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Crítica

A semelhança entre as tramas de O Apartamento (2016), de Asghar Farhadi, e de Maat não é mera coincidência. A habitação é um assunto caro aos iranianos nos dias atuais. Frutos de várias sanções impostas pelas lideranças norte-americanas e europeias, diversos problemas econômicos afetam o sustento dos cidadãos iranianos e, consequentemente, suas moradias. Para melhorar de vida, famílias migram do campo às grandes cidades do país como, por exemplo, a capital Teerã. Se no filme de Farhadi o que impulsiona parte da narrativa é o “fantasma” da antiga locatária e as dificuldades do casal protagonista para se adequar à nova moradia, em Maat é a instabilidade do mercado imobiliário e seus meandros, repletos de fraudes e corrupções, que colocam frente a frente as vítimas desses golpes, juntamente de suas facetas diversas. Há uma constante busca por sobrevivência e estabilidade econômica.

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Assistimos a uma mulher chegar ao apartamento, arrumá-lo com as poucas coisas que possui e sair. Em seguida, um casal entra no local comentando a compra do imóvel. Começa o estranhamento. Eles encontram os pertences da mulher de antes. Ela logo retorna. Uma confusão se instala. Para completar, ainda chega outro casal, além de um homem e de seu filho, todos alegando que são os reais proprietários do apartamento. A ação constante no pequeno espaço possui um ritmo simples, com diálogos honestos, mas também há muita incomunicabilidade entre os possíveis proprietários. Não há lugar para consensos, isso até o momento em que todos se descobrem vítimas de um golpe. A imobiliária da qual compraram o apartamento já não existe mais.

A direção de Saba Kazemi é marcada, ao mesmo tempo, por uma simples e intensa mise-en-scene, que transcorre num apartamento sem mobílias. O trabalho dos atores, caracterizado pelo ritmo frenético, é frequentemente posto em crise, em virtude dos árduos planos-sequência. Kazemi só suaviza sua narrativa com a presença de alguns raccords, a transição que busca ser imperceptível para o espectador, com o objetivo de demonstrar que a ação é praticamente ininterrupta, como se houvesse um plano longo e em tempo “real”. Da soma do complô crescente entre os personagens com os mencionados efeitos da montagem resulta uma estética similar à de Festim Diabólico (1948), de Alfred Hitchcock.

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Superior ao filme de Farhadi, Maat é simples, sem grandes recursos narrativos e nem aspirações a uma complexidade desnecessária. É econômico nas escolhas e até mesmo pseudo-documental no retrato das dificuldades dos iranianos para encontrar uma moradia digna, inserida em preceitos honestos. Os sacos de dinheiro que os personagens acabam encontrando escondidos no apartamento, ao que tudo indica, são dos criminosos que fugiram. A decisão das vítimas do golpe, de dividir entre si o montante, é um exemplo da corrupção presente numa sociedade que prima por resolver as coisas longe dos olhares da justiça. O ato também reflete as dificuldades pelas quais parte da população do Irã acaba passando.

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é graduado em Cinema e Animação pela Universidade Federal de Pelotas (RS) e mestrando em Estudos de Arte pela Universidade do Porto, em Portugal.
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