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Sinopse

Depois do ataque ao jornal Charlie Hebdo em Paris, Ivan, o filho de um importante jornalista argentino, embarca em uma jornada, perseguindo diferentes eventos e conflitos geopolíticos ao redor do mundo. No entanto, encontrar os acontecimentos na linha de frente é uma tarefa árdua. E ainda mais difícil do que se tornar um correspondente de guerra é marcar as fronteiras entre sua vida e o egocentrismo que o guia, além dos debates com seu pai e os conflitos globais da atualidade.

Crítica

Não demora muito para que a abertura a um tipo de farsa calculada se apresente em Los Territorios, estreia na direção do produtor argentino Iván Granovsky. Quando, numa determinada passagem, este trata do desejo antigo de realizar um documentário a respeito do cotidiano dos peshmergas – designação dada aos combatentes do exército curdo – as imagens que acompanham o relato – homens e mulheres, devidamente fardados, preparando sua refeição numa espécie de acampamento em meio a uma paisagem desértica e rochosa – vêm marcadas pela legenda “Bardarash - Curdistão Iraquiano”. Instantes depois, porém, Granovsky revela que tais filmagens, na verdade, foram feitas na cidade argentina de Mendoza e, por não suportar tal mentira, pede para que seja morto. Uma sequência simbólica, que ilustra bem a linha cômica entre realidade e ficção na qual o longa opera.

Essa abordagem abertamente paródica se impõe sobre duas esferas temáticas: uma mais abrangente, tratando do ofício jornalístico, com especial foco nos correspondentes de guerra, e outra de cunho particular, a jornada pessoal e as relações – familiares, de amizade e amorosas – do diretor. O ponto de partida da obra une as duas linhas, com Iván iniciando a projeção descrevendo a influência exercida pelo pai, Martín Granovsky, respeitado jornalista argentino, bem como expondo seu interesse pelos conflitos geopolíticos, sua inaptidão para se tornar historiador e seus projetos inacabados, como um documentário sobre o ETA. A ânsia por finalmente realizar o primeiro filme, carregada de todos os elementos citados, leva Granovsky a viajar pelo mundo à procura das “linhas de frente”: no País Basco, na fronteira Israel/Palestina e em outros territórios, como Alemanha, Portugal e França – onde desembarca apenas alguns meses após o atentado à redação do jornal Charlie Hebdo.

Também compondo a narrativa, temos registros de viagens feitas pelo diretor acompanhando o pai numa série de entrevistas com líderes políticos sul-americanos, incluindo o ex-presidente do Brasil Lula. Para costurar esse diversificado material, Granovsky se vale de artifícios narrativos e visuais, quase sempre para fins de comicidade, como as notas de rodapé, informações e dados estatísticos na tela, as imagens das bandeiras que ilustram o jogo no qual tenta adivinhar as capitais dos mais diferentes países ou as mensagens trocadas com amigos e familiares – com destaque para as divertidas cobranças feitas pela mãe, principal financiadora da empreitada do filho. Tudo isso acaba servindo a um propósito de autodepreciação da figura do cineasta, que surge como alguém passivo, individualista e cujo discurso se mostra em dissonância com suas atitudes. Alguém que almeja estar na linha de frente no exterior, mas permanece distante da realidade do próprio país – admitindo, por exemplo, nunca ter estado antes em uma favela argentina.

Quando, de fato, se encontra cara a cara com os confrontos, Granovsky se mantém paralisado, desnorteado, no que pode ser visto como uma alegoria crítica a grande parcela da cobertura jornalística, e mesmo da produção do cinema documental, em que, muitas vezes, as aparências de entendimento são mantidas sem que haja uma compreensão real dos fatos por parte de quem os relata. Essa crítica também pode ser estendida àqueles que ostentam uma postura de engajamento político/social, mas que não se dispõem a lutar verdadeiramente por tais ideais, caso do próprio Granovsky. Existe um fator de interesse na ironia desses comentários, bem como no aspecto estético do longa – o diretor de fotografia Tebbe Schöningh compõe belos quadros com as paisagens dos territórios explorados – ou ainda em sua capacidade para provocar risos, como através da série de pseudo-relacionamentos amorosos fracassados de Granovsky com as mulheres que cruzam seu caminho – a atriz portuguesa, a jornalista francesa etc.

Contudo, a fórmula de ecos metalinguísticos de Los Territorios se esgota precocemente, revelando um estudo investigativo e reflexivo frágil acerca dos contextos sociopolíticos retratados, restrito a fragmentos de entrevistas que, ainda que por vezes tragam alguma substância, de modo geral, acabam diluídos dentro de uma proposta que não define um direcionamento. Dentro desse jogo de aparências, entre o real e o encenado, o potencial crítico e satírico é abafado, pois a artificialidade predomina, negativamente, até mesmo sobre os momentos em que tenta se dedicar mais seriamente à análise dos fatos – como no terceiro ato focado na situação Israel/Palestina. Assim, por mais que busque validar suas escolhas abraçando a mencionada autodepreciação, o trabalho de Granovsky não deixa de soar como um exercício egocêntrico, emanando justamente a frivolidade que se supõe querer combater pelas vias do deboche.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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Leonardo Ribeiro
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Edu Fernandes
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MÉDIA
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