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Sinopse

O Almirante James T. Kirk entra numa crise existencial sobre sua missão especial. Mas, depois de uma viagem de rotina, um antigo inimigo ressurge. Khan Noonien Singh, conquistador geneticamente modificado, pretende capturar um artefato que pode destruir planetas num piscar de olhos. Ele e Kirk inevitavelmente entram em colisão.

Crítica

Para entender a adoração dos fãs de Star Trek pelo segundo filme da série, Jornada nas Estrelas: A Ira de Khan, é necessário voltar um pouco no tempo. Para 1967, sendo mais preciso. Durante a primeira temporada do seriado clássico, em fevereiro daquele ano, foi exibido o episódio Space Seed, no qual toda uma tripulação era encontrada em animação suspensa pela equipe da Enterprise. Quando um desses sujeitos retoma sua consciência, com força superior e grande inteligência, ele tenta tomar o poder da nave e retirar seus companheiros do sono de séculos. Essa figura era Khan Noonien Singh, vivido com bastante intensidade por Ricardo Montalban. No episódio, Kirk (William Shatner) e Spock (Leonard Nimoy) conseguem controlar esta ameaça e mandam Kahn para um planeta sem vida. Mal eles sabiam que a ira daquele super-homem voltaria para assombrá-los. Em uma prática inédita até então, um episódio de tevê ganhou uma continuação no cinema, em 1982, 16 anos depois de sua exibição original. Esse era A Ira de Khan, dirigido por Nicholas Meyer (Um Século em 43 Minutos, 1979).

Com roteiro de Jack B. Sowards, baseado em história de Harve Bennett, Samuel A. Peeples e Ramon Sanchez, vinte anos se passaram desde o último encontro da Enterprise com Khan. Quando Chekov (Walter Koenig) parte em missão para o planeta Ceti Alpha V, é capturado pelo vilão e seus comparsas e infectado para seguir os comandos de Khan. Com isso, Kirk e sua equipe são atraídos para aquele planeta, onde o capitão encontra uma antiga paixão, a doutora Carol Marcus (Bibi Beschi), e se vê encurralado pelos planos do vingativo superhomem.

Diferente do longa-metragem anterior, Jornada nas Estrelas: O Filme (1979), Jornada nas Estrelas 2 não sofre do mal do episódio espichado. O filme dirigido por Robert Wise possuía diversos momentos em que a trama ficava em suspenso em planos longos que mostravam a Enterprise, a equipe, sem nenhum motivo aparente. Como se fosse obrigatório esticar a ação para justificar a produção de um longa. Isso não acontece em A Ira de Khan. Ainda que seja a continuação de um capítulo da série clássica, sendo assim mais fácil transformá-lo em um episódio estendido, o filme de Nicholas Meyer tem um roteiro melhor amarrado e sem barrigas em sua trama. Tudo o que acontece faz com a história ande para frente.

Não é necessário ter assistido ao seriado clássico para entender a trama, mas tudo fica mais interessante caso o espectador tenha esse conhecimento prévio. Principalmente para pegar alguns pontos discrepantes. O caso mais clássico é o fato de Khan reconhecer Chekov como um membro da Enterprise, sendo que o personagem só aparece no seriado a partir da segunda temporada. Segundo os produtores, isso se explica por que Chekov sempre esteve na nave, mas em um cargo menor, por isso não o víamos na primeira temporada. Desculpa furada ou não, acaba sendo mais uma daquelas histórias que viram folclore nas conversas dos trekkers – como são chamados os fãs de Jornada nas Estrelas.

Para estes admiradores, observar o retorno de Kirk, Spock e McCoy (DeForest Kelley) é sempre louvável, principalmente quando os personagens são colocados em momentos desafiadores. E isso é o que mais acontece em A Ira de Khan. Spock, por exemplo, vai às últimas conseqüências para salvar o dia neste longa-metragem. Já Kirk, de forma bastante interessante, mostra que os anos no comando não o previnem de errar em alguns momentos, o tornando ainda mais humano aos olhos da platéia. Sua esperteza também é retratada ao conhecermos o teste Kobayashi Maru, uma simulação que apresenta sempre um cenário que não pode ser vencido. Não para Kirk, que não acredita em situações que ele não possa vencer.

Com bons personagens e um vilão à altura, Jornada nas Estrelas: A Ira de Khan é o melhor filme da série envolvendo o elenco original. A ameaça é palpável, a ação é bem executada (lembrando que para Star Trek das antigas, ação não quer dizer necessariamente cenas movimentadas) e os personagens queridos dos fãs estão todos de volta, bem desenvolvidos dentro da trama. O desfecho pode deixar um gosto amargo na boca, mas é logo resolvido na continuação, Jornada nas Estrelas: À Procura de Spock (1984), lançado dois anos depois.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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