Crítica


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Sinopse

Astros de cinema em maus lençóis com a imprensa, uma condessa de caso com um garanhão e um estudante que se depara com seu duplo.

Crítica

Quando um filme se divide em vários capítulos e diretores, não tem erro: algumas obras serão melhores vistas do que outras. No caso desta adaptação de três contos de Edgar Allan Poe, a expectativa era alta, ainda mais pelos nomes envolvidos. Roger Vadim, Louis Malle e Federico Fellini deram suas diferentes visões sobre as histórias contadas, mas nem todas saíram com o saldo positivo, deixando um ar enfadonho ao todo. Ainda mais que cada um dos cineastas envolvidos parece ter tido uma visão muito particular de cada obra em questão, tornando as disparidades entre os capítulos extremamente altas e sem um ponto de coesão.

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No primeiro episódio, Metzengerstein, de Vadim, Jane Fonda encontra seu primo e fica cada vez mais obcecada por ele. Há quase um clima incestuoso entre ela e Peter Fonda, mas, na visão do diretor, tudo fica sem sal, como se refletisse o estado de apatia da protagonista. É literalmente uma história contada, narrada sem grandes emoções e com um ar nada sombrio, bem distante da obra de Poe. Isto que a história por si só já deveria ser um grande suspense recheado de metáforas.

Já a segunda parte, William Wilson, adaptada por Malle, aparenta ser a mais bem-sucedida de todas. Ou será que o clima morno deixado pelo capítulo anterior a tenha favorecido? Fato é que Alain Delon entrega uma boa atuação como o protagonista que precisa enfrentar um dilema que sempre permeou a obra de Poe e também remete à filmografia de Alfred Hitchcock: o duplo. Wilson tem um doppelganger que o persegue, inclusive utilizando seu próprio nome. Puxando pouco para o lado fantástico do material original, mas ainda mantendo um frescor e um ar sombrio, Malle realiza um fragmento lento em seu ritmo, mas nunca menos assustador quanto ao seu clima. Ainda conta com uma participação de Brigitte Bardot.

E se Malle é inventivo e Vadim se perde nas referências, Fellini faz tudo do seu jeito, mas sem deixar claro onde quer chegar. Com Toby Dammit o cineasta italiano conta a história de um superstar inglês (Terence Stamp) que vai participar de filmagens na Itália, mas acaba se deparando com a decadência de sua persona em um programa de auditório. Sem suspense algum da obra original "Nunca Aposte sua Cabeça com o Diabo", Fellini cria um exemplar totalmente irregular em que a mistura de realidade e sonho com as loucuras dos personagens parece não chegar a lugar algum. Talvez até fosse este o intento do diretor, mas a história fica confusa e mais parece um drama psicológico do que um material sombrio.

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Com este desfile cheio de tropeços, a junção das três Histórias Extraordinárias resulta num filme que poderia ter sido finalizado como três curtas e médias-metragens, não um longa. Afinal, sua linguagem não permanece clara ao final da projeção, tornando o exercício de assisti-la uma tarefa não tão agradável, ainda que cada capítulo (do melhor ao "pior") apresente nuances que valem a discussão, seja pela estética apresentada e as atuações acima da média (mesmo a canastrice proposital do episódio de Fellini). Acima de tudo, é interessante notar como cada um destes cineastas vê a obra de Edgar Allan Poe, reinterpretando-a de acordo com sua visão de mundo. Curioso, no mínimo.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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Grade crítica

CríticoNota
Matheus Bonez
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Ailton Monteiro
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MÉDIA
6.5

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