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Sinopse

Prestes a completar 17 anos, Harry Potter precisa ser transportado da casa dos seus tios, os Dursley, até um local seguro. Lorde Voldemort e seus comensais da morte sabem que a transferência está prestes a acontecer e aguardam o momento certo para atacar.

Crítica

Uma hora tudo chega ao fim. Que bom que no caso dessa que é a série mais bem sucedida da história do cinema esse final se estenderá um pouco mais. Sim, pois é uma boa notícia o fato de que Harry Potter e as Relíquias da Morte foi dividido em dois filmes. O sétimo livro com as aventuras do menino bruxo criado pela inglesa J. K. Rowling chegou às telas repartido ao meio, gerando dois longas-metragens independentes, ao contrário dos seis romances anteriores, que foram adaptados individualmente cada. Ponto negativo nessa decisão? Temos dois filmes interligados que na verdade só funcionam perfeitamente quando vistos em conjunto, apesar de serem fortes o suficientemente quando separados. Já os pontos positivos são muitos, a começar pela maior fidelidade na transposição da base literária para o universo cinematográfico. São, claro, universos diferentes. Mas não há porquê não deixá-los o mais próximos possíveis!

Após seis anos vivenciado a rotina de Hogwarts (a escola dos bruxos) e a realidade mágica, Harry Potter está mais do que convencido que faz parte do seu destino enfrentar o maior vilão de todos os tempos, Lord Voldemort. Se cada tomo anterior foi, na prática, um treinamento para o grande combate, agora chegou a vez de por um fim nessa ameaça de uma vez por todas. O cenário, no entanto, é bastante desanimador. Harry irá contar apenas com o apoio dos seus dois mais antigos e fiéis amigos, Rony e Hermione. A Ordem da Fênix – grupo de magos adultos que se unem em resistência ao mal eminente – irá fazer o que estiver ao seu alcance, mas qualquer atitude será mero paliativo. A responsabilidade absoluta é do garoto com a cicatriz em forma de raio na testa.

Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1 sofre um pouco por sua origem, e irá estranhar de imediato quem busca alguma semelhança com os dois longas anteriores – Harry Potter e o Enigma do Príncipe (2009) e Harry Potter e a Ordem da Fênix (2007). Dessa vez é quase como se fosse “a calma antes da tempestade”. Tudo é muito lento, introspectivo, mais grave e profundo. É, também, o primeiro filme de toda série com nenhuma cena sequer em Hogwarts – o ambiente mais familiar de todo fã e personagem da série. Assim, é mais do que normal uma estranheza em relação ao que se passa. Mas, com cuidado, nos serão reveladas novas facetas dos heróis que nos acostumamos a amar e admirar, e essa surpresa será um ganho e tanto.

Após uma ajuda inicial dos membros da Ordem da Fênix, Harry e os dois amigos decidem seguir sozinhos em busca das temíveis horcruxes, fragmentos da alma de Voldemort espalhados em esconderijos inimagináveis. Segundo o antigo diretor da escola e mentor de Harry, Dumbledore, o segredo para eliminar “aquele-que-não-pode-ser-nomeado” é destruir as horcruxes, pois são a elas que ele recorre quando em perigo. Sem esse porto seguro, ele não teria como buscar forças para se reerguer. A primeira horcrux era o diário de Tom Riddle, destruído no segundo filme, Harry Potter e a Câmara Secreta (2002). A segunda foi o anel de Servolo Gaunt, encontrado pelo próprio Dumbledore no já citado Harry Potter e o Enigma do Príncipe. Como sabe-se que Voldemort teria feito sete horcruxes, restam ainda cinco a serem descobertas – e eliminadas – por Potter.

Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1, portanto, nada mais é do que a peregrinação dos três jovens em busca das horcruxes restantes e, tão importante quanto, dos objetos mágicos poderosos o suficiente para destruí-las. Durante esse percurso encontrarão apenas mais uma – o medalhão de Slytherin – restando outras quatro para o episódio derradeiro. Porém uma lenda surge no caminho deles – as tais Relíquias da Morte do título – revelando o mito sobre três objetos que tornariam qualquer bruxo que as possuísse invencível: a Pedra da Ressurreição, a Capa da Invisibilidade e a Varinha das Varinhas. Quem está familiarizado com a trama sabe que Harry já é dono de um desses ítens. Porém dessa vez é o próprio Voldemort que estará atrás deles, e não irá descansar até ser dono de todo esse poder.

Dirigido com mão segura por David Yates – diretor experiente da TV britânica que respondeu pelos quatro últimos filmes da franquia – Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1 é, acima de um tudo, uma excelente oportunidade para Daniel Radcliffe, Rupert Grint e Emma Watson revelarem um talento maior como atores, com oportunidades dramáticas até então não exploradas. Há mais diálogos, os personagens estão mais desenvolvidos e as situações entre eles chegam a limites inimagináveis – há discussões, ciúmes, brigas, separações, romances e provas de fidelidade que os fazem verem a si mesmos com outros olhos. O elenco coadjuvante continua precioso – e novos integrantes de prestígio são bem vindos, como Rhys Ifans e Bill Nighy, da mesma forma que é bom presenciar o retorno de antigos conhecidos, como John Hurt (visto antes em Harry Potter e a Pedra Filosofal, 2001) e Imelda Staunton (vista antes em Harry Potter e a Ordem da Fênix), por exemplo. Mas o show mesmo é dos protagonistas, e eles correspondem à altura.

Ação competente, com momentos sombrios e dilemas adultos, Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1 é bem mais do que um produto destinado a gerar bilheterias bilionárias. É também arte, com intensidade e razão. Cinema de qualidade, surpreendente e envolvente, que funciona como prólogo, aumentando as expectativas e alimentando os anseios de uma legião de fãs e curiosos cada vez maior. Os mais ansiosos podem reclamar da separação em dois filmes de um único livro, mas eles lamentarão sozinhos. Como se vê agora, a decisão não poderia ter sido mais acertada – tanto na tela quando na contabilidade final. E se o fim começou bem, resta apenas manter a crença de que a“Parte 2” será ainda melhor.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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