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Sinopse

Dre vê sua vida mudar radicalmente quando sua mãe é obrigada a aceitar um cargo na China, milhares de quilômetros de distância da sua casa nos Estados Unidos. Uma vez lá, ele começa a sentir extremamente infeliz, e para piorar, um grupo de colegas da nova escola, treinados em artes marciais, passa a persegui-lo. Até que um mecânico que mora próximo dele se mostra um verdadeiro lutador e decide ensinar o menino a se defender.

Crítica

Longe das firulas bregas dos anos 1980, o novo Karate Kid, que nada mais é do que uma refilmagem de Karate Kid: A Hora da Verdade (1984), se mostra uma verdadeira releitura, pois, enquanto mantém o cerne da história original, jamais esquece os 26 anos de amadurecimento cinematográfico entre as duas versões. E embora se trate de uma obra estritamente comercial – com direito a canção do Justin Bieber e tudo -, produzida pelo casal Smith (Will e Jada Pinket) com o claro intuito de popularizar o filho Jaden, o longa-metragem acaba demonstrando uma surpreendente sensibilidade que, sim, o eleva acima do projeto original.

O filme, dirigido por Harald Zwart (que não fez ou faria nada tão bom novamente), já tem início com um plano que encontra o jovem Dree (Smith) arrastando uma grande mala em um quarto vazio, enquanto observa melancólico o marco da porta onde estão sinalizadas as diferentes alturas que teve enquanto viveu ali. Simples assim descobrimos que o menino está se mudando da casa em que cresceu, e o título do filme só surge, de maneira quase cômica, quando ele tenta exercitar a língua do país para o qual está indo com o passageiro do seu lado no avião, que, apesar de ser de etnia asiática, afirma: “cara, eu sou de Los Angeles”, gerando uma decepção no menino, o que resume a sua trajetória ao longo da história.

Arrastado para a China pela mãe (Taraji P. Henson), pois ela foi transferida para lá a trabalho, Dree não demora a encontrar problemas para se adaptar ao novo lar. Não só a língua é uma barreira, como também alguns garotos que passam a implicar e a persegui-lo moral e fisicamente, tanto por ele ser americano como pelo fato de estar fazendo amizade com a bela Meiying (Wenwen Han), adorada por um deles. É aí que o pequeno e deslocado imigrante recorre ao Sr. Han (Jackie Chan), responsável pela manutenção dos apartamentos em que mora, e também um insuspeito mestre nas artes do kung fu. Han passa então a fazer com que Dree exercite diversas tarefas manuais, tentando ensiná-lo que o kung fu está na humildade de extrair aprendizado de qualquer atividade no dia a dia.

Grande parte do sucesso de Karate Kid se deve à dinâmica entre Smith e Chan. Enquanto o primeiro consegue variar, com impressionante habilidade, entre a extrema extroversão e a tristeza e raiva incontidas, o segundo baseia sua performance em um tom monocórdio e uma proposital inexpressividade, que não só condizem com o passado de seu personagem – revelado em uma cena dramática e plasticamente belíssima – como também ajudam a ressaltar os momentos em que o Sr. Han realmente expressa algum sentimento, como preocupação, tristeza ou a nostalgia ao revisitar um lugar que não via há muitos anos. As diferenças entre Dree e Han e suas respectivas fragilidades é o que acaba tornando sua amizade tão especial para o espectador, que consegue identificar neles duas figuras imperfeitas e multifacetadas, capazes de arrogância e frieza, mas também de admiração mútua – além disso, é difícil não torcer por personagens que conseguem arrancar risadas tão gostosas. Já Taraji P. Henson, mesmo que em um papel menor, também diverte como a mãe do garoto, tão empolgada com o novo lugar, e ao mesmo tempo desolada pela tristeza do filho. Tudo em uma trama que poderia facilmente ser retratada com o típico timing de produções para entreter a família e apenas isso. Mas que, felizmente, rompendo expectativas, ganha um olhar mais atento aqui.

Primeiramente, o longa se apresenta na belíssima razão de aspecto 2.35:1, um formato de tela longo ao qual historicamente se associam filmes mais “sérios”. A isso se soma uma dessaturação da imagem, provavelmente aplicada na pós-produção pelo diretor de fotografia, Roger Pratt, que busca um efeito que vai justamente na contramão dos blockbusters enlatados, que tendem a ser tão coloridos quanto conseguem. Por fim, Zwart e Pratt juntam esforços e preferem aqui e ali a câmera na mão, o que cria uma sensação de maior realismo e contrasta com momentos de beleza ímpar, como o que foca em Dree observando uma encantadora de serpentes na beira de um enorme precipício. E é particularmente bela a sequência passada em um teatro de sombras, que encontra mais tarde uma rima visual encantadora em um diálogo catártico entre o protagonista e o Sr. Han.

Rompendo um pouco com o tom dramático que poderia igualmente arruinar o projeto, a trilha sonora ostensiva de James Horner (que ainda devia estar com a mão viciada de conduzir a trilha de Avatar, 2009), acaba criando um contrapeso adequado e balanceando o projeto. Ou seja, Karate Kid parece uma mistura improvável de fatores que funcionam de forma orgânica, empolgando e fazendo rir com a mesma facilidade com que levam à comoção por seus personagens, tão carismáticos que mesmo depois de 140 minutos de projeção, acaba sendo difícil se despedir deles.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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