Crítica


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Sinopse

Depois de um cataclisma, os Klingon são obrigados a abrir negociações de paz com a Federação. Ironicamente, o emissário terráqueo é o capitão Kirk. Porém, um evento pode colocar toda essas tratativas a perder.

Crítica

O espaço é uma vitória da imaginação mais do que da ciência. Prova disso são as possibilidades que a ficção construiu mesmo antes de saber que a tecnologia permitiria ao homem deixar a Terra. Preocupada com o fracasso de público e crítica que foi o filme de William Shatner, Jornada nas Estrelas: A Última Fronteira (1989), a distribuidora Paramount convocou Nicholas Meyer para dirigir e co-escrever a nova aventura. A esperança era repetir a aposta de 1982, quando Meyer conseguiu, no segundo episódio Jornada nas Estrelas: A Ira da Khan, reverter as baixas expectativas deixadas pelo filme de estreia. A velha fórmula injetou novo ânimo no grupo de tripulantes espaciais e reestabeleceu a confiança na série.

A história se concentra na alternância dos eixos de suspense e ação, dando ritmo à trama e cooptando o espectador. Após a explosão da lua Praxis, os Klingons, habitantes do planeta Kronos, solicitam um acordo de paz com a Federação Unida dos Planetas, seus inimigos de longa data. Para que as tratativas avancem é preciso escoltar Gorkon (David Warner) e a Kronos One até a Terra. Tal compromisso fica a cargo da Enterprise, mas não sem causar rusgas e divergências dentro da corporação da nave. Durante o período de proteção, a nave de Gorkon é atingida e tudo indica que o ataque partiu de quem deveria defendê-la.

O roteiro estabelece, então, uma tensão que se ramifica e se alastra ao passo que coloca em dúvida não apenas a relação entre os klingons e a Federação, mas também a suspeita de traição dentro da própria Enterprise. A partir deste ponto, Meyer faz com que a história alterne entre o julgamento de James Kirk (William Shatner), o capitão da nave acusada, e a investigação acerca da idoneidade dos tripulantes desta.

O sucesso do filme é o sucesso de Meyer. Além de construir uma intriga sólida, da qual partem todos os desdobramentos, estão na segurança e uniformidade com as quais guia este mundo estelar os seus trunfos. O que fez do espaço um meio pródigo para a imaginação é o fato de que nele não é preciso criar um outro homem, mas transpô-lo e colocar em teste as dúvidas, as fraquezas e os limites deste em um novo contexto. Por isso os dramas que se desenvolvem na Enterprise são simples: da desconfiança quanto à traição à dúvida diante da sucessão do capitão Kirk, o homem deixa transparecer-se, apesar da tecnologia que detém e das infinitas possibilidades que esta lhe promete. Tanto a decisão de escoltar a Kronos One quanto o julgamento de Kirk colocam na tela debates que não são políticos, como seriam se estivessem em meio à sociedade, mas éticos. Em um mundo ainda tomado pela sombra da Guerra Fria, torcer pelo correto parece mais empolgante do que torcer pela ideologia. Duas características marcantes na série estão aqui presentes e bem empregadas. Os diálogos se valem com naturalidade do humor, ao fazer bom uso das peculiaridades dos personagens, e as falas buscam o efeito – não é de se estranhar as citações literárias, como Shakespeare – tendendo à pompa, sem afetação. Os efeitos especiais são igualmente marcantes. É impensável conceber uma boa ficção científica sem o protagonismo pontual destes, e a própria franquia da Jornada nas Estrelas, por vezes povoada pela desproporção, é um exemplo disso.

Mais irregular do que as partes anteriores, o final tem um objetivo maior do que a conclusão do filme – o que por si só não é um evento fácil – mas precisa entoar a despedida do capitão Kirk, isto é, a conclusão de uma etapa da série. Certamente peca pela amarração pedagógica e pelo sentimentalismo que busca o rememorar. Apesar disso, se todas as aventuras fossem como esta, Kirk poderia ficar tranquilo: seus espectadores não teriam motivos para esquecê-las.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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Grade crítica

CríticoNota
Willian Silveira
6
Chico Fireman
6
MÉDIA
6

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