Crítica

Fly on the Wall. Ou, no bom português, mosca na parede. É assim que se costumam chamar documentários que tentam transmitir uma invisibilidade no seu fazer. Como se não existissem câmeras, luzes e toda uma equipe por trás das imagens que estamos conferindo. Como se o espectador fosse aquela mosca na parede, observando sem ser percebido algum momento interessante da vida daquele biografado. No longa-metragem de Eryk Rocha Jards, o protagonista em questão é o cantor, ator e compositor Jards Macalé, que durante a gravação deste filme estava em estúdio registrando novas canções para um álbum cheio de participações especiais.

Engana-se quem pensa que o documentário pretende jogar luz sobre a carreira de Jards Macalé, sendo didático ou histórico em relação ao biografado. Com o título de Jards, o engano é honesto. O documentário, na verdade, carrega o nome do novo disco do músico e concentra-se exclusivamente nas gravações deste trabalho. Esqueça, portanto, algum tipo de contextualização sobre quem é Jards Macalé ou o que ele já fez para a música brasileira. Este não é o foco deste doc que poderia muito bem servir como extra para o álbum lançado em 2011 por Macalé.

Os melhores momentos de Jards são, exatamente, os musicais. Observar o veterano cantor passear pelo estúdio, conversar rapidamente com os músicos e os técnicos, servem apenas como um costura – por vezes entediante – do que realmente interessa. As primeiras canções do documentário, mais tristes, com pitadas de jazz e blues, são perfeitas para ouvir segurando um copo de whisky em um bar. A voz de Macalé, arrastada e grave, é perfeita para o estilo proposto. Com o decorrer do documentário, algumas canções mais animadas acabam surgindo, com destaque para uma roqueira participação de Roberto Frejat.

Enquanto os números musicais são elogiáveis, com a câmera sempre muito próxima dos “personagens”, as cenas que costuram estes momentos se ressentem pela falta de alguma informação adicional. É notório que Eryk Rocha pretendia realizar um documentário mais poético, sem cabeças falantes ou recursos mais convencionais. No entanto, da forma como foi feito, o trabalho acaba restringindo sua plateia. Se você é fã de Jards Macalé, provavelmente vai apreciar observar seu ídolo passeando pela tela. Do contrário, os 93 minutos de duração do filme podem surgir como longos demais para um registro de estúdio.

Com participações de Adriana Calcanhoto, Luiz Melodia e Elton Medeiros – que protagonizam outros bons momentos do documentário – Jards acaba se salvando pela força da música e pelas câmeras inspiradas de Eryk Rocha. O registro é muito válido, dado a importância do músico. E, imagina-se, um trabalho bastante pessoal para o diretor, visto que Macalé e Glauber, pai de Eryk, eram amigos e colaboradores. Ainda que não seja muito acessível em boa parte, o filme pode achar seu público quando lançado em DVD, servindo como um material complementar ao disco de mesmo nome.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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