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Sinopse

Um olhar sobre a complexa trajetória do Poder Judiciário no Brasil, desde seus primórdios no período colonial até os dias atuais. Juntando depoimentos de juristas, historiadores e jornalistas, com reconstituições de cenas e imagens de arquivo, o diretor Vicentini Gomez faz um panorama histórico da aplicação da justiça no país.

Crítica

Do tom professoral emanado pela maior parte dos depoimentos registrados até as ferramentas visuais utilizadas para ilustrar os fatos descritos – como gráficos, animações sobre imagens de arquivo e pinturas clássicas, ou ainda reconstituições de paisagens e cenários feitas em maquetes 3D bastante rudimentares – tudo no documentário Justiça! Uma História faz com que o espectador se sinta diante de uma videoaula introdutória direcionada a alunos do ensino médio sobre a história do Poder Judiciário brasileiro. Se valendo da estrutura narrativa mais convencional possível, o diretor, roteirista e ator Vicentini Gomez coloca seus entrevistados, em sua maioria historiadores e juristas de renome, nas cadeiras imponentes do Palácio da Justiça de São Paulo, mesclando suas falas – embaladas por uma trilha sonora genérica incessante – não apenas aos já citados artifícios ilustrativos, como também a algumas dramatizações de eventos – de encenação extremamente frágil, quase amadora – que pouco ou nada acrescentam ao material.

Assim, abruptamente e sem qualquer contextualização ou introdução, os primeiros depoentes levantam o tema inicial, o significado dos pelourinhos no Brasil colonial, para depois seguir com uma ordenação cronológica dos eventos que marcaram a evolução da justiça no país, da chegada dos portugueses, passando por movimentos notórios, como a Inconfidência Mineira, até os dias de hoje. Ainda que se atenha a uma linha temporal, essa organização narrativa é marcada pela aleatoriedade, já que nunca se estabelece uma conexão sólida que dê sentido à transição entre os temas abordados – como, por exemplo, passar da abolição da escravatura diretamente para a punição de crimes sexuais. Não bastasse a debilidade dessa organização, Gomez ainda despende tempo a passagens gratuitas, de relação ínfima com os temas em pauta, como a dramatização criada para enfatizar o fato de não haver um sistema de esgotos nas cidades brasileiras do século XVI.

O longa segue num acúmulo de verbetes, com os entrevistados despejando um grande fluxo de informações que não raramente se perdem em meio a uma montagem de momentos caóticos, que soam quase como um jogral involuntário – limitando as intervenções dos personagens a fragmentos mínimos de frases. Tal acúmulo não permite espaço para qualquer tipo de debate ou reflexão acerca daquilo que está sendo exposto, incluindo questões ainda muito relevantes no contexto atual, como a corrupção dentro do sistema judiciário, o racismo, o feminismo e a luta pelos direitos das mulheres de modo geral, a influência da Igreja e a necessidade de manutenção da laicidade do Estado, entre outros. Tudo isso, porém, termina tratado de maneira superficial, assim como as tentativas de resumir períodos profundamente complexos da história do país – como a Era Vargas ou a Ditadura Militar.

Esses acontecimentos, bem como figuras históricas – muito ou pouco conhecidas pelo grande público – são relegados a meras notas de rodapé em Justiça! Uma História, sufocados pela profusão de datas e termos jurídicos que dominam a projeção. Deixando clara a preocupação exclusiva com a exposição didática das informações, oferecendo um olhar analítico praticamente nulo, Gomez dilui o potencial de interesse que seu conteúdo poderia despertar, resultando em pouca ou nenhuma absorção do mesmo. Todas essas inconsistências, aliadas ainda à evidente falta de habilidade na utilização de ferramentas narrativas que pudessem tornar o documentário mais atrativo, geram não apenas um produto falho em suas pretensões elucidativas, como ainda uma obra simplória no aspecto cinematográfico.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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