Crítica


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Sinopse

Tolstói é um cineasta que passou de modo turbulento pelos anos 1970 e que tenta encontrar seu lugar nos anos 1980.

Crítica

Filmado em 1992, este grande recorte de imagens tem a responsabilidade de ser o "último filme de Grande Otelo". Finalizado apenas em 2022 pelo diretor Roberto Moura, o projeto tem linguagem semelhante a um dos maiores clássicos da carreira de Otelo: Macunaíma (1969), pois dispõe de diversos personagens para descrever situações de exaustão nos círculos sociais. Além de Otelo, Sebastião Lemos e Breno Moroni estrelam peças soltas de um mesmo Brasil. Músicas, poesias, roteiros de filmes, discursos políticos e diversas manifestações são interpretadas pelo trio. Mesmo com a intensidade vibrante dos artistas, Katharsys é uma jornada de transcendência para poucos, necessitando de um apetite do espectador por tramas não lineares.

O triângulo de estrelas que desenvolve a trama não se relaciona, mas argumenta as mesmas questões, dividindo os temas. Ao longo das mais de uma hora e meia são reveladas angústias de um Brasil que pouco, ou quase nada, mudou em sua história. As ditaduras, a economia flutuante e a espiral de burocracias em que a sociedade brasileira sempre esteve mergulhada dão o tom das intermináveis esquetes da obra, que não possuem objetivo claro. O curioso, é que mesmo pensadas no início da década de 1990, as discussões são atuais. Tal fato lhe confere uma conservação temporal.

Num momento, Otelo é um orixá que toma forma de políticos, trabalhadores e presidiários, transitando pela realidade paralela da virada do milênio. Breno é um cineasta à margem das grandes produções que fala de seus longas e toma forma de um bufão que interpreta as agruras do dia a dia. Sebastião é um homem que se perdeu na alucinação do corporativismo e se finge de amalucado. Pessoas de todos os tipos atravessam os seus caminhos, mas a verdade é que não há uma mensagem clara. E talvez nem devesse haver. O discurso de Moura possui complexidades dentro de um manifesto simples: a arte como anestésico para a realidade.

Katharsys é um interessante representante do cinema de guerrilha, dotado de pouquíssimos recursos, com poucos atores profissionais, filmado em meio a multidão real e com distintos filmes dentro de um só. Pouco antes de sua concepção, a Embrafilme havia sido extinta pelas políticas neoliberais do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Poder assisti-lo, de forma renovada 30 anos depois, pode ser considerado um sinal de resiliência do audiovisual tupiniquim. Todavia, uma pena tratar-se de uma fábula tão íntima do realizador e improvavelmente disseminável.

Filme visto no 17 º CineOP - Mostra de Cinema de Ourto Preto, em junho de 2022.

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

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