Crítica


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Sinopse

Viciado em sucesso e diante de um vazio existencial enorme, o astro hollywoodiano Rick facilmente se pega entediado, algo contraposto por sua vontade de experimentar fortes emoções.

Crítica

Por muitos anos, me referi a Terrence Malick como “o diretor que nunca errou”. Porque a hipérbole faz tanto parte da crítica quanto os filmes, a afirmação em ocasião nenhuma me pareceu exagerada. Não até assistir a Knight of Cups.

Habituado a lançar filmes com intervalos longos, que variaram de dez a cinco anos, o diretor de Cinzas no Paraíso (1978) e Além da Linha Vermelha (1998) rompeu o hiato de apenas três anos desde Amor Pleno (2012) para apresentar um filme sem inspiração. Cavaleiro de Copas traz Rick (Christian Bale) como um ator rico e famoso, envolvido no deslumbrante mundo de Hollywood. As facilidades dessa vida há muito não o fascinam, passando a fazer com que o personagem passe a se questionar sobre o sentido da vida

Malick leva às cenas a estética desenvolvido nos últimos anos, iniciada em O Novo Mundo (2005) e vista em sua plenitude em A Árvore da Vida (2011). O estilo particular é composto pelo movimento de câmera, que reveza subidas e descidas com avanços, planos abertos, ponto de vista na linha da cintura ou abaixo e a estranha posição da voz narrativa, majoritariamente em off atemporal. O resultado é uma linguagem estética impressionante, possivelmente a única realmente memorável nos últimos 30 ou 50 anos de cinema.

Por isso, pode parecer contraditório afirmar que um dos problemas mais graves de Cavaleiro de Copas está na forma como a direção aborda o conteúdo. Por ser mal desenvolvida, a trama a envolver Rick faz os esforços de Malick lançarem desmedida importância à relação com a ex-mulher (Cate Blanchett), ao romance com Elizabeth (Natalie Portman) e ao conturbado relacionamento com o pai (Brian Denneby) e o irmão (Wes Bentley).

A beleza com que Malick filma, contemplando paisagens remotas e abusando planos de profundidade, soma-se à narração grandiloquente e pomposa. O efeito é um tom paternal e divino (a não diferença parece ser algo articulado pelo diretor), que funcionou bem nos trabalhos anteriores, mas alimenta a vagueza e a frivolidade das dúvidas do protagonista. A fragilidade do projeto fica evidente quando percebemos que os letreiros, dispostos no decorrer do filme, servem mais para apaziguar o fluxo repetitivo e desordenado do que para compor uma sequência de atos ou capítulos.

Cavaleiro de Copas sobrevive no limite do que a câmera pode impressionar – e por vezes, ela realmente consegue – e pela atuação de Bale, que procura encontrar o tom do personagem através das linhas que imagina, uma vez que Rick pronuncia pouco mais do que três ou quatro frases durante todo o longa. Para além disso, o filme é tomado pela ambição. A mesma ambição que moldou as grandes obras de Malick anteriormente, desta vez tomba um projeto que, ainda caso bem realizado, não poderia escapar à obviedade da crítica proposta.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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