Crítica


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Sinopse

Morador de Bogotá, Lucas conhece numa festa a bela Lina, prima de sua chefe que está na cidade para obter o visto. Mais tarde, ele viaja a Medellin para conquistá-la, mas vai precisar encarar a família da moça primeiro.

Crítica

Lina (Laura Londoño) tem um projeto a curto prazo. Moradora da cidade colombiana de Medellín, vai para a capital Bogotá a fim de tirar o visto necessário à futura temporada de estudos em Nova Iorque. Protagonista de Louco Por Ela, ela enfrenta a resistência do pai que a prefere por perto, cuidando do restaurante da família. Mas essa trajetória de convencimento do genitor turrão acaba absolutamente diluída na história de amor que o cineasta Felipe Martínez Amador engatilha a partir de um fortuito envolvimento sexual. Lucas (Roberto Urbina) fica completamente apaixonado após passar a noite com a interiorana, experimentando todos os estágios com os quais nos habituamos em várias comédias românticas similares. Tomado pela lembrança que aparentemente mudou sua vida, ele vai fazer das tripas coração para conquistar a semidesconhecida. Então, o filme começa a privilegiar a perspectiva masculina, assim centralizando a missão de convencer a pretendida.

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Louco Por Ela começa a degringolar ao deslocar o protagonismo. A demanda de Lina perde espaço com as investidas de Lucas. Ele decide desembarcar na cidade dela para o cortejo repentino. Nesse ponto, a trama sinaliza algo potencialmente perigoso e que passa a ser uma constante. O elogio à persistência do rapaz fica bem próximo de se transformar numa celebração da sua incapacidade de respeitar as decisões da escolhida para ser sua namorada. O homem faz ouvido de mercador às negativas da jovem aparentemente focada em seu plano profissional imediato nos Estados Unidos. A personagem de Laura Londoño diz repetidas vezes que não se interessa por relacionamentos, pedindo-lhe que vá embora, mas as coisas acabam se ajustando forçosamente à permanência do forasteiro. Também em virtude do desempenho regular de Roberto Urbina, é difícil “comprar” como arrebatador o sentimento que faz o bogotano cometer desatinos e impropérios.

Num momento de discussões sociais sobre a potência do “não” feminino, Louco Por Ela acaba alimentando a ideia canhestra do “vencida pelo cansaço”. Em pouquíssimos instantes Lina dá espaço para que Lucas entenda como viável todo esse esforço desproporcional. No que tange à parte supostamente engraçada da comédia romântica, ela se restringe às piadas envolvendo o preconceito do pai da protagonista com os nascidos em Bogotá. Além disso, assumindo o ponto de vista do bogotano, o filme se demora demasiadamente no desenho dos naturais de Medellín como provincianos grosseirões, desse modo incorrendo acintosamente num estereótipo comumente associado aos oriundos de locais interioranos. Rapidamente o repertório de comparações jocosas se esgota. O filme, insistindo na deflagração das diferenças baseadas em lugares-comuns, insiste em repetir-se. A cereja desse bolo são os coadjuvantes que funcionam como meros adereços sem vida.

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Especialmente por conta da inexpressividade desse amor que nunca soa arrebatador, as fragilidades narrativas ficam muito mais evidentes. Felipe Martínez Amador diminui gradativamente a importância da emancipação como forma de atingir plenitude individual. Além de Lina, resolvida a migrar aos Estados Unidos para realizar seu sonho de virar design de moda, a prima que esconde em Medellín sua homossexualidade poderia ser uma peça importante ao desenvolvimento dessa questão. Mas, o filme acaba deixando esses meandros de lado em função de um amor obsessivo nem sempre lido como correspondido. Quando finalmente parece recuar no seu intento de estabelecer o romance como via incontornável, mesmo a quem possui outras prioridades, o cineasta “avança” algumas casas e oferece um clímax convencionalmente conciliatório. No fim das contas, o desejo do homem é satisfeito, ainda que ao custo barato de uma mudança basicamente geográfica, enquanto o da mulher precisa se reconfigurar de um modo bem mais profundo. Parecem preços desiguais para gerar um casal “feliz”.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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