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Sinopse

Elis Regina chega ao Rio de Janeiro, vinda do Rio Grande do Sul, com apenas 19 anos. Jovem de origem humilde, se torna uma das maiores artistas da música e é considerada até hoje a maior cantora do Brasil.

Crítica

O talento de Elis Regina para a música era algo sobrenatural. Sua voz potente, sua presença de palco marcante, seu ouvido para o novo. Durante cerca de 20 anos, reinou absoluta como a principal cantora do Brasil, tendo feito shows internacionais, apresentado programas de televisão e vendido milhões de discos. Uma trajetória rica dessas só poderia gerar um filme de intensidade ímpar, caso fosse feito de forma correta. E é o que acontece com Elis, esse belo trabalho de Hugo Prata, que devolve para os fãs uma muito viva Elis Regina, interpretada com todo o coração por Andreia Horta.

Na trama, assinada por Prata ao lado de Luiz Bolognesi, conhecemos Elis em sua chegada ao Rio de Janeiro, tentando a sorte como cantora ao lado do seu pai, Romeu (Zécarlos Machado). Depois de um início difícil, ela encontra um local para cantar na boate gerenciada pelo boêmio Luiz Carlos Miele (Lúcio Mauro Filho) e pelo mulherengo Ronaldo Boscôli (Gustavo Machado). Os dois logo vêm o talento bruto da cantora e, com a ajuda do artista Lennie Dale (Júlio Andrade), lapidam sua presença de palco. Não demora para que o sucesso de Elis fique maior do que aquela pequena casa de shows carioca – e as rusgas recorrentes com Boscôli a ajudam a decidir largar aquela vida para alçar voos mais altos.

Pontos importantes da trajetória de Elis como sua participação vitoriosa no Festival da Canção pela música “Arrastão”; a apresentação, ao lado de Jair Rodrigues (Ícaro Silva), do programa O Fino da Bossa; a gravação do disco “Falso Brilhante”, com produção de Nelson Motta (Rodrigo Pandolfo); e seus casamentos com Ronaldo Boscôli e César Mariano (Caco Ciocler) estão todos presentes no filme, alguns com maior ou menor destaque. A ausência mais sentida é Tom Jobim, com quem ela gravou um dos discos mais importantes da história da música brasileira, “Elis & Tom”, um verdadeiro divisor de águas em sua carreira. A única explicação para essa falta é algum problema de direito autoral com a imagem do grande compositor, pois não existe história de Elis Regina sem Tom – ele é citado no início do filme e “Águas de Março” aparece apenas em versão instrumental.

A vida de Elis foi tão intensa que, mesmo com esse trecho importante de sua carreira tendo sido deixado de lado, ainda existem muitas outras coisas acontecendo, por vezes de forma rápida demais. Quem não conhece bem a história da cantora pode ficar um pouco zonzo, por vezes, devido a rapidez com que alguns fatos acontecem. O primeiro ato é supersônico, para que o filme consiga chegar logo à fase de sucesso da pimentinha. O relacionamento com Boscôli é bem explorado, ao menos, com bela atuação de Gustavo Machado. O filme não tem medo de pintar o ex de Elis como um sujeito egoísta, mulherengo. Por outro lado, a relação entre a cantora e César Camargo tem pouco da vida pessoal e muito da vida profissional – o que talvez nos deixe um pouco deslocados quando o relacionamento dos dois acaba tão abruptamente.

Esses pecadilhos do filme, porém, não ofuscam em minuto algum a performance magnética de Andreia Horta como Elis. Nota-se um trabalho de pesquisa esmerado por parte da atriz, que traz trejeitos, sorrisos, risadas e toda a presença física da pequena grande cantora. Não bastou apenas cortar o cabelo parecido e vestir-se igual a ela. Horta se embrenha na personagem e busca a força daquela mulher notável. No palco, seus grandes momentos, a atriz está impecável. Conseguimos ver Elis de volta, o que é algo arrepiante. A curadoria musical do filme é excelente, buscando as canções mais famosas da retratada – e ainda desenterrando alguns nada falsos brilhantes escondidos.

Embora seja um tanto incompleta, Elis se mostra uma cinebiografia estimulante, que dá uma boa ideia de quem foi aquela mulher de talento ímpar na nossa música. O final alivia um pouco a polêmica a respeito da morte da cantora – foi um choque à época que Elis tivesse morrido de overdose, algo que é mostrado com zelo pelo cineasta – e só não joga as pessoas para fora do cinema tristes por colocar um clipe musical festivo durante os créditos. Com potencial para ser um grande sucesso nos cinemas, o longa-metragem só precisa de um lançamento condizente com sua qualidade para encontrar seu público.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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