Elis & Tom: Só Tinha de Ser com Você
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Roberto de Oliveira, Jom Tob Azulay
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Elis & Tom: Só Tinha de Ser com Você
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2023
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
Os bastidores das gravações do álbum Elis & Tom, um dos mais importantes da história da música brasileira.
Crítica
A primeira riqueza de Elis & Tom: Só Tinha de Ser com Você é a utilização de filmagens antigas, em 16mm, dos bastidores da gênese de Elis & Tom, um dos principais discos da música brasileira. Os diretores Roberto de Oliveira e Jom Tob Azulay utilizam bem o acervo lindamente restaurado que confere uma dimensão íntima e pessoal ao documentário. Vemos Elis Regina e Tom Jobim afinando as coisas no estúdio para suas propostas musicais distintas convergirem em algo capaz de comprovar (ainda mais) a genialidade de ambos. Flagrantes excepcionais, como o do maestro fumando durante um dueto, reforçam a ideia de proximidade entre a câmera e os personagens, bem como o despojamento dos gigantes sendo capturados pelas lentes. O roteiro assinado por Roberto de Oliveira em parceria com Nelson Motta opta por um caminho seguro: primeiro, resume a história de um dos pais intelectuais da Bossa Nova, abordagem funcional para as novas gerações compreenderem a importância de Tom Jobim aos cenários mundiais, isso desde que surgiu no Rio de Janeiro com um estilo inconfundível; segundo, faz praticamente o mesmo procedimento com a Pimentinha, a gaúcha Elis que no ano de 1974 (o da gravação do álbum) procurava reposicionar a sua carreira depois da apresentação polêmica nas Olimpíadas do Exército – pela qual foi duramente criticada, pois vigorava no Brasil a cruel Ditadura Civil-Militar.
Para ajudar a contar os causos que as imagens não alcançam/retêm, a dupla de cineastas recorre a depoimentos de testemunhas oculares, bem como de familiares de Elis e Tom. Então, uma vez desenhados os contextos dos protagonistas (algo que caracteriza o primeiro terço do longa-metragem), passa-se à costura interessante das falas de gente que esteve na gravação de Elis & Tom e de alguns parentes que ajudam a manter no horizonte a camada pessoal dos gênios. Elis & Tom: Só Tinha de Ser com Você não tem grandes ambições cinematográficas, senão a de contar devidamente histórias por trás de um acontecimento fundamental às carreiras de ambos os artistas. Elis e Tom não habitavam necessariamente o mesmo universo – ela sanguínea, ele minimalista –, mas somaram forças para a realização de um disco notável que tem canções incontornáveis, tais como Águas de Março, Só Tinha de Ser com Você, Por Toda a Minha Vida, entre outras melodias imortalizadas. O filme está preocupado essencialmente com o retrato do acontecimento, por isso não mergulha tão profundamente no processo criativo, ainda que ofereça detalhes interessantes do mesmo, como o fato de Tom ir se impondo aos poucos num disco em que, no momento inicial, ele atuaria como o grande convidado especial. E os depoentes oferecem leituras complementares, inclusive dos instantes de turbulência e descontentamento.
Há muitos filmes possíveis em Elis & Tom: Só Tinha de Ser com Você. Se Roberto de Oliveira e Jom Tob Azulay quisessem, poderiam ter abdicado dos depoimentos e construído um filme apenas com as belas imagens de arquivo. Os realizadores poderiam ter ressaltado, justamente, o processo criativo desses artistas distintos que colaboraram num momento capital da vida de ambos. No entanto, Roberto e Jom optam por uma abordagem abrangente, dentro da qual há um pouco de cada possibilidade citada e ainda outras, como as lembranças dos filhos ajudando a resgatar para a posteridade o que Elis e Tom vivenciaram e como pensaram suas existências no mundo da música. Às vezes o ímpeto de sintetizar vários elementos cobra um preço. Trechos de programas internacionais de televisão em que os protagonistas se apresentaram pouco agregam à tapeçaria bonita e saudosa, pois geralmente servem para reiterar a relevância de ambos no exterior, mas sem oferecer como contraponto a constatação de que nem sempre os dois foram bem tratados no Brasil. Um depoimento em particular é bastante elucidativo do processo, o de César Camargo Mariano, ex-marido de Elis e encarregado dos arranjos do disco – ele sofreu nas mãos de um Tom Jobim perfeccionista que fazia questão de impor ideias e estilos. No entanto, os diretores se distanciam das polêmicas e evitam esse viés sensacionalista.
Elis & Tom: Só Tinha de Ser com Você também carrega como “gordura” (algo que sobra em determinados instantes) os elogios aos protagonistas. No entanto, isso parece fazer parte da citada estratégia de tornar Elis e Tom acessíveis, não apenas às plateias de compreendem suas importâncias, mas também a quem possui pouca familiaridade com as nobres carreiras deles. Estritamente como documentário, essa realização cumpre bem um papel evocativo/ informativo, pois traz à tona os registros preciosos de um episódio fundamental da música brasileira e ainda toma o cuidado de costurar os dados para evitar equívocos. Voltando aos depoimentos ilustrativos de Cesar Camargo Mariano, nota-se neles uma ressalva quanto a criticar Tom Jobim por seu comportamento pedante e, como dizemos de uns tempos para cá, tóxico. O filme também não dá tanta abertura ao retrato dessa contradição – sim, pois alguém artisticamente genial pode ser também intragável no trato com amigos e colaboradores. Todavia, como a premissa do filme é elogiar a criação de uma obra-prima e seus pai e mãe, Roberto de Oliveira e Jom Tob Azulay optam conscientemente por deixar as controvérsias num lugar de menor destaque, tratando-as como decorrências normais do choque entre astros maiúsculos. O resultado é um filme envolvente pela forma como desenha as etapas da colaboração, com imagens de arquivo lindas, mas que se contenta em celebrar os protagonistas.
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