Crítica


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Sinopse

Após um acidente, Horácio muda completamente suas perspectivas de vida e decide confessar para a esposa, Vera, que deseja ter relações com outras pessoas, embora ainda queira continuar o casamento. Confusa e inserida em um momento profissionalmente complicado, ela não gosta da ideia, mas percebe que precisa, mais do que nunca, continuar ao lado dele.

Crítica

Dê espaço para seu desejo”. O conselho passado aos estudantes por Horácio (Pablo Echarri), professor de literatura e escritor frustrado, configura justamente o dilema central enfrentado pelo protagonista de Happy Hour: Verdades e Consequências, primeiro longa ficcional do diretor Eduardo Albergaria. Casado com a deputada Vera (Letícia Sabatella), o argentino radicado no Rio de Janeiro, apesar de resistir, se vê balançado pelos avanços feitos por uma de suas belas alunas, Clara (Aline Jones). Contudo, após um acontecimento inesperado – quando um ladrão que vinha sendo manchete nos noticiários, conhecido como Homem-Aranha, cai de um edifício sobre seu carro – Horácio decide se entregar ao impulso, ao desejo, revelando à esposa tais intenções. Ela, por sua vez, não aceita a proposta de liberdade conjugal feita pelo marido, que colocaria seu casamento em risco, bem como sua imagem pública, logo no momento em que é anunciada como candidata a prefeita.

Desde a sequência inicial, que contrasta basicamente com todo o resto da produção, embalada por trovoadas e por uma trilha sonora tensa, com Horácio assumindo a função de narrador em primeira pessoa, falando diretamente ao espectador, antes do surgimento da cartela de créditos com o título – que mais parece saída de um thriller policial – fica evidente o conflito tonal presente na abordagem de Albergaria. De um lado, há uma porção narrativa mais sóbria, que visa tratar dos relacionamentos amorosos em chave poética, através das observações romanceadas presentes na narração de Horácio. Do outro, temos uma busca por abraçar o absurdo da existência humana, tão ressaltado pelo protagonista, pelas vias do humor, levando a escolhas como escalar apenas comediantes, como Fernando Caruso, para interpretar os membros da imprensa, que noticiam o caso do famigerado Homem-Aranha, a candidatura de Vera ou mesmo uma inesperada proliferação de macacos pelas ruas cariocas de forma intencionalmente caricatural.

Essa mescla de variações de comicidade – humor insólito, intelectualizado, pastelão – a pitadas mais dramáticas é feita de modo titubeante, sem ritmo, expondo um acúmulo de situações e temáticas secundárias que se conectam fragilmente ao arco principal. Os bastidores políticos, que por alguns instantes ganham uma aura conspiratória destoante – novamente com uso de uma trilha sonora grave – como na primeira aparição do personagem vivido por Chico Diaz, a espécie de crítica ao sensacionalismo midiático e à exaltação das celebridades instantâneas – com Horácio sendo tratado como um “herói do povo” por sua acidental participação na captura do ladrão – ou ainda o choque cultural entre brasileiros e argentinos fazem parte da avalanche de informações despejada por Albergaria, que não apenas pouco serve à construção de conflitos e personagens, como ainda não atinge o potencial cômico almejado.

Essa sensação de desarticulação envolve todo encadeamento de eventos, que muitas vezes soam como fragmentos aleatórios de subtramas que terminaram cortadas na sala de edição, como a cena do encontro no hospital entre a irmã de Vera (papel de Letícia Persiles), que está prestes a se casar, e o ladrão ferido. O excesso de passagens como esta apenas sufoca os questionamentos até interessantes levantados a partir do impasse no relacionamento de Horácio e Vera, sobre casamento, traição, desejo, paradigmas morais e até mesmo sobre o machismo na sociedade – no fato da deputada ser ofuscada pela sombra do marido “herói” aos olhos dos colegas políticos, da imprensa e da população. Ao final, porém, prevalece mesmo a visão masculina, condescendente com a infidelidade – a irmã e a própria mãe de Vera sugerem que ela releve a futura traição – e a reafirmação de clichês, como a ideia de que praticamente todas as alunas têm uma queda pelo professor mais velho.

Indefinido até mesmo no aspecto formal – com belos e elegantes planos aéreos das paisagens cariocas dividindo espaço com uma câmera inquieta que circula seus personagens, como no diálogo entre Horácio e Clara na faculdade - Happy Hour: Verdades e Consequências tem a seu favor um elenco carismático, com destaque para a boa química da dupla protagonista. Ambos sofrem, porém, com as inconsistências no desenvolvimento de seus personagens, especialmente Sabatella com Vera – não soa muito lógico, por exemplo, que uma mulher descrita como idealista “defensora das causas menores” aceite um parlamentar conservador (Marcos Winter) como seu vice sem qualquer tipo de contestação – enquanto os coadjuvantes ficam relegados a participações especiais ou pouco relevantes, caso do amigo argentino de Horácio vivido por Luciano Cáceres. Guardando ainda uma cena de créditos finais enigmática, que parece assumir uma faceta farsesca, o longa de Albergaria resulta desconjuntado, revelando várias aspirações sem atingir a maioria.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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CríticoNota
Leonardo Ribeiro
4
Alysson Oliveira
3
MÉDIA
1.5

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