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Sinopse

Verônica passa por um momento crucial ao questionar sua vocação pela medicina. A reboque disso, também vêm as dúvidas sobre seus afetos e a capacidade de lidar com as mudanças que se aproximam.

Crítica

Era uma vez eu, Verônica nasce sem viço, como planta corroída desde dentro pela aridez. O mais recente filme de Marcelo Gomes, diretor do excelente Cinema, aspirinas e Urubus (2005) e codiretor do ótimo Viajo porque preciso, volto porque te amo (2009), acompanha a personagem do título. Verônica (Hermila Guedes) realiza a residência médica. A vida profissional apresenta as primeiras facetas, alternando oportunidades e dificuldades. Em lado oposto caminha o instável interior da moça. A velhice do pai, José Maria (W. J. Solha), pesa no dia-a-dia antecipando paulatinamente a despedida definitiva.

Justamente no momento em que a profissão lhe exige entrega absoluta, Verônica sente a necessidade de doar-se ao pai. A tensão marca uma dúvida sobre o percurso percorrido e o a percorrer. O esforço da medicina é uma entrega que não tem volta. A carreira é posta em xeque. Soma-se a isso a dificuldade de responder com entrega à relação com Gustavo (João Miguel). Dúvidas e certezas confrontam-se diante de um turbilhão de ideias. A dependência de José Maria impede a garota de se relacionar seriamente. O sexo, então, torna-se uma evasão. E como toda fuga, insistentemente provisória.

Verônica emoldura os dilemas comuns. A solidão, a incerteza da carreira e o medo das perdas. Se a simplicidade do episódio permite a aproximação com o público, a carga dramática do filme revela-se rasa. Quiçá não mais visivelmente frágil, pois tem na direção de Gomes a mão talentosa de um realizador que conhece os recursos disponíveis para evoluir a narrativa, inserindo leveza e intensidade com cenas de música e sexo. De outra forma, Era uma vez eu, Verônica resulta em pouco além da plasticidade inegável. A fotografia de Mauro Pinheiro Jr. é incontestável, formando com a montagem competente de Karen Harley uma parceria harmônica e, em determinadas sequências, hipnotizante.

Superior à sustentação técnica está o elenco. Irretocáveis, Hermila Guedes, João Miguel e o excepcional W. J. Solha compõem grandes momentos. Quando juntos, pai e filha produzem uma mise-en-scène catedrática. Na cena no centro de Recife, ao explicar sobre o processo de reurbanização da cidade, e mesmo depois, ao contemplar a casa do passado, expressões e olhares preenchem a tela, irrigando com substância as artérias pouco inspiradas do longa. Os sinuosos caminhos da vida embalam a todos. De certo, o próximo filme de Marcelo Gomes terá mais a dizer.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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