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Sinopse

Rachel é esperta e amável. Ela circula com facilidade entre os artistas e boêmios de Silver Lake, bairro rico de Los Angeles. Para apimentar seu casamento, visita um bar de strippers, onde conhece McKenna, dançarina que deseja obsessivamente salvar a partir de então.

Crítica

Qual é a relação entre uma esposa entediada, um marido omisso e uma stripper? Em sua estreia na direção de um longa-metragem, Jill Soloway resolve esta incomum equação numa comédia dramática com diálogos inteligentes, situações constrangedoras e um elenco primoroso, daqueles que apenas as limitações orçamentárias do cinema independente permitem reunir. As Delícias da Tarde é beneficiado por este conjunto de fatores e se impõe entre os filmes que demonstram onde está a vida inteligente do cinema norte-americano.

Longe do imaginário inverossímil sobre donas de casa, impulsionado por séries como The Real Housewives ou Desperate Housewives, Rachel, a mãe de família de As Delícias da Tarde, acumula tédio e frustrações a partir de suas responsabilidades com atividades benemerentes, um grupo de amigas, as pontuais sessões de terapia e o desinteresse sexual de seu marido, Jeff. Especialmente preocupada com a última questão, aceita uma sugestão para levar Jeff a um clube de streaptease – local onde conhece a jovem McKenna e inicia uma série de desventuras que alteram drasticamente sua previsível rotina. Jill Soloway, que já roteirizou episódios da série A Sete Palmos (2001 – 2005), retoma sua expertise na condução de personagens repletos de nuances num roteiro que soa inventivo e bem humorado. Seus temas, que a princípio questionam a sexualidade numa época tão teoricamente permissiva quanto arcaicamente repleta de pudor, também criticam códigos comuns da amizade, casamento e até mesmo da religião.

Idealmente equilibrado, o texto de Soloway permite uma percepção de que o espectador assiste a uma comédia pontuada por segmentos dramáticos ou a um drama repleto de bons momentos de alívio cômico. A dualidade que pontua As Delícias da Tarde fica evidente numa das melhores sequências do filme, quando o grupo de amigas de Rachel se reúne e algumas taças de vinho a mais levam a descontraída conversa a assuntos sérios, como o aborto, tratados entre gargalhadas e inevitáveis pedidos de desculpa. O talento de Kathryn Hahn para o humor é inegável a atriz também impressiona pela versatilidade. Sua composição corajosa faz valer algumas gags que seriam apelativas se apresentadas em tom errado, como quando Rachel aparece vestida apenas de meia-calça e faz piada com a situação, ou nas constantes e hilárias menções ao judaísmo insuportável de uma amiga, apelidada de Kosher Amanda. Hahn, ao lado de Josh Radnor, da ótima Juno Temple e da participação mais que especial de Jane Lynch, permite a classificação de irretocável ao elenco que Soloway comanda tão bem. Mérito reconhecido com o prêmio de melhor direção no Festival de Sundance, assim como no destaque entre a lista de Quentin Tarantino com os dez melhores filmes de 2013.

O êxito extra de As Delícias da Tarde está na densidade dramática lentamente introduzida numa narrativa coesa, que torna o a produção tão envolvente quanto provocante e até mesmo perturbador. A abordagem supostamente leve permite que o espectador crie seus próprios julgamentos e valores morais, que felizmente não são esquecidos com o final agridoce da experiência singular que o filme propicia.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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Conrado Heoli
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Bruno Carmelo
9
MÉDIA
8.5

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