Crítica
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Sinopse
Um adolescente, detido após cometer um delito, é liberado a pedido de uma organização secreta. Com grande potencial, mas muito rebelde, o jovem desperta interesse da agência, que o convoca para seu programa de recrutamento de novos espiões. Recebendo o aconselhamento de um veterano do serviço secreto, ele vai enfrentar grandes perigos.
Crítica
O argumento não é particularmente inovador. Afinal, estamos falando de um jovem despreparado que de uma hora para outra se demonstra decidido a salvar o mundo, custe o que custar. Pois se essa premissa se encaixa perfeitamente no sucesso Kick-Ass: Quebrando Tudo (2010), ela é válida também para Kingsman: Serviço Secreto, o mais recente trabalho do diretor Matthew Vaughn, responsável pelos dois filmes. E se entre um longa e outro ele entregou o emocionante X-Men: Primeira Classe (2011), isso só deixa claro sua afeição ao universo das histórias em quadrinhos. Pois é exatamente isso que é possível encontrar neste novo filme: personagens cartunescos, tramas estapafúrdias e reviravoltas rocambolescas, tudo embalado com muito charme e eficiência. E bom humor, exatamente como ditam as diretrizes atuais.
Baseado em um gibi escrito por Mark Millar (o mesmo de Kick-Ass, aliás), Kingsman tem como protagonista Gary ‘Eggsy’ Unwin (o novato Taron Egerton), um jovem delinquente em busca de um rumo na vida. A oportunidade lhe é apresentada quando Harry Hart (Colin Firth, com o mesmo estilo de nobre inglês de sempre, porém com alguns ‘movimentos’ a mais) cruza seu caminho. Este, na verdade, possui uma dívida antiga com o pai do rapaz, e decide pagá-la apresentando-o como candidato para integrar uma força de agentes secretos que agem à margem da lei – não acima, mas também de olho. E a convocação de mais mão de obra para o serviço é urgente, pois uma ameaça cada vez mais concreta se aproxima: o plano megalomaníaco do empresário das telecomunicações Valentine (Samuel L. Jackson) de fazer literalmente uma ‘limpa’ no mundo, dando início a um novo processo de seleção natural – de acordo com o seu ponto de vista, é claro.
Matthew Vaughn sabe que seu filme será visto em massa por adolescentes acostumados com super-heróis e poderes especiais. Por isso ele não hesita em colocar seus personagens diante de atitudes improváveis – para não dizer impossíveis. Os oficiais da Kingsman são de uma agilidade e competência de deixar James Bond ou Jason Bourne (ou mesmo Jack Bauer, para aproveitar uma das piadas mais inspiradas do filme) envergonhados. Essa alegoria cartunesca até pode ser desculpada em nome dos festins coloridos – afinal, tudo é uma grande piada. Mas o problema, no entanto, está na falta de foco do realizador. Pra começar, temos dois enredos paralelos acontecendo simultaneamente, e ele parece não se decidir por um ou outro – de um lado há o treinamento do iniciante e de outros concorrentes, enquanto que num outro ponto distinto da história há a trama em si, que diz respeito de como os Kingsman podem – ou não – fazer diferença no mundo atual, e como impedirão o perigo que se aproxima. A junção entre essas duas narrativas se dá de modo um tanto atribulado, sem conseguir evitar que alguns percalços fiquem pelo caminho.
Quando foi anunciado que o vilão de Samuel L. Jackson seria fanho e com medo de sangue, as impressões foram as piores possíveis – qualquer um que lembre dele em The Spirit (2008) pode imaginar. No entanto, seu personagem até passa incólume diante tantos exageros que vemos em Kingsman: Serviço Secreto. Se falta à Egerton a mesma ingenuidade aliada à força que fez de Aaron Johnson (protagonista de Kick-Ass) uma revelação, ele ao menos desempenha com eficiência o que lhe é esperado. E se o sentimento de déja vù entre os dois é insistente, ele vai além: afinal, como não comparar a assassina Gazelle (Sofia Boutella), com suas pernas afiadas, com a maioria das bandidas que Wolverine (Hugh Jackman) costuma enfrentar nos filmes da série X-Men (a luta final é particularmente similar àquela vista em X-Men 2, 2003). Sem falar no inevitável clima de sub-007 que está impregnado em quase toda a produção.
Em resumo, Colin Firth até parece querer se esforçar para diversificar um pouco sua carreira, Samuel L. Jackson está de volta aos tipos histriônicos que tão bem sabe defender, e os altos e baixos do roteiro são suficientes para manter a atenção do espectador – ao menos até o filme acabar. O que não significa que Kingsman: Serviço Secreto vá permanecer por muito tempo na memória de quem o assistiu. O diretor é descolado o suficiente para fazer deste um programa divertido, mas as referências são tantas e em sua maioria tão mal colocadas uma ao lado da outra que um bocejo será inevitável após uma análise mais profunda. Não que o espectador deste tipo de aventura esteja disposto a isso, mas seria bom termos de vez em quando algo mais resistente ao tempo, não?
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