou a Ditadura Civil-Militar brasileira. Segundo, o do próprio Marcos, que surge na voz inflamada de um narrador que o interpreta. E, terceiro, o do exército brasileiro, acessado por meio dos ofícios do Ministério da Aeronáutica e do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), entidades que monitoravam as atividades “subversivas” do personagem.  Tal entrecruzamento visa a observação mais complexa de uma figura pouco debatida atualmente, intento totalmente alcançado apenas em alguns momentos bastante pontuais. A irregularidade determina a fragilidade da constituição cinematográfica, cujas boas intenções também passam pela trilha sonora originalmente produzida por Victor Biglione e Roberto Alemão, acompanhamento que somente emoldura, não produzindo tanto efeito.

A verdadeira linha-mestra de Marcos Medeiros: Codinome Vampiro é a cronologia, para além da vontade de reconstituir cinematograficamente Marcos ou de revelar as nuances do período em que ele foi destacado agente. O realizador lança mão de uma série de materiais de arquivo, que vão desde documentos oficiais até trechos de longas-metragens, inclusive alguns que dão conta da atividade do protagonista como diretor após o retorno do exílio francês. Há manipulação no sentido de acentuar o desgaste das imagens. Ampliam-se, artificialmente, ranhuras na película e outras marcas naturais, procedimento para denotar os fragmentos como registros de um passado, mais precisamente, enlevando-os enquanto testemunhos históricos. No que tange à filmagem dos entrevistados, existe um desleixo da fotografia, do que decorre a sensação incômoda de amadorismo que compromete a riqueza das falas. Mas, o maior problema do filme é realmente o desequilíbrio que ocasionalmente retira Marcos do centro.

Marcos Medeiros: Codinome Vampiro quer ser, concomitantemente, o retrato de uma singularidade e o resgate de um período, das lutas encampadas pelos estudantes contra o autoritarismo nesses chamados Anos de Chumbo. Embora consiga lançar luz sobre Marcos, numa operação absolutamente louvável, Vicente Duque Estrada demonstra dificuldade para estreitar o foco e otimizar os veios temáticos que gradativamente abre. Perdido entre as dimensões macro e micro, alinhava sem muita inventividade os excertos oriundos de fontes e texturas diversas, incorrendo na concepção de um tecido narrativo estranhamente convencional. Mesmo assim, contribuições como as de Cid Benjamin, Vladimir Palmeira, Maria Lucia Dahl e Heloisa Buarque de Hollanda, para citar apenas três antigos companheiros de Marcos, se encarregam de oferecer um contexto satisfatoriamente rico para entendermos não apenas os fatos, mas, e principalmente, o espírito daquelas pessoas dispostas à revolução.

Aparentemente feito com poucos recursos financeiros, Marcos Medeiros: Codinome Vampiro consegue minimizar os efeitos dessas restrições orçamentárias ao se apropriar formalmente da inclinação libertária de Marcos, sobretudo no aproveitamento das produções em VHS dele. Todavia, o documentário se coloca excessivamente refém da agudeza e perspicácia das vozes que resgatam o protagonista do limbo da História, não apresentando uma linguagem criativa o suficiente para exceder a esfera puramente informativa. É permitida pouca proximidade com a personalidade do rapaz chamativo nos comícios por sua beleza, bem como pela paixão na defesa de seus ideais ideológicos, nem que para isso fosse necessário arriscar a integridade física, algo que gerava admiração geral. A colaboração com os cineastas Chris Marker e Glauber Rocha passa na telona como um apêndice, encarada sem maior afinco, sendo um sintoma do flagrante e venoso impasse entre o homem e seu equivalente simbólico.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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