Jesus Cristo Superstar

Crítica


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Sinopse

Os últimos sete dias de Jesus Cristo na visão atormentada de Judas Iscariotes, em um contexto contemporâneo: os soldados romanos possuem metralhadoras e Jesus é uma figura hippie.

Crítica

Adaptado do musical homônimo, Jesus Cristo Superstar provavelmente é uma das mais polêmicas adaptações da paixão de Cristo para o cinema. Perto dela, o filme de Mel Gibson, por exemplo, é apenas uma vulgaridade que aposta na violência gráfica, só para o colocarmos em paralelo com uma das mais recentes versões desta milenar história. Homem ou Deus? Quem foi Jesus Cristo? Simplesmente um profeta que gozava de grande empatia, ou o próprio enviado dos céus para purificar nossos pecados com seu sangue? Dogmas religiosos e crenças à parte, não há como negar a força de Jesus como personagem, muito menos a dramaticidade da história que ele protagonizou. Versões que mexam, nem que seja um milímetro, no descrito pelas escrituras sagradas, ou que tomem certas liberdades, inevitavelmente gerarão polêmica.

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Em Jesus Cristo Superstar, temos um Jesus peregrino, que canta seus derradeiros momentos. Aliás, todos cantam, o tempo todo. Para os que apreciam o gênero musical, é um deleite. Os cenários minimalistas, constituídos basicamente por andaimes, edificações em ruínas e pela paisagem desértica escolhida, conferem toque contemporâneo à história, efeito este amplificado pela direção de arte, que veste com malhas roxas e metralhadoras os soldados romanos, por exemplo. Imagino que o filme aos olhos dos mais puristas e religiosos seja uma verdadeira profanação.

Estas liberdades, a música, o bailado e a atmosfera meio hippie, são elementos que se deflagram rápido, e apresentam aqui o substrato da construção cinematográfica. Mas, o que mais me agrada em Jesus Cristo Superstar é a constituição das figuras, a humanização dos personagens que ficaram para a história, goste-se ou não, como testemunhas de algo longe do homem, pertencente à esfera do divino. Jesus aparece claudicante, desorientado ante os conselhos que recebe das pessoas, em contraposição à missão recebida por Deus. Judas, a bem da verdade o protagonista da trama nesta variante, é apresentado como homem que entrou para os anais, maculado por um pecado que foi obrigado a cometer, com as mãos manchadas pelo crime de Deus: o sacrifício de seu filho pelo bem da salvação humana.

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Jesus Cristo Superstar é, sim, controverso, não se propõe ao revisionismo histórico, ou mesmo a apresentar fatos novos acerca desta que é uma das mais conhecidas e difundidas histórias da humanidade. O filme de Norman Jewison suscitou polêmicas, principalmente pela roupagem diferente e disposição em narrar através do rock progressivo e da dança típica dos palcos da Broadway. Afora os méritos da montagem como encenação, e eventuais controvérsias que esta roupagem moderna da vida de Cristo traz consigo, Jesus Cristo Superstar é exitoso justamente por trazer os medos, as angústias e hesitações destes personagens reconhecidos através dos séculos, mais para o plano terreno.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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