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Sinopse

Na década de 1960, surge um grupo de justiceiros que combatem crimes à margem da lei. Batizada de Esquadrão da Morte, a organização nasceu em um contexto onde vários bandidos se tornaram famosos. Entre estes, esteve Lúcio Flávio, um conhecido ladrão de bancos no Rio de Janeiro. Após ser preso algumas vezes, Lúcio Flávio deixou a capital carioca e foi para Belo Horizonte, com o objetivo de mudar de vida, no entanto, seu destino já estava traçado.

Crítica

Hector Babenco tem uma conhecida preferência por personagens marginalizados, que desafiam as estruturas do status quo e, não raro, pagam preço caro por esta libertária condição. Em seu segundo longa-metragem de ficção, o cineasta já mostrava esta predileção com Lúcio Flávio: O Passageiro da Agonia, produção vencedora de quatro Kikitos no Festival de Gramado em 1978, além de ter sido apontado o melhor filme pelo público da Mostra Internacional de São Paulo, um ano antes.

Na trama, assinada por Babenco ao lado de Jorge Durán e José Louzeiro, conhecemos o criminoso Lúcio Flávio (Reginaldo Faria), sujeito que vive na corda bamba, assaltando aqui e ali, com um sonho praticamente inalcançável de se dar bem na vida. No seu caminho, uma polícia tão corrupta quanto a bandidagem, que faz acordos escusos para levar algum lucro em qualquer empreitada. Neste contexto em que o Esquadrão da Morte, parte da polícia que eliminava criminosos sem prestar contas, começou suas operações, Lúcio Flávio foi uma das vozes que colocou o jogo sujo dos homens da lei nos jornais.

Se nesta sinopse Lúcio Flávio surge como uma figura heroica, não é mero engano. Babenco, inclusive, foi bastante criticado por colocar em luz tão branda um homem que assaltava bancos - e dizia que só matava quando alternativa lhe faltava. É verdade que, na tentativa de mostrar a desonestidade da polícia do início da década de 1970, o diretor coloca um famoso bandido como herói. Mas não livra completamente a barra do protagonista. Podemos acompanhá-lo em sua jornada, mas temos consciência do que ele faz e dos erros de seus caminhos. Fosse lançado nos dias de hoje, Lúcio Flávio: O Passageiro da Agonia receberia o mesmo número de críticas que Tropa de Elite (2007) recebeu pelo pretenso fascismo, ou a mesma batelada de vozes contrárias a outro trabalho de Babenco, Carandiru (2003), pelo papel abrandado dos encarcerados. Tentar enxergar o lado do outro, afinal de contas, é uma marca do cinema de Hector Babenco.

Reginaldo Faria carrega bem o filme como protagonista e tem um elenco de apoio de luxo, com nomes como Milton Gonçalves, Ivan Cândido, Paulo César Peréio e Grande Otelo dando performances à altura de uma trama policial instigante, ainda que ela apresente barrigas desnecessárias. Toda a subtrama envolvendo a personagem de Lady Francisco é descartável, de fácil solução com apenas duas ou três linhas no roteiro, isso caso se achasse realmente imprescindível informar ao espectador o envolvimento dela com outro personagem.

Para uma produção de 1977, chama a atenção algumas boas cenas com som direto e outras com dublagem bem executada, não destoando do restante do filme. Um dos grandes problemas do cinema nacional da época era a precária mixagem de som, bem resolvida neste longa. As cenas de ação também tem apuro técnico e chamam a atenção.

Com inflados 118 minutos de duração, Lúcio Flávio: O Passageiro da Agonia abusa um tanto por se estender, mas tem momentos interessantes que conseguem segurar a atenção do espectador. As cenas oníricas, sangrentas, dão um bom molho especial em uma trama policial urbana que retrata um período conturbado da história do nosso Brasil. Pode ter envelhecido mal no todo, mas tem predicados que justificam uma olhada com maior atenção.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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