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Sinopse

Briggs é um ex-soldado do exército que precisa viajar na companhia de uma cadela para chegar a tempo no funeral de um colega militar. No entanto, a dupla enfrenta uma série de desafios pelo caminho até reconhecer a amizade.

Crítica

A premissa de Dog: A Aventura de Uma Vida é a seguinte: Jackson Briggs (Channing Tatum) é um ex-militar tentando voltar à ativa depois da dispensa por motivos médicos. Um de seus antigos companheiros de Afeganistão morre repentinamente e ele é incumbido de conduzir a cadela do falecido ao enterro. Detalhe: o animal serviu com os dois na guerra e também sofre de estresse pós-traumático. O plano do Exército é sacrificar a pastora-belga ao fim dessa jornada com o novo tutor, imediatamente após ela se despedir do antigo amigo. O começo dessa relação que progride na estrada é tumultuado. O homem e a cadela convivem às turras, se aturam aos trancos e barrancos. Com isso em mente, certamente você pode prever tudo o que vai acontecer, especialmente o final. Isso porque o roteiro assinado por Reid Carolin segue protocolarmente os caminhos antes percorridos por várias histórias em que parceiros de ocasião se tornam amigos inseparáveis durante uma viagem transformadora. A mensagem é bonita. A mudança mútua ocasionada pelo vínculo afetivo é algo que tende a aquecer os nossos corações tão calejados em tempos nefastos. No entanto, de que modo essa trama é apresentada? Recorrendo aos clichês desse tipo de aventura renovadora ou propondo algo? Infelizmente, a resposta é: sendo previsível, transitando pelo piegas e desperdiçando o potencial do contexto.

Quem não se apaixonaria por uma cachorrinha sentenciada à morte que reaprende a ser afetuosa na companhia de um homem que voltou despedaçado dos cenários de guerra? Quanto a isso, há pouca discussão. Mas, os filmes não são feitos apenas de suas histórias, o que nos obriga à análise de seus discursos. Briggs é um brutamontes viciado em guerra, alguém que não encontra lugar na vida civil. Para mostrar isso, os diretores Reid Carolin e Channing Tatum (sim, ele estreia na função como codiretor) recorrem ao velho chavão do sujeito trabalhando o balcão de um fast food qualquer, solitário em casa e com severas dificuldade de interação social. Um clipe resume tudo. Não há vontade de mergulhar nessa situação complexa que faz um homem preferir o front de batalha à pasmaceira de uma rotina comum. Tampouco os realizadores chegam a ensaiar uma crítica a esse Estado que regurgita jovens aos frangalhos de volta à convivência com familiares, amores e amigos. O desajuste social é visto bem mais vagamente do que, por exemplo, em Sniper Americano (2014). Dog: A Aventura de Uma Vida desperdiça as oportunidades para aprofundar o diagnóstico que começa no político e vai ao íntimo. Está focado demais nos lugares-comuns relativos a amizade modificadora. Homem e cadela nem precisariam ser ex-soldados. Bastaria terem traumas ligeiramente comuns que os ligassem.

Dog: A Aventura de Uma Vida evita sentenciar o exército norte-americano como culpado (ou responsável) pelos estilhaços que condenam Jackson e a sua nova companheira, a cadela Lulu. Presos a esse percurso de aprendizado paralelo e superficial, Reid Carolin e Channing Tatum não ponderaram sobre as circunstâncias que causaram as marcas e as desgraças. E um indício gritante disso é a falta de desdobramentos do ataque automático de Lulu a um homem vestido como típico médio-oriental no saguão de um hotel. A cadela não avança sobre o desconhecido porque brutalizar é de sua natureza, mas porque foi condicionada a isso. Fica implícito que Jackson também não é naturalmente agressivo ou propenso ao vício na adrenalina do combate, sendo igualmente treinado ao ponto de agir como que por reflexo. A dimensão trágica é preterida em função da insistência em afirmar que Jackson e Lulu são semelhantes em praticamente tudo, por isso feitos um para o outro. A ponte entre experiências humanas e animais é simplória e não permite leituras menos imediatas e insignificantes. Além disso, prevalecem os estereótipos, a julgar pelo modo como os realizadores registram os interlocutores de Jackson num bar: os que expõem as chagas dos Estados Unidos são vistos como meros repetidores de frases prontas sobre a globalização, a manipulação e os interesses econômicos como motivadores das incursões norte-americanas no exterior. Não há um choque real entre ideologias distintas.

Em nenhum momento Dog: A Aventura de Uma Vida observa Jackson como sintoma de uma conjectura geopolítica e econômica. Ele é somente o homem em busca de cura e redenção, as encontrando na companheira que precisa de laços afetivos para literalmente sobreviver. Tanto que, uma vez encaminhado o clímax, surge um clipe de encerramento do tipo “e viveram todos felizes para sempre”. As questões complicadas são dissipadas após a dupla salvação. Pensando assim, o que mais depõe contra o longa-metragem é a visão excessivamente romântica de relacionamentos, responsabilidade e lealdade. É como se a consciência pudesse ficar para depois, pois a prioridade é garantir que as duas almas solitárias encontrem alento uma na outra. Um filme que poderia ter sido utilizado como referência aos realizadores é A Última Missão (1973). Nele. dois militares precisam escoltar um prisioneiro rumo a um destino fatídico. Enquanto aqui Reid Carolin e Channing Tatum focam basicamente no sentimentalismo que opera milagres, Hal Ashby combina empatia com um apurado senso crítico sobre as instituições militares durante a jornada que assume os contornos do road movie. No exemplar da Nova Hollywood, o objetivo era a exposição do profundo desalento dos homens de farda. Aqui, o propósito é fazer outra história de um homem que aprende a amar um cão; e de um cão dependente desse alguém que deseja confirmar a sua "vocação" de salvador dos oprimidos.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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