Contos de Nova York

Crítica


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Sinopse

Lionel é um famoso artista plástico de coração partido. Zoe é uma menina que vive esquecida em hotéis de luxo pelos pais ocupados. Sheldon é um advogado que se depara com a mãe literalmente no céu de Nova Iorque.

Crítica

Um pintor e sua musa, uma menininha extrovertida e um advogado com problemas maternos. Qual o fator em comum entre eles? Nova York. Três contos, dirigidos respectivamente por Martin Scorsese, Francis Ford Coppola e Woody Allen. E se o diretor de O Poderoso Chefão (1972) e sua bobinha história sobre uma garota que vive longe de seus abastados pais soam deslocados na proposta temática do filme, os responsáveis por Caminhos Perigosos (1973) e Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), além de possuírem currículos mais apropriados, também entregam obras muito mais interessantes e dignas de suas personas.

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Em Lições de Vida, o conto que abre o longa, Martin Scorsese conduz pacientemente a estranha relação entre o artista Lionel (Nick Nolte) e sua pupila, Paulette (Rosanna Arquette), em um tipo de história que remete aos primeiros trabalhos do diretor, como Alice Não Mora mais Aqui (1974) e Quem Bate a Minha Porta? (1967), retomando o tom quase suburbano que era uma característica marcante também em Taxi Driver (1976). Nolte, grosseiro e desajustado, compõe Lionel como um ser de aparências, que abandona os modos brutos com que pinta para se estabelecer um verdadeiro cavalheiro quando necessário. Como sempre, trata-se de uma visão derrotista e viciosa do homem intricado na cidade grande, o que o difere, por exemplo, da visão de Allen, que na maioria das vezes, apesar do pessimismo, é bem humorado e irônico. Claro que isso não diminui um em comparação com o outro, apenas reforça as diferentes abordagens de dois diretores que tem em Nova York um de seus cenários favoritos.

O conto que Allen dirige, o terceiro e último a ser exibido, fala sobre um homem que tem vergonha da própria mãe. Isso porque ela sempre o trata como criança mesmo em frente à esposa, amigos e colegas de trabalho. O inusitado, como não poderia deixar de ser em um filme cômico do diretor, está lá, e logo sua mãe vai parar em uma outra dimensão, aparecendo como uma cabeça gigante que flutua sobre a cidade de Nova York, contando a todos os habitantes os causos do filho quando pequeno. Não tarda também até que Sheldon (interpretado pelo próprio Allen, claro), contrate uma vidente para tentar resolver o problema. Contando sempre com um humor de linhas rápidas gaguejadas por seus personagens, o cineasta é o responsável pelo melhor segmento do filme, muito porque conta também com uma performance hilária de Mae Questel como a mãe do protagonista. Vale citar que Mia Farrow também está lá? Agora já foi, mas passa apagada diante do carisma das outras três figuras principais.

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Coppola entrega o tolo A Vida sem Zoe, que é simplesmente ingênuo ao contar a história de uma garotinha destemida que resolve um problema para o pai ao passo em que ajuda um menino indiano muito rico a fazer novos amigos. Porém, os conflitos mal existem, uma vez que são resolvidos facilmente. Mesmo a abordagem do realizador é pobre e indecisa, às vezes pendendo para ângulos inclinados e expressionistas, noutras investindo em travellings que se aproximam de seus personagens como que para criar em determinadas sequências uma tensão que não existe. A maior atração deste segundo conto é mesmo a atriz mirim Heather McComb, que encarna Zoe com uma energia admirável, mas que é desperdiçada por um roteiro batido e sem vida. O que, ainda bem, não é como poderíamos descrever o longa como um todo, que se no meio tem um buraco, é segurado por suas extremidades graças às interessantes e carismáticas narrativas de Scorsese de Allen.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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