Crítica
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Sinopse
Ambientada num mundo pós-apocalíptico, essa história mostra um robô apreendendo coisas sobre a vida, a amizade e o amor. E tudo acontece porque ele foi programado para proteger o cachorro de seu dono.
Crítica
Tom Hanks parece estar fazendo sempre o mesmo filme nos últimos anos – ou, ao menos, desde que decidiu estreitar sua relação com as plataformas de streaming. Primeiro foi a aventura marítima Greyhound: Na Mira do Inimigo (2020), para a AppleTV+, no qual se apresentava como o líder valente diante de um inimigo aparentemente invisível. Depois veio Relatos do Mundo (2020), disponível na Netflix, que acrescentava a esse ambiente inóspito a figura de uma improvável companhia – no caso, de uma menina alemã, característica que servia para dificultar a comunicação entre os dois, motivando-os a descobrir novas formas de comunicação. Pois bem, estes elementos estão mais uma vez presentes em Finch, o terceiro dessa leva – e o segundo original da Grande Maçã. Sozinho em cena na maior parte do tempo, seus companheiros agora são dois robôs e um cachorro – é quase como uma releitura de Eu Sou a Lenda (2007) impregnada pelo bom-mocismo típico do astro, sem Alice Braga, mas esforçado em dotar um cenário apocalíptico de uma mensagem de esperança, na maior parte das vezes, mais forçada do que natural. Os menos cínicos talvez se deixem levar, mas para a maioria somente com muita boa-vontade tal discurso alcançará qualquer efeito.
É curioso, pois nesse tipo de filme, o nome de batismo nunca é o do protagonista, mas, sim, de algum personagem importante para ele. Enfim, por mais que fosse essa a expectativa, não chega a ser o caso por aqui. Finch é, mesmo, Tom Hanks, um homem solitário que surge em cena como o único – ou um dos últimos – sobreviventes da Terra. Uma catástrofe climática eliminou a camada de ozônio da atmosfera, tornando a sobrevivência debaixo do sol praticamente impossível. Assim, ele precisa descobrir por conta própria como seguir vivo, lutando mais com o cérebro do que pela força bruta para encontrar diariamente comida e melhorar suas condições no bunker que agora chama de lar. E não apenas para si, mas também para um pequeno cachorro, o desconfiado Goodyear. Não é nada novo: recentemente, filmes como A Estrada (2009), The Rover: A Caçada (2014) ou Um Lugar Silencioso (2018), entre outros, se aventuraram por trilhas similares. A diferença está no tom através do qual a trama se desenvolve. E é nessa percepção onde se esconde o entendimento para a participação de Hanks como protagonista.
Conhecido como a estrela mais simpática de Hollywood, é difícil se deparar com o ator interpretando um vilão – ou ao menos um personagem de moral minimamente duvidosa. Mesmo quando surge como um gângster – como em Estrada para Perdição (2002) – sua missão é proteger a própria família, e não destruir a dos outros. Descendente direto de galãs da era de ouro, como James Stewart ou Cary Grant, Hanks tem aqui mais uma figura que vai de encontro com essas predileções: Finch é abnegado, um sobrevivente não pelo acaso, mas pela inteligência, perspicácia e empatia. Ele sofre por não se poder conectar – o relato que revela como encontrou Goodyear, quando ainda um filhote, é particularmente doloroso – e essa vida solitária tem lhe exigido um preço alto demais. Tanto é que se encarregou de, na falta de uma solução mais orgânica, por assim dizer, construir suas próprias companhias. Primeiro foi Dewey – uma referência direta ao clássico B Corrida Silenciosa (1972) – um motorizado funcional de bastante personalidade. Mas havia outra urgência, e é nela em que o enredo se concentra da metade do filme em diante.
Afinal, assim que a ação deixa a desolação externa de lado e opta por se concentrar no íntimo destas figuras resilientes, verifica-se que a dedicação do único ser-humano em cena está em fazer de Jeff (voz de Caleb Landry Jones, de Corra!, 2017) uma presença concreta. Para não entregar demais a respeito da história, basta dizer que a preocupação do homem é a mesma vista no clássico do neorrealismo italiano Umberto D. (1952), de Vittorio de Sica. Jeff é um humanoide que precisa a se defender sozinho com urgência, sem tempo para os erros característicos de qualquer aprendizado. No entanto, a despeito do muito que tem a percorrer, seu maior mérito está na capacidade de observar e de reproduzir do que lhe é mostrado. Assim, o que num primeiro momento parece apenas uma repetição sintonizada do que se passa a sua frente, aos poucos vai se consolidando como algo mais profundo. A transformação se dá de forma gradual, mas de dentro para fora. Surpreende constatar que, em Finch, aquele mais interessante no elenco é o robô, e não quem está no título.
Miguel Sapochnik chamou primeiro atenção com o ambicioso Repo Man: O Resgate de Órgãos (2010), mas o fracasso deste projeto o condenou a uma década de experiências televisivas. Os dois Emmys ganhos por suas incursões pelo fenômeno Game of Thrones (2016 e em 2019) o reabilitaram a ponto de comandar um dos maiores astros do mundo em uma aventura introspectiva, que em mãos mais ousadas talvez tivesse alcançado um resultado minimamente memorável. O que não quer dizer, por outro lado, que Finch seja ruim, ou mesmo irrelevante. Apenas se mostra resignado em uma posição confortável, mesmo dono de credenciais que facilmente o teriam levado além do ponto em que se situa. De final emocionante e capaz de envolver mesmo frente aos tipos sintéticos que apresenta, carece, porém, de um espírito inquieto, que arrisque, mesmo sem garantia de sucesso. Afinal, trilhar caminhos seguros pode ser um bom conselho na vida real, mas definitivamente é algo a ser evitado na ficção. Pois arte se faz pela vontade de ir além, algo que Tom Hanks já soube explorar, mas que há tempos parece ser uma vontade por ele esquecida.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 5 |
Daniel Oliveira | 6 |
Rodrigo de Oliveira | 7 |
Ticiano Osorio | 7 |
MÉDIA | 6.3 |
Toda arte trás uma mensagem.... A minha sensibilidade me conectou com o alerta sobre o que estamos fazendo com nosso planeta.....e o que ficou muito mais evidente é o trecho onde ele afirma que não são os desastres naturais que destruiu a maior partes das todas as espécies e sim os próprios humanos. Se for pra multiplicar, utilize apenas o amor que existe dentro de cada um de nós!
***POSSIBILIDADE DE POILER*** Eu assisti ao filme e é um roteiro tocante. Ele tem o peso e a leveza de contar a história de um homem que, mesmo sendo um pragmático, anti-social, trabalha o espírito de equipe mais por necessidade do que por vontade. A companhia dos robôs é interessante para ele por serem criações livres de emoções e live arbítrio, ele não precisa lidar com as nuances dos sentimentos humanos. Ao encontrar o filhote, se vê preso a uma responsabilidade, quase um mea culpa, de criar e proteger o cão devido ao momento em que não pode salvar a dona dele. Diante da rotina de manter-se vivo e ao seu amigo canino, a realidade se impõe e ele percebe que sua morte é eminente. Descobre sua humanidade ao lidar com um robô, criado por ele, que o faz refletir sobre quem é e porque se tornou daquele jeito, como o mundo pode devorar os mais fracos e ao mesmo tempo, a beleza da existência se equilibra nessa balança. Jeff foi uma grata surpresa, pois ali é o olhar da credulidade e inocência que falta ao homem. "Finch" não pretende ser denso e pessimista como um Blade Runner, apesar desse ter momentos de poesia diante de um mundo distópico. Tom Hanks nos faz acreditar e torcer pelos personagens, ele tem esse dom e carisma. A crítica foi correta. É um filme para os menos cínicos.