Crítica
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Sinopse
Passaram-se anos desde que o homem conhecido como Tarzan deixou as selvas da África para trás para levar uma vida burguesa como John Clayton III, Lord Greystoke, com sua amada esposa, ao seu lado. Agora, foi convidado a voltar ao Congo para servir como um emissário do Parlamento, sem saber que na verdade está sendo usado em uma ação de ganância e vingança, organizada pelo Capitão belga Leon Rom.
Crítica
Se há um esforço genuíno em A Lenda de Tarzan, visível em cada segundo da projeção, é a vontade de se apresentar como um épico. Das cenas iniciais, que mostram cenas aéreas de uma África ainda pronta para ser desbravada, até a narração imponente que apresenta os personagens, tudo é pretensamente grandioso, ostensivo, exagerado. Infelizmente, essa opulência não encontra ressonância na trama a ser desenvolvida e nem nos talentos envolvidos, todos aquém do prometido. Ainda que seja uma das figuras mais frequentes na tela grande – ao lado de Sherlock Holmes e do Conde Drácula – não há dúvidas de que ainda não foi dessa vez que a criação de Edgar Rice Burroughs ganhou sua versão definitiva.
A obra do autor norte-americano (responsável também pelo frustrante John Carter: Entre Dois Mundos, 2012) foi levada para o cinema pela primeira vez em Tarzan dos Macacos (1918). Desde então, já foram mais de setenta adaptações diferentes, entre cinema e televisão. E para cada Greystoke: A Lenda de Tarzan (1984), com Christopher Lambert, e Tarzan (1999), a animação da Disney, surgem absurdos como As Aventuras de Tarzan em Nova York (1989) ou bobagens descartáveis como Tarzan: A Evolução da Lenda (2013). Pois esse A Lenda de Tarzan, além de se encaixar perfeitamente nesta última descrição, ainda incorre no erro de se mostrar leviano e superficial, indo contra a tendência atual que busca o naturalismo e a realidade para se posicionar como uma alternativa fantasiosa e empolada, em que tudo é tão artificial que fica difícil ser levado à sério, do físico exagerado do protagonista aos cenários digitais calculados até no último detalhe.
Os problemas, aliás, já começam no título: esta versão dirigida por David Yates – em seu primeiro trabalho fora da série Harry Potter – não está disposta, ao contrário do que se imagina, a contar a lendária história do menino abandonado em plena selva e criado por macacos que, já adulto, é descoberto por aventureiros e levado para cidade, apenas para perceberem que se trata do herdeiro de uma enorme fortuna. Todos estes eventos, aliás, se dão antes dos episódios aqui narrados. Quando nos deparamos pela primeira vez com Tarzan – ou, como ele agora prefere ser chamado, John Clayton – ele é um lorde inglês que está sendo cortejado pela coroa belga para voltar à África como sinal de simpatia ao rei e aos seus investimentos na região. A verdade, porém, é outra: ele está sendo enganado, envolvido em um plano que planeja entregá-lo de bandeja a um líder tribal em busca de vingança. O motivo? O guerreiro selvagem ainda chora a morte do filho, vitimado pelas mãos do próprio homem branco. Sim, nosso herói é um assassino de crianças.
Não bastando essa ‘falha de caráter’, Tarzan é ainda um tolo ingênuo, facilmente manipulado pela esposa, Jane (que não entende os perigos envolvidos na expedição e se impõe como companheira), e pelo mercenário Leon Rom, que está em busca dos diamantes prometidos pelo índio ressentido. Temos, portanto, uma nova aventura, quase como que uma sequência daquela há muito propagada. Só que esta é fraca de motivações e desdobramentos. O vilão quer riqueza e poder, disposto a eliminar qualquer um que se coloque no seu caminho. A mocinha é indefesa, servindo apenas para se colocar em situações de risco e clamar por socorro. E o galã é um brutamontes monossilábico que tudo pode e alcança, como se nada lhe fosse difícil. É praticamente um super-herói, sem falhas ou pontos fracos. É mais forte que o Superman, desvia de balas como Neo e balança em cipós melhor que o Homem-Aranha e suas teias. E como se sabe, quando tudo é muito fácil, onde está a graça?
Outra questão problemática em A Lenda de Tarzan é seu elenco, completamente equivocado. Todos as falas de Alexander Skarsgard não devem preencher uma folha A4, pois na maior parte do tempo ele entra em cena mudo e sai calado. Essa era a sua grande chance para estourar em Hollywood, porém o carisma que demonstrou em uma série perversamente irônica como True Blood (2008-2014) inexiste aqui. E depois de fracassos como Battleship: A Batalha dos Mares (2012) e O Doador de Memórias (2014), o melhor que esse sueco tem a fazer é voltar para casar ou se resignar com uma carreira na televisão. Por outro lado, Margot Robbie, que estourou em O Lobo de Wall Street (2013), tem pela frente ainda neste ano o aguardado Esquadrão Suicida (2016), então é provável que esse deslize não lhe cause muito impacto. Já Christoph Waltz, vivendo pela enésima vez o vilão maquiavélico, confirma-se como uma das decisões mais desastradas do Oscar dos últimos anos: afinal, por quê premiá-lo duas vezes pelo mesmo papel, visto que isso é tudo que ele sabe fazer?
Sem apresentar nenhuma novidade digna de atenção e incapaz de justificar um interesse maior da plateia, A Lenda de Tarzan decepciona em qualquer espectro de análise. Não funciona como aventura, drama ou romance, e muito menos como pretenso registro histórico de uma das grandes injustiças da humanidade – há um subtexto a respeito do passado exploratório da Europa sobre o continente africano, algo que logo é deixado em segundo plano. E quando até mesmo os efeitos especiais não convencem – as cenas de Tarzan se acariciando com leões ou lutando com um bando de gorilas ao seu lado chegam a ser constrangedoras de tão mal feitas – é de se perguntar onde foram gastos os US$ 180 milhões do seu orçamento. Investimento, como se percebe, que obviamente não está na tela, e que nem deveria contar com a boa vontade dos fãs do personagem em sua busca por compensação.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 2 |
Francisco Carbone | 4 |
Thomas Boeira | 6 |
Bianca Zasso | 5 |
Matheus Bonez | 4 |
Alexandre Derlam | 6 |
MÉDIA | 4.5 |
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