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Sinopse

Experimentando o amargor do ocaso, um comediante outrora muito famoso tenta ajudar uma jovem bailarina a voltar a dançar e recuperar a confiança.

Crítica

Luzes da Ribalta foi concebido por Charles Chaplin como seu último longa-metragem. O roteiro (e seu desfecho) não deixa muito espaço para dúvidas quanto a isso. O artista estava perdendo audiência e a melancolia capturada nesta realização seria, em sua visão, um réquiem adequado. Esse senso de fechamento pareceu ainda maior quando, ao retornar de sua excursão com o filme pelo exterior, Chaplin teve seu visto de entrada nos Estados Unidos recusado. Suas “ideias comunistas”, que há tempos o haviam colocado na mira do FBI e de setores conservadores do país, foram tidas como razões para negarem sua estada nos EUA. Com isso, Luzes da Ribalta teve uma bilheteria pífia na América, com o boicote que seguiu à sua praticamente expulsão do país. Quem, à época, se deixou levar pelas polêmicas perdeu uma das melhores obras sonoras de Chaplin. Um filme agridoce, de temática séria, que tem na ternura entre os dois protagonistas seus maiores predicados.

A trama, assinada pelo cineasta, é ambientada em Londres, em 1914. Lá, Chaplin vive o liquidado palhaço Calvero, humorista de grande sucesso no passado, mas que deixou seus melhores dias para trás. Com problemas com a bebida, Calvero sonha em voltar aos palcos e conquistar o riso da plateia como antes. Certo dia, chegando no prédio onde mora, Calvero salva uma vizinha que tentava o suicídio. Ela é a dançarina Terry Ambrose (Claire Bloom), mulher que sente pânico de se apresentar e, por isso, sem sua arte, resolve deixar o mundo de vez. Calvero a acolhe em seu apartamento e a ajuda a se recuperar – ao mesmo tempo, reabilitando a si mesmo. Um romance surge entre os dois, apesar da diferença de idade inegável. Eis que aparece a chance dos dois voltarem aos palcos juntos, num mesmo espetáculo. Mas a distância entre o talento promissor daquela jovem e a veia de humor vacilante daquele velho palhaço pode causar rupturas incontestáveis.

Visto como um tanto autobiográfico, Luzes da Ribalta é Charles Chaplin sendo bastante duro consigo. Por mais que o artista tenha perdido espaço entre as décadas de 1940 e 1950, a forma como ele retrata esse declínio no longa é deveras pesada. Em dado momento, Calvero quase perde o papel na peça de teatro em que trabalha, até que descobrem que ele é o velho astro do passado. Chaplin viveria de sua fama pretérita, segundo este discurso, o que estava muito longe da verdade. Algumas fontes consideram Calvero um retrato do pai do artista, misturado à experiência de entertainer do próprio filho. De qualquer forma, é curioso observar que Chaplin tenha escalado para viver seu “rival” em um triângulo amoroso o seu rebento Sydney Earl Chaplin. É o novo dando lugar ao velho, sem sombra de dúvidas.

Apesar de ser um pouco mais longo do que precisava, Luzes da Ribalta é um drama com pitadas de humor de real peso, que consegue desenvolver seus protagonistas de forma intensa e transmitir uma ternura totalmente condizente com os trabalhos de Chaplin. Este filme acabou famoso também por ser a única reunião na tela entre Buster Keaton e Charles Chaplin, dois mestres do cinema mudo, tidos como rivais por muito tempo. A cena final, que dividem, é memorável e seria um réquiem perfeito para a carreira de ambos. Chaplin ainda viria a dirigir mais dois longas antes do fim de sua vida. Curiosamente, Luzes da Ribalta venceu o Oscar de Melhor Trilha Sonora vinte e um anos depois de seu lançamento, por ter estreado em Los Angeles apenas em 1972. Chaplin, que já havia recebido o Oscar honorário e aceito o pedido de desculpas de Hollywood, se viu vencendo em uma categoria competitiva pela primeira vez. Um prêmio merecido, mas pouco se formos contar toda a contribuição que ele já havia dado ao cinema.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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