Crítica
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Sinopse
Frank deseja uma vida mais calma e aceita um emprego como guarda de um museu nos arredores de Paris depois de anos de dificuldades no teatro. No entanto, ele não contatava com Sibylle, oficial de vigilância que atrapalha sua tranquilidade e a quem se vê obrigado a se unir para criar uma pequena farsa.
Crítica
Pio Marmaï é um dos atores mais interessantes do atual cinema francês. Depois de ter chamado atenção em uma participação-relâmpago como o ideal romântico de Audrey Tautou em A Delicadeza do Amor (2011), poderia facilmente ter se contentado com a posição de galã. Ao invés disso, optou por ser coadjuvante de grandes damas, como Catherine Deneuve (Em Um Pátio de Paris, 2014) e Isabelle Huppert (Um Amor em Paris, 2014), mostrou leveza como um rapaz gay em crise (Beijei uma Garota, 2015), conquistou uma indicação ao César como Melhor Ator (Finalmente Livres, 2018) e foi de andarilho (Felicidade, 2020) a super-herói (Como Virei Super-Herói, 2020) num mesmo ano. Exemplos mais do que suficientes para colocar em evidência a versatilidade dos tipos que interpreta. Uma iniciativa que se mostra válida também em Eu Prometo Ser Sensato, uma comédia romântica que, por mais que se guie por padrões tradicionais, o faz através de tipos e situações que fogem ao esperado. O que pode parecer pouco, mas acaba fazendo uma saudável diferença.
Franck (Marmaï, esfuziante e sempre a um passo do exagero) é um artista, e, como tal, é dado a ataques de fúria e impropérios, como se todos ao seu redor estivessem ali apenas para assisti-lo – seja em uma performance, ou mesmo como suporte e apoio. Depois de uma apresentação de sua última montagem teatral na qual tudo saiu muito mais errado do que poderia ter ocorrido graças ao seu descontrole emocional, parte para uma mudança radical. Ele abandona seu espírito criativo e decide abraçar sem ressalvas o trabalho mais tedioso e enfadonho que poderia ter lhe surgido: vigia de exposições em um museu. Ou seja, a partir de agora tudo o que tem a fazer é ficar sentado o dia inteiro, cuidando para que visitantes e turistas não se aproximem demais das obras expostas, não tirem fotos com flash e nem deixem restos de comida pelo caminho. Logo no primeiro dia do novo trabalho, um colega o alerta: “melhor tirar o relógio do pulso. Você não vai querer ficar controlando o tempo passar”. Até porque, nessa condição, a mudança das horas será lenta até demais.
Mas Franck está decidido. Sonha agora com conquistas convencionais, como sair do quartinho nos fundos do terreno da irmã e alugar seu próprio apartamento, cozinhar nos finais de semana e se divertir com amigos sem maiores preocupações. Para isso, no entanto, há apenas mais um passo a ser dado: deixar o posto de “temporário” e ser contratado em definitivo. O que logo percebe é que aquelas pessoas que trabalham nas mesmas funções também desistiram de outros sonhos maiores, e ali se resignaram como se esse fosse o último espaço possível. E, para que uma nova vaga seja aberta, é necessário que um dos atuais – há até uma dupla de irmãos que hoje ocupam as posições que um dia foram de seus pais – se aposente, seja demitido ou, simplesmente, desista. Nenhuma dessas três possibilidades parece estar próxima de acontecer.
Entre tipos peculiares, como a atriz que, mesmo não sendo uma novata, segue esperando por sua grande chance, ou o senhor que se imagina amigo de todos, justamente por não conseguir ser íntimo de ninguém, será Sybille (Léa Drucker, vencedora do César por Custódia, 2017) que chamará a atenção do recém-chegado. Porém, não da melhor maneira. Ela já teve uma carreira em ascensão, mas problemas psicológicos a impediram de progredir em sua ocupação anterior. Isso não a impede de tratar os demais da mesma equipe como seres inferiores, não dignos de sua atenção, e o mesmo olhar irá lançar sobre Franck. Mas quando ele descobre que ela tem um plano para deixar esse emprego e ainda garantir seu futuro, mesmo com um – ou dois – pé atrás acabará embarcando na proposta que lhe será feita, dando início a um envolvimento que irá além do que ambos haviam planejado.
Os protagonistas de Eu Prometo Ser Sensato não são simpáticos. Aliás, também não são dos mais corretos. Podem ser grosseiros, irritantes, alienados e desrespeitosos. Pior ainda, podem se mostrar também irresponsáveis e donos de atitudes condenáveis. Mesmo assim, é quase impossível não torcer para ambos. Pio Marmaï e Léa Drucker formam um casal improvável à primeira vista, mas que termina por funcionar graças à entrega com a qual se dedicam aos seus personagens. O maluco que anseia por se comportar, a que sempre prezou por retidão que se revela uma contraventora. Mais do que simples conceitos que são questionados, há também um discurso, ainda que de leve abordagem, a respeito de expectativas de vida – o que se busca, afinal – e o papel da arte como peça de transformação. Não que todo debate desenvolva seu potencial por completo, mas tem-se aqui um início de conversa, no mínimo, promissor. O que, para o gênero em questão, representa um avanço.
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