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Sinopse

Duas garotinhas desaparecem na floresta no dia em que seus pais são assassinados. Quando são resgatadas alguns anos depois e começam uma nova vida, elas descobrem que alguém ou algo ainda quer colocá-las para dormir à noite.

Crítica

O novo filme da onipresente Jessica Chastain tem estampado em seu cartaz principal os dizeres “apresentado por Guillermo Del Toro, criador de O Labirinto de Fauno (2006)”. Muito mais do que uma reles jogada de marketing, percebe-se realmente que Mama tem diversos pontos em comum com a genial obra de 2006: a infância perdida, o amadurecimento precoce, o sobrenatural e a fantasia como formas de lidar com a realidade. E é nesta mesma linha que o novato Andrés Muschietti, em seu primeiro longa-metragem, acabou sendo premiado como melhor filme, direção e atriz na 33ª edição do Fantasporto, festival de cinema fantástico de Portugal.

Mama já tinha sido tema do mesmo diretor para um curta homônimo de 2008. Em seus minutos iniciais, o longa-metragem mostra como o pai de duas meninas, perturbado pela crise financeira dos EUA, aparentemente mata a esposa e leva as filhas para uma cabana em uma floresta, onde pretende tirar a vida delas e a própria. Isto até ser interrompido por uma entidade. Anos mais tarde, Lucas (Nikolaj Coster-Waldau), o irmão-gêmeo do pai, continua as buscas pelas sobrinhas, que seguem infrutíferas. Ao seu lado está a namorada roqueira Annabel (Chastain, belíssima em uma versão morena de cabelo curto). As crianças, no entanto, acabam sendo encontradas em um estado quase animalesco e levadas para uma casa especial do conselho tutelar, onde Lucas e Annabel vão aprender a cuidar das meninas e tentar leva-las à normalidade. Mas parece que mais algo ou alguém foi junto para o local.

Apesar da premissa de mais um filme de terror com mães e crianças lidando com o sobrenatural (coloque O Chamado, 2002, Água Negra, 2005, A Orfã, 2009, entre outros títulos desta safra), Mama consegue se diferenciar por dar menos atenção aos sustos e se focar mais na relação da personagem de Chastain com as meninas. Já na primeira cena em que Annabel aparece já sabemos que ela não pretende ter filhos tão cedo. Afinal, ela praticamente dá pulos de alegria quando seu teste de gravidez se apresenta negativo. Mas é justamente a partir do momento em que se vê obrigada a conviver sozinha com as duas problemáticas crianças (por conta de um “acidente” com Lucas), que seu instinto materno começa a surgir, fazendo-a lidar de frente com a então Mama do título, que pode ser fruto da fantasia das meninas ou algo mais.

Com uma direção contida, Muschietti apenas peca pelo excesso de lentidão na narrativa. Esta análise psicológica de seus personagens principais acabe prejudicando um pouco o terror, os sustos, afugentando do cinema quem procura por uma diversão mais fácil e recheada de gritos e correrias. Porém, esta mesma lentidão se apresenta positiva por não apressar o andamento da trama, assim como não prejudica a construção do complexo relacionamento que Annabel cria com Victoria e Lilly. É sob este aspecto que a atuação de Chastain se destaca, comprovando porque ela é uma das atrizes mais requisitadas atualmente, entregando uma performance delicada, sutil, que revela a personalidade da protagonista aos poucos, sem nunca mudar sua essência.

Com certeza, Mama não é um dos melhores filmes de terror dos últimos tempos, porém eleva suas qualidades ao tentar fugir um pouco dos sustos irrelevantes e se focar na relação de uma mulher com seus protegidos. A narrativa ganha ainda mais pontos pelo seu final corajoso e que foge dos clichês usuais. O público norte-americano comprou a ideia e fez deste um grande sucesso de bilheteria. Até a metade de março foram mais de 70 milhões de dólares arrecadados, quase cinco vezes seu orçamento. Será que os brasileiros também irão aderir à essa proposta? Mal não faria. E se continuar neste estilo, Andrés Muschietti será um diretor que deve ser levado em consideração nos próximos anos.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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