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Sinopse

Por mais que já possua quatro indicações ao Oscar, o diretor Michael Curtiz ainda enfrenta a desconfiança dos produtores. Em meio às filmagens de Casablanca, em 1941, ele precisa lidar com a pressão do governo dos Estados Unidos para que seu filme tenha um forte tom patriota, em um esforço de guerra para engajar a população em plena Segunda Guerra Mundial. Paralelamente, Curtiz reencontra a filha que trouxe da Hungria, mas manteve bem longe de si, em Nova York.

Crítica

Um passeio pelos bastidores daquele que, para muitos, é o maior filme de todos os tempos. Por sua proposta, Filmando Casablanca de imediato atrai o interesse dos cinéfilos, dispostos a conhecer detalhes sobre o mágico filme estrelado por Humphrey Bogart e Ingrid Bergman. Entretanto, não se deixe enganar pelo título nacional encampado pela Netflix: não é exatamente esta a proposta de Curtiz, primeiro longa de ficção do diretor Tamas Yvan Topolanszky.

Como o título original deixa bem claro, o foco aqui está no diretor Michael Curtiz; não exatamente em sua carreira ou trajetória de vida, apenas no período em que Casablanca (1942) foi rodado. Com isso, mais do que propriamente esmiuçar questões envolvendo as filmagens, o longa dá especial enfoque aos interesses existentes por trás da produção. Como, por exemplo, a pressão feita pelo governo norte-americano para que o cinema servisse também como propaganda patriota, ainda mais após o recente ataque a Pearl Harbor durante a Segunda Guerra Mundial, ou ainda o perfil mulherengo do diretor e seu passado obscuro, envolvendo a família que trouxe da Hungria. Inclusive, salta aos olhos a forma como tratava as mulheres, sempre seco e como se fossem meros objetos sexuais ao seu bel prazer. Reflexo não só da época, mas também de sua personalidade.

Por mais que possua um viés bastante personalista, Filmando Casablanca decepciona bastante por um certo desprezo ao filme em si. Na ânsia em ressaltar questões pessoais e políticas em torno do diretor, nem sempre bem elaboradas, o filme deixa de lado tudo aquilo que fez Casablanca se tornar tamanho ícone do cinema. Com exceção de um "debate" vazio em torno do desfecho, não há menção ou recriação de qualquer sequência do filme e mesmo seus intérpretes principais mal aparecem em cena. Tanto Bogart quanto Bergman e ainda Peter Lorre surgem apenas de relance, sempre desfocados, em um direcionamento intencional de forma que não ofuscassem o diretor. Uma escolha bastante equivocada, pois preteri-los não só traz um estranhamento imediato à dinâmica no set de filmagens como diminui o próprio Michael Curtiz, como se fosse incapaz de atrair o interesse por si próprio. É quase uma confissão de pequenez de seu objeto de estudo, por parte do também roteirista Topolanszky.

Ao equivocado direcionamento narrativo soma-se ainda uma série de escolhas, no mínimo, questionáveis. A começar pela insólita abertura a la 007, com uma estranhíssima música-tema que em nada combina com o restante do filme. Os passeios de câmera ao som da trilha sonora repleta de jazz soam mero exercício de estilo, sem agregar à narrativa em si. Já o embate envolvendo o governo e Jack Warner, sob os olhares de Curtiz, é de um esquematismo impressionante. Não há aprofundamento nos personagens secundários, todos atendem a perfis unidimensionais que empobrecem bastante a história, ainda mais ao envolver questões que, supostamente, ressaltariam a complexidade do momento vivido durante as filmagens.

Seja pela execução estética ou como direcionamento narrativo, Filmando Casablanca é um filme que decepciona bastante. Em sua tentativa de homenagear Michael Curtiz, Topolanszky entrega um filme incompleto que, intencionalmente, ignora tantas peculiaridades interessantes envolvendo um filme tão intenso quanto Casablanca. Uma pena.

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
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