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Sinopse

Um jovem de 17 anos vive em constante estado de turbulência com a mãe. Eles não conseguem se entender.

Crítica

Polêmico, ousado, revolucionário, provocador, chocante, arriscado, obra-prima. Muito já se disse sobre Eu Matei Minha Mãe, trabalho de estreia do jovem Xavier Dolan. Mas será que já foi dito tudo? Provavelmente, não. Até, porque, esse é um daqueles filmes que cada um irá interpretar de uma maneira única e singular. E esse, certamente, é o maior mérito de uma produção que contém elementos autobiográficos de um cineasta de 19 anos sobre sua vida quando ele tinha três anos a menos! Seja pela precocidade, pela genialidade ou pelo impacto do discurso que presenciamos, esse é, acima de tudo, um filme imprescindível.

Dolan, além de diretor e roteirista, é também o protagonista desta história sobre um rapaz que vive sozinho com a mãe (Anne Dorval). O pai não só está ausente da casa, como também da vida do protagonista – e no único momento em que o filho irá recorrer à figura paterna, será para mais uma decepção. Mas as frustrações se acumulam o tempo todo com o garoto, perfeito representante de uma idade em que tudo é passível de conflito: a arrumação da casa, a ida à escola, a comida na mesa, os convites sociais. O fato dele ser gay não colabora muito para a harmonia familiar, e o que vemos são duas pessoas habitando um mesmo lugar, porém vivendo realidades completamente distintas. Mãe e filho são estranhos aos olhos um do outro, mas também em projetos, anseios e satisfações. Porém nunca deixam de representar o elemento original que os une, o laço materno e filial.

Em determinado momento, Dolan olha para a câmera e diz: “eu não consigo ficar perto dela, não a suporto, mas também seria capaz de lutar com dez ou me atirar na frente de um ônibus se fosse preciso para defendê-la”. Ele a odeia, mas também a ama. Como todo jovem rebelde – com ou sem causa. A harmonia que ele encontra na família do namorado é também sintomática, pois demonstra despreocupação, carência e uma liberdade até certo ponto ilusória, já que ninguém é sozinho, e todos nós queremos alguém que nos cuide, nem que seja uma vez ou outra. Com o desenrolar da trama, chega a dor provocada pelas mudanças do destino, as novas experiências, a vivência no internato e a conclusão de que a relação com a mãe pode ser contornada, mesmo que nunca tenha um fim. Matar a mãe, aqui, é mais figurada do que literal. É preciso se libertar dela, primeiro na mente e depois no físico. Separados, portanto, talvez consigam a distância necessária para finalmente se aceitarem.

Eu Matei Minha Mãe ganhou 25 prêmios em festivais internacionais, entre eles em Cannes e de acordo com os principais círculos de críticos do Canadá, como os de Toronto e os de Vancouver. Obra intensa e carismática pela sua coragem e entrega, é um longa que merece ser conhecido por tudo que representa, mesmo que num ou noutro aspecto careça de uma maior maturidade para que seus efeitos sejam mais concretos e que perdurem com resultados mais duradouros. Um olhar sobre uma etapa da vida tão facilmente identificável, e ao mesmo tempo tão singular. Um momento que ganha voz através do talento de um jovem autor cinematográfico que merece aplausos, mas também uma análise mais apurada e precisa, de acordo com o tamanho das angústias aqui levantadas.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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