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Sinopse

Lee Strobel é um jornalista durão que está exatamente onde queria na sua carreira: no topo. Após ganhar um prêmio por um relatório investigativo, ele foi promovido no Chicago Tribune. Em casa, a situação é diferente. Leslie, sua esposa, começou a ter fé em Cristo, indo contra suas crenças, já que é um ateu declarado. Para salvar seu casamento, Lee utiliza sua experiência jornalística e legal para iniciar uma busca a fim de contestar as reivindicações do Cristianismo. Perseguindo a maior história da sua carreira, ele se defronta com resultados inesperados que podem mudar o que ele acredita ser a verdade.

Crítica

Baseado no best-seller autobiográfico de Lee Strobel, Em Defesa de Cristo é completamente aferrado ao propósito de, através de uma jornada do ceticismo à crença, provar ao espectador que os mitos do cristianismo se amparam absolutamente em fatos. A trama acompanha Lee (Mike Vogel), jornalista renomado, que goza de prestígio junto aos colegas, morador de um lar harmonioso e supostamente blindado contra a infelicidade. Essa casca é quebrada a partir de um acontecimento fortuito, o engasgamento da filha com um doce. A menina é salva por Alfie (L. Scott Caldwell), enfermeira que faz questão de dividir os louros com Deus, dizendo-se apenas um instrumento da vontade Dele. A esposa de Lee, Leslie (Erika Christensen), fica extremamente tocada pelo “mistério” por trás do evento, vindo a se afeiçoar à palavra proferida na igreja e, com isso, propiciando uma crise doméstica, pois seu marido, ateu convicto, não aceita a conversão, demonstrando constantemente um incômodo exagerado.

É conveniente à mensagem central de redenção que Lee seja retratado como um homem atormentado, tanto pela relação mal resolvida com o pai quanto por obra da crescente obsessão em provar que está certo. Na medida em que Leslie se torna propensa a acolher suas aflições, ele fica mais arredio, inclusive chegando ao ponto de colocar o matrimônio em sério risco. Em Defesa de Cristo não consegue esconder o apego à sua tese fundamental. O percurso oferecido ao protagonista é marcado por recorrentes derrotas. Cada especialista visitado dispõe de indícios pretensamente irrefutáveis acerca de episódios emblemáticos, como a ressurreição, por exemplo. Do médico que descarta a possibilidade do desmaio de Jesus na cruz à psicóloga renomada, interpretada por Faye Dunaway, todos estão ali apenas para mostrar ao homem descrente que há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a sua vã filosofia. O evidente esquema é mais propício à catequização que ao desenrolar da trama.

Voltando à breve cena com a psicóloga, ela dá uma boa ideia da necessidade tendenciosa de mostrar como Jesus pode trazer benefícios àqueles que nele acreditam. Sem mais aquela, após perguntas de cunho estritamente científico, a personagem de Dunaway questiona Lee a respeito de sua relação com o pai, para logo depois, artificial e canhestramente, listar ateus famosos que igualmente tinham problema de relacionamento com os progenitores. O diretor Jon Gunn não prima pelas sutilezas, lançando mão frequentemente de expedientes abertamente indutivos para consolidar na tela o substrato religioso do filme. Ele subaproveita todo potencial investigativo do enredo – afinal de contas, Lee assume uma cruzada para juntar provas suficientes sobre a impossibilidade da ressurreição de Cristo – justamente em prol da salvação familiar que, claro, dentro do itinerário proposto, somente é viável com o aceite de Deus. Até mesmo as interpretações ficam subordinadas ao sufocante viés ideológico/religioso.

Os personagens de Em Defesa de Cristo perdem espessura dramática com o tempo, tornando-se praticamente peças no tabuleiro de uma divindade onipresente, onipotente e onisciente. Outro ponto que denota a persistência do longa-metragem em direção à sua moral cristã é a forma como a averiguação paralela de um caso envolvendo tentativa de homicídio é conduzida. Lee esbarra na verdade, mas a repele, correndo o risco de prejudicar a vida de outrem, exatamente por ser orgulhoso demais para “aceitar”. É uma maneira pouco eficiente, até contraproducente, de espelhar o caminho dele em direção aos braços de Deus. Os diversos reveses do protagonista, bem como a informação colhida com os homens e as mulheres da ciência, atuam em conjunto para transmitir a ideia da indispensabilidade da fé em nossas vidas. A embalagem não desaponta, já que temos uma produção razoavelmente bem feita, sem maiores deméritos técnicos, mas a falta de profundidade e a natureza doutrinária incomodam bastante.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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