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Sinopse
Fã ou Hater?: Após ser cancelada em Hollywood, a estrela Lana Cruz retorna à sua cidade natal com a esperança de retomar sua carreira. No entanto, ela se depara com um desafio inesperado: uma antiga fã que agora é sua rival. Com o cenário da cidade pequena e os fantasmas do passado, Lana precisa enfrentar o futuro. Comédia.
Crítica
Existe algo de curioso na forma como algumas histórias tentam nos convencer de que já nascem com proposta ousada, quando, na verdade, se apoiam em estruturas bem familiares. A comédia Fã ou Hater? pertence a essa linhagem. À primeira vista, tudo parece moderno e conectado aos dilemas atuais, mas o que se apresenta como provocação logo se mostra apenas reflexo. A aposta parece busca por redenção, sim, mas o que a cerca é cenário de atalhos emocionais e confrontos ensaiados que, no fundo, nos conduz a armadilha narrativa: finge construir nuances, quando apenas reproduz extremos.
A atriz Kate del Castillo encarna Lana Cruz, celebridade que, após sucessivos episódios de estrelismo em Hollywood, decide retornar à cidade natal, no México, para tentar recomeçar. O plano inclui participar de filme de baixo orçamento, comandado por diretor inventivo e ousado. Porém, é claro, nada se realiza com facilidade. No caminho, surge Polly Melgar, interpretada por Diana Bovio, excêntrica fã que acaba convertendo em obstáculo. O embate entre elas é revestido de tensões pessoais, ressentimentos públicos e disputas de ego que os algoritmos conhecem bem. As duas intérpretes, com carreiras consistentes no audiovisual latino, enfrentam aqui roteiro que pouco colabora com a complexidade que poderiam oferecer.
A obra propõe reflexão sobre a validação digital, mas a leva a sério demais, como se o veredito da internet fosse não apenas inevitável, mas absoluto. Em alguns momentos, a premissa chega a lembrar Nosedive, episódio da série Black Mirror, tamanha a submissão dos personagens à lógica das curtidas e cancelamentos. É como se não houvesse escapatória possível além da adequação ao sistema binário: ou se é amado, ou se é rejeitado. A jornada emocional de Lana, assim, é atravessada por esse desejo de reconciliação com a imagem, e não com quem ela é, de fato.
Nesse jogo de espelhos, Polly nunca deixa de ser tratada como ferramenta narrativa, algo que pode servir à protagonista, mas jamais se tornar coestrela. A suposta aproximação entre as duas nunca se concretiza em afeto legítimo. Polly é descartável até mesmo nos momentos em que parece representar a única rota possível de redenção. E Lana, ainda que pretenda reencontrar propósito, atravessa a trama sem grandes transformações.
No que diz respeito ao humor, a produção não alcança mais do que dois momentos genuinamente eficazes, algo próximo do que se vê nas comédias menos inspiradas de Adam Sandler, que apostam no carisma dos protagonistas em detrimento de sequências realmente engraçadas. Ao final, Fã ou Hater? reafirma sua vocação para a superficialidade, sem arriscar profundidade emocional nem provocar o riso com consistência. Talvez por isso, se encaixe como obra que se consome em paralelo ao deslizar automático do feed: entretenimento que passa sem deixar qualquer vestígio.
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