Crítica


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Sinopse

Professor aposentado, Pablo praticamente não sai de seu apartamento. Já seu filho, Felipe, está às voltas com a paternidade de primeira viagem. A tese de que o mundo acabará em dezembro de 2021, de certa forma, os une.

Crítica

Foram vários os filmes que trataram sobre o fim do mundo. Alguns com a espetacularização do nosso apocalipse em mente, outros preocupados em como nós, seres humanos, enfrentaríamos o final de nossa existência. Uma temática que nos deu produções tão diversas quanto 2012 (2009), de Roland Emmerich, a Melancolia (2011), de Lars Von Trier. O colombiano Crônica do Fim do Mundo soma-se a esta lista de produções que bebem na fonte da profecia Maia, felizmente mais inclinada a uma reflexão sobre perdas e questões inacabadas do que na propriamente dita destruição do nosso pequeno planeta chamado Terra.

O longa é um tour de force do cineasta Mauricio Cuervo, diretor, roteirista e montador do longa. Com uma equipe pequena, orçamento enxuto, mas com qualidades que não deixam transparecer qualquer dificuldade financeira, Crônica do Fim do Mundo é um drama interessante sobre perda. Seja de um relacionamento, seja de um ente querido há tempos ausente.

Na trama, Pablo Bernal (Victor Hugo Morant) é um senhor de 70 anos que não sai de casa há pelo menos 20. Um forte trauma o deixou com cicatrizes internas praticamente incuráveis. Suas únicas ligações com o mundo externo são a televisão, o telefone e, principalmente, seu filho, Felipe (Jimmy Vasquez), que faz visitas constantes ao velho pai. Temeroso pelo final do mundo, anunciado pelos Maias para dezembro de 2012, Pablo começa a fazer ligações para figuras do passado que o maltrataram de alguma forma. Muitos deles velhinhos demais para inclusive lembrar quem é o responsável pelas ligações. Aquele senhor se diverte com sua nova mania, até que uma ligação e palavras atravessadas despertam a ira do filho de um antigo inimigo, que jura vingança. Este fato deixa Pablo consternado e preocupa Felipe, que também não está tendo bons momentos em casa, com sua esposa, Claudia (Claudia Aguirre), pedindo mais atenção do marido para ela e seu bebê. Pai e filho terão de vencer seus demônios internos para encontrar seu final feliz, se é que isso pode existir.

O maior destaque em Crônica do Fim do Mundo vai para a performance de Victor Hugo Morant, que encarna o rabugento Pablo com maestria. Suas tiradas ao telefone são engraçadas na medida, não escondendo a amargura daquela figura confinada em seu apartamento. Quando o medo surge, relacionado à ligação imprudente realizada para o filho de um antigo desafeto, Pablo coloca em perspectiva o que estava fazendo, tomando contato novamente com aquela antiga ferida que ainda o incomoda. Neste caso, a presença do filho é importantíssima para Pablo, que tem uma ligação com o mundo exterior através de Felipe.

O drama do rapaz não é tão forte quanto do seu velho pai. Um reles problema de comunicação que poderia muito bem ser resolvido com uma conversa franca. A presença de um melhor amigo para Felipe, Ramiro (Juan Carlos Ortega), que o deixa em maus lençóis com a esposa, é um problema diminuto demais para ser a gota d’água naquele relacionamento. Aliás, qualquer cena em que Ramiro apareça atrasa momentos da trama muito mais importantes ou interessantes. Criado para fazer rir, o personagem é completamente descartável.

Com uma direção de arte caprichada, que nos faz acreditar que aquele velho senhor permaneceu um bom tempo naquele apartamento, com diversos livros empilhados e mobília antiga, Crônica do Fim do Mundo tem ainda interessantes recursos narrativos. Um bom exemplo é a utilização da câmera de um celular substituindo a câmera tradicional. Não está claro se Cuervo utiliza um aparelho de telefone para fazer as cenas ou apenas outro equipamento para diferenciá-lo da fotografia principal. O que é certo é que o efeito funciona muito bem. Em determinado momento, observamos as ruas colombianas junto de Pablo, que se encanta com algumas mudanças capturadas pelo seu filho.

Bem costurado, ainda que bastante curto e por vezes previsível, Crônica do Fim do Mundo deixa bem claro os paralelos que faz com os personagens que cria e o apocalipse anunciado, deixando para o terceiro ato revelações importantes a respeito de Pablo e Felipe. Um filme pequeno no tamanho, mas nada diminuto em suas pretensões, o longa-metragem recebeu o grande prêmio do Festival de Bogotá e tem tudo para conquistar plateias em outras localidades. Isso porque a história que ali vemos poderia ser transportada para qualquer outro lugar, mostrando personagens bastante humanos, com dramas palpáveis e intensos.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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