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Sinopse

A família Haloran cumpre, anualmente, um sinistro ritual: o de celebrar, na Irlanda, a memória de Kethleen, a filha que, há 29 anos, morreu tragicamente. Em um ano, no entanto, um assassino está à solta nas imediações do Castelo Haloran, o que representa um perigo para os membros da família, principalmente para aqueles que escondem segredos.

Crítica

A primeira cena de Demência 13 nos dá uma falsa pista a respeito do mote deste que é um dos primeiros filmes de Francis Ford Coppola (que ainda não assinava o “Ford”). Louise (Luana Anders) e John (Peter Read) remam à noite, conversando sobre o interesse dela na mudança do testamento da sogra que deseja doar os bens à caridade. Repentinamente, um ataque do coração o fulmina e ele é jogado no fundo do rio pela esposa. Criado um álibi convincente, ela segue a convivência com os Haloran, clã assombrado há algum tempo por uma tragédia, a morte por afogamento da caçula. Na medida em que a trama se desenrola, tendo como cenário um sugestivo castelo no interior da Irlanda e seus arredores, percebemos o plano de Louise como bastante secundário se comparado às dinâmicas dos demais personagens.

A matriarca (interpretada por Ethne Dunn) vive em constante luto pela perda da filha, tanto que reencena anualmente a cerimônia de seu funeral, em meio a recorrentes ataques de histeria. Todos ali têm sua particular dose de insanidade, umas mais acentuadas que outras. Richard (William Campbell), o irmão mais velho, guarda certo mistério por trás da austeridade. Já Billy (Bart Patton), outro dos herdeiros, parece o mais claramente prejudicado, sendo vítima de pesadelos que ajudam a delinear seu perturbado estado mental. Assim, o interesse se desloca gradativamente à exploração das peculiaridades de cada integrante da família, numa abordagem psicológica paralela ao terror instaurado com o surgimento de um assassino misterioso que cala suas vítimas a machadadas.

Há em Demência 13 a assinatura de dois grandes nomes do cinema. De Roger Corman, aqui produtor, há a pegada, sobretudo estética, própria dos chamados Filmes B, produções de baixo orçamento das quais ele é um verdadeiro expoente. Francis Ford Coppola, por sua vez, foca no tema que predomina em boa parte de sua filmografia: a família. Mesmo limitado pelas convenções do gênero, ele direciona o olhar às relações parentais, mostrando dificuldades de convívio entre pares, ainda que seja fundamental a deflagração dos efeitos colaterais extremados de uma fatalidade com ares de maldição. Interessante notar como o sobrenatural circunda a narrativa, sem nunca de fato inserir-se nela, pois apenas fruto da paranoia, principalmente da mãe que ainda acredita nas possíveis manifestações sobrenaturais da filha.

Demência 13 nos leva à mesa doentia dos Haloran, a acompanhar pessoas incomodadas pela culpa e/ou presas ao passado. Uns ficam ancorados na dor, outros entram em desespero, e há ainda aqueles que desenvolvem uma espécie de psicopatia. Francis Ford Coppola constrói um filme de encenação e visual totalmente alusivos ao itinerário artístico de Corman, mas com personalidade suficiente para mostrar-se autoral. Isso fica evidente, sobremaneira, em virtude do aprofundamento em certos pontos que nas mãos de um diretor menos habilidoso provavelmente seriam periféricos e sem maior importância. Uma pequena realização, desconhecida da maioria, mas que merece ser descoberta, pois parte instigante da gênese de uma das carreiras mais relevantes do cinema.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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