Crítica


5

Leitores


9 votos 8.4

Onde Assistir

Sinopse

Apaixonados desde a adolescência, Tim e John viveram um romance que durou 15 anos, com direito a separações, discriminações, tentações e perdas.

Crítica

Baseado em um livro de memórias escrito pelo ator australiano Timothy Conigrave, Holding the Man narra a história do amor de uma vida entre esse escritor e o atleta John Caleo. O romance dos dois seria uma desventura agridoce entre idas e vindas, preconceito e superação, durante os anos 1970 e 1980, não fosse a epidemia da AIDS que imprimiu marcas bem mais dramáticas e definitivas nessa relação – assim como em tantas outras. A premissa antecipa um drama de cortar o coração, mas o resultado é morno, repleto de passagens esquecíveis (talvez mais justificáveis na literatura) e salvo apenas na intensidade e veracidade de seus protagonistas, Ryan Corr e Craig Stott.

holding_the_man-papo-de-cinema (3)

Em um prólogo ambientado numa ilha italiana nos anos 1990, Holding the Man mostra Tim entre as lembranças de sua juventude, mais especificamente em 1976, quando conheceu John em uma escola jesuíta para garotos. Enquanto o primeiro ensaiava Romeu e Julieta, o segundo corria pelo campo na prática do futebol americano. O drama de Shakespeare prefigura o que é desenvolvido no segundo ato do filme, quando os dois opostos inexplicavelmente se atraem e iniciam um relacionamento, para o desespero de suas famílias. Como se as provações sociais e familiares não fossem suficientes, o casal é diagnosticado com HIV e a sequência do drama se dá numa difícil e emocional reprise entre The Normal Heart (2014) e Meu Querido Companheiro (1989).

O desenvolvimento de personagens e do próprio material biográfico não vai muito além da superfície da história de Tim e John, o que prejudica o ritmo e os conflitos oferecidos pela trama – principalmente os familiares e aqueles que surgem quando um deles se cansa de ser monogâmico. Ainda que seja exaltado pela adaptação para os palcos da mesma história, que ganhou destaque no West End de Londres, o diretor teatral e aqui roteirista Tommy Murphy se apoia em artifícios banais e clichês que não são plenamente eficientes para um argumento tão grandioso. Um de seus maiores erros está no retrato brando e pouco verossímil de como a AIDS e os acometidos pela doença eram tratados em seus primeiros anos. As incertezas, falta de conhecimento e presunções que eram feitas com tão poucas informações disponíveis durante os anos 1980 caem por terra, enquanto apenas o pai de John (Anthony LaPaglia) e um homem num bar apresentam brevemente os reais preconceitos e a ignorância da homofobia.

Enquanto segue numa narrativa sem ordem cronológica, Holding the Man ainda se perde nos prováveis vários capítulos e temas do livro que adapta; o afastamento da casa dos pais, o ativismo universitário, desentendimentos, términos e retornos, traições e o diagnóstico que transforma a vida de John e Tim, com as consequentes e severas sequências de tratamento hospitalar. Assim, a narrativa deixa a catarse emocional que sua premissa evoca para uma abordagem formulaica e que pouco se aprofunda nos diversos temas que propõe, terminando apenas como uma razoável história de amor melodramática – e mais uma na qual o casal gay não é passível de um final feliz.

holding_the_man-papo-de-cinema (5)

Em 2015, grandes produções anunciaram um ano promissor para o cinema LGBT, com A Garota Dinamarquesa (2015), Stonewall (2015) e Amor Por Direito (2015) entre os mais alardeados em festivais e nas previsões de premiações importantes. No entanto, os três filmes são redundantes e falham na captura de qualquer autenticidade com suas narrativas heteronormativas que apelam diretamente para o grande público. Holding the Man, ainda que ambicioso e dedicado a não refutar sua identidade gay, pouco acrescenta ao que já foi dito e se enquadra bem ao lado dos filmes supracitados. Neil Armfield, o diretor, se faz notar mais a partir de suas escolhas erradas do que por seus acertos; há alguma inventividade em seu trabalho com o diretor de fotografia Germain McMicking, mas nada muito digno de nota.

Problemas à parte, Ryan Corr e Craig Stott são os maiores motivos para a sessão de Holding the Man não ser um total desperdício; os atores australianos apresentam performances críveis e dividem uma química palpável, principalmente nas difíceis e por vezes quase explícitas sequências de sexo e intimidade. Ao lado da dupla, participações de Guy Pearce, Antony LaPaglia e Kerry Fox passam sem grande alarde, servindo apenas para engrossar os créditos com nomes mais conhecidos. Geoffrey Rush, por sua vez, entra e sai de cena como um professor de atuação sem dizer exatamente o que está fazendo ali, numa sequência totalmente desconectada do filme que só deve ter permanecido na edição final por conta de sua participação.

holding_the_man-papo-de-cinema (5)

Talvez para audiências australianas, mais versadas na história que foi best-seller por lá, Holding the Man tenha um apelo mais direto e emocional. Esses espectadores também terão mais informações para preencher as lacunas deixadas por Murphy e Armfield, num filme que carece de profundidade e impacto, repleto de potencial para ser muito mais.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
avatar

Últimos artigos deConrado Heoli (Ver Tudo)

Grade crítica

CríticoNota
Conrado Heoli
5
Daniel Oliveira
6
MÉDIA
5.5

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *