Crítica
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Crítica
Produção peruana original Netflix, Como Superar um Fora é protagonizado pela criativa Maria Fe (Gisela Ponce de León), que recebe como uma bomba a decisão do rompimento de seu relacionamento antigo, algo que Matías (Andrés Salas), o então ex, lhe comunica ordinariamente via Skype. Os planos de mudança para Madrid, a fim de ficar perto desse antes namorado, caem por terra e ela experimenta condensadamente as múltiplas fases pós-rompimento, da negação à conformação melancólica. Os diretores Bruno Ascenzo e Joanna Lombardi conduzem esse processo por um caminho agridoce, fazendo graça das reações típicas de quem é deixado de lado, investindo pesado no carisma da jovem que precisa se reconfigurar para seguir em frente. O visual multicolorido ajuda a conferir ao conjunto uma aura solar, ressaltando a sua inclinação aos desfechos que apontam a recomeços felizes e, no caso de Fe, à necessidade de se reestruturar-se rapidamente para dirimir a sensação de vazio que a ausência do amor causa. O filme fala com leveza desse duro processo.
Como Superar um Fora se apoia em chavões e lugares-comuns amplamente disseminados, seja no cotidiano ou nos exemplares similares. Temos a “abandonada” juntando os cacos, apostando em caminhos alternativos, como conhecer gente nova em festividades, transar com quase desconhecidos para compensar o tempo supostamente perdido e ver se tira o ex da cabeça, ampliar o círculo de amizades – e, nesse sentido, a chegada de Carolina (Jely Reátegui) é fundamental. No que diz respeito à seara profissional, também abordada, igualmente há escassas novidades, com a publicitária brilhante se matando de trabalhar para o empregador babaca que não a valoriza. Fe sonhava em ser uma escritora renomada, porém vive dos ganhos na agência, ou seja, há uma boa e velha dicotomia, forjada na conjuntura do potencial artístico empregado em esforços meramente mercantis, o que amplia a violência da submissão. Todavia, é deliciosa a maneira como esses elementos banais são articulados na trama, ainda que pouco seja devidamente aprofundado.
Em meio a platitudes, a circunstâncias sustentadas pelo desempenho do elenco – e a direção assevera essa excelência –, surgem nesgas de um discurso feminista valioso, com a constatação de que a protagonista não deve ser condicionada por desejos masculinos. Incentivada por amigas, ela começa a escrever um blog pessoal, intitulado Solteira Cobiçada (tradução livre do título original do longa-metragem), em que discorre justamente sobre imbróglios amorosos. Bruno Ascenzo e Joanna Lombardi perdem a oportunidade de, por meio da interação com as mulheres identificadas que comentam, ampliar a discussão sobre os gêneros. Acaba que a publicação periódica serve tão e somente para gerar um encontro aparentemente promissor com um entrevistador e alavancar a personagem quando, de fato, ela cai em si rumo à independência afetiva. Os temas estão todos ali, postos e deflagrados, mas não tratados com a densidade e/ou atenção carecida.
No que tange aos homens do enredo, o abertamente chauvinista é o patrão, desenhado como uma esgarçada caricatura preconceituosa, cujas falhas de caráter são enumeradas a certa altura do desenvolvimento. Matías desempenha uma função mais sutil, sendo enquadrado principalmente na categoria “carente indeciso”, por procurar Fe exatamente nos momentos em que ela parece ter suas feridas cicatrizadas, menos enquanto um macho necessariamente opressor. O empoderamento da protagonista vivida intensamente por Gisela Ponce de León aparece com força apenas nos desfecho, haja vista a subversão da instrumentalização da banheira, até ali um lugar de lamúrias, depois (de soslaio) um espaço de autocelebração. Mesmo que o filme seja disperso, que não consiga sustentar seus posicionamentos integralmente, tais instantes de superação emocional são um fechamento bem-vindo para essa produção inconsistente, mas que é divertida e encara pontos vitais.
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