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Sinopse

Durante férias na Europa, a família Hollander se envolve num escândalo diplomático internacional. Depois de fotografar inocentemente uma paisagem, o patriarca precisa levar os seus para pedir asilo na embaixada norte-americana durante a Guerra Fria. O que eles não esperavam encontrar é a chefia do incompetente filho do burocrata.

Crítica

Produção para TV, baseada numa peça do próprio Woody Allen, Don't Drink the Water é pouco lembrada na filmografia vasta do cineasta nova-iorquino. O enredo se passa nos turbulentos anos 1960 marcados pelas tensões entre países capitalistas e comunistas. O cenário é a embaixada norte-americana num país soviético. Lá tudo corre bem até que o embaixador resolve deixar o comando nas mãos inábeis de seu filho Axel Magee (Michael J. Fox) para ir a Washington puxar-saco, cobrar alguns favores, em suma, para fazer politicagem com vistas num cargo mais próximo da Casa Branca. As coisas se complicam bastante quando uma família de turistas é acusada de espionagem, precisando buscar asilo no local. 

Woody Allen interpreta o patriarca, típico americano classe-média mais preocupado com o andamento de seu negócio, uma empresa de buffets para casamentos, que com a política internacional. Sua esposa, interpretada por Julie Kavner, também encarna uma figura peculiar, a dona de casa que não sai do telefone, obcecada por limpeza. Para completar os Hollander, a filha Susan (Mayim Bialik), jovem prestes a casar, embora pense em romper o noivado. Nesse imbróglio todo, ainda há espaço para um padre mágico (Dom DeLuise) e a visita inoportuna de um grande xeique árabe, com direito a harém de esposas. Pronto, está criada a paisagem de Don't Drink the Water.

O filme tem bons momentos, as piadas funcionam, sobretudo as de Woody Allen e Deluise, este presenteado com um dos melhores personagens, o clérigo que passou seis anos estudando mágica para aplacar o tédio, mas que não consegue fazer um número sequer sem entregar o truque. Allen, por sua vez, é uma metralhadora de frases afiadas, disparadas em diálogos tão rápidos como inspirados. O restante do elenco também vai muito bem: Michael J. Fox interpreta o jovem que busca fazer o certo e, por isso mesmo, faz tudo errado; Julie Kavner, como sempre ideal para representar essa esposa alleniana/judia (que ela também faz em A Era do Rádio, 1987), reclamona e afetuosa; e até mesmo Mayim Bialik, no papel da filha dos Hollander, garota que troca de noivo com a mesma velocidade com a qual faz uma ligação à melhor amiga para contar do novo pretendente.

A despeito dessas qualidades citadas, o filme carece de apuro visual, grande parte culpa da decupagem displicente. Não são raros os momentos em que Allen, afeito aos planos longos, entope a cena de gente, sem muito critério, quase aleatoriamente. Ainda que o diretor de fotografia seja Carlo Di Palma, colaborador contumaz não só de Allen, mas de outros grandes cineastas, como Michelangelo Antonioni, a imagem é desleixada. O longa tem, portanto, bem o jeitão televisivo de antigamente. A bem da verdade, Woody Allen faz um híbrido entre televisão e teatro. Fosse mais cinematográfico, e Don't Drink the Water provavelmente não se veria tão refém de momentos isolados para fazer valer sua graça. Ainda assim, se sustenta no talento textual de Allen, bem como no desempenho do elenco que parece divertir-se em meio ao nonsense.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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