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Sinopse

O vínculo de duas amigas aparentemente inseparáveis vai ser colocado à prova por eventos marcantes dos anos 1960, como a revolução sexual e a Guerra Fria.

Crítica

Ginger e Rosa são melhores amigas desde o momento em que nasceram, uma ao lado da outra, com suas mães de mãos dadas. As meninas cresceram, saíram da infância para a adolescência, e lidam, na Londres do início dos anos 1960, com a necessidade de amadurecerem. O mundo, naquela época, está tomado pela Guerra Fria, e o perigo de um ataque nuclear é presente e iminente. Mas talvez mais preocupante seja o conturbado universo de emoções que se desenrolam no interior destas garotas, que querem mudar tudo ao seu redor ao mesmo tempo em que buscam entender coisas básicas, como carinho, amor e atenção. E é neste cenário em que se desenvolve Ginger & Rosa, nova investida da diretora e roteirista Sally Potter.

Premiada no Festival de Veneza, de Sitges, no European Film Awards e indicada ao Independent Spirit Award pelo seu trabalho mais conhecido, Orlando: A Mulher Imortal (1992), longa que teve o mérito também de revelar o talento da hoje oscarizada Tilda Swinton, Sally Potter desde então nunca mais alcançou o mesmo sucesso. Suas obras posteriores – entre elas Porque Choram os Homens (2000), com Johnny Depp e Cate Blanchett – ficaram aquém das expectativas levantadas, e esta sensação se repete com Ginger & Rosa. O fato de termos duas jovens e competentes revelações nos papéis das protagonistas – Elle Fanning, irmã mais nova de Dakota Fanning, e Alice Englert, aqui antes do fracasso de Dezesseis Luas (2013) – contribuiu para que o filme tivesse a atenção merecida, mas quem acaba garantindo o interesse necessário é o impressionante time de coadjuvantes, que inclui nomes de respeito como Annette Bening, Oliver Platt, Timothy Spall, Christina Hendricks e Alessandro Nivola. São por eles, basicamente, que o longa não pode ser qualificado como descartável.

É curioso observar o intenso subtexto homossexual exposto em Ginger & Rosa. As duas amigas são literalmente apaixonadas uma pela outra, mas estamos num cotidiano conservador pré-Woodstock, em que apenas pensar diferente já representa uma revolução – agir ainda está a um passo além. Sem condições de ficarem juntas – muito provavelmente motivado pela simples falta de entendimento dessa possibilidade por parte delas – a mais carente delas decide investir no pai da outra, deixando para trás os tempos de menina e se assumindo como mulher e mãe. A que foi abandonada, então, se refugia no casal gay esclarecido, na americana rebelde e na vontade de fazer diferença para lutar contra algo tão grande quanto inalcançável. “Precisamos distribuir panfletos contra a bomba atômica”, diz num momento de desespero, como se um ato simples como esse pudesse ter um efeito tão drástico. Mas se ficar parada de braços cruzados não é mais uma opção, o que restaria a ser feito?

Sally Potter tem muitos caminhos a seguir com a história destas jovens adultas em processo de transição. É frustrante perceber, no entanto, que se acovarda diante tantas escolhas, seguindo pelas mais óbvias. O particular irá se manifestar com tamanha força que tudo mais será esquecido. Se permanecerão juntas ou separadas é somente um detalhe, pois tudo o que viveram até aquele momento criou um elo tão forte que nada poderá quebrar. E se uma certeza como essa se manifesta de modo tão imponente, onde está a excitação, o suspense, o mistério? Sem nos envolvermos, percebemos estas vidas transcorrerem como tantas outras, à margem da mudança, resignando-se à mediocridade. Algo que resulta válido tanto para as personagens quanto para o próprio filme em questão.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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