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Sinopse

James Bond enfrenta Mr. Big, o chefão do crime em Nova Iorque, cujo pilar é o comércio de heroína.    

Crítica

Apesar de ser o terceiro 007 na série oficial de filmes, Roger Moore havia sido convidado antes de Sean Connery para assumir o papel criado por Ian Fleming. O astro da tevê britânica estava comprometido com a série O Santo (1962-1969) e não pode escapar do contrato. Depois de uma tentativa infrutífera com George Lazenby em 007: A Serviço Secreto de Sua Majestade (1969) e o retorno pouco inspirado de Connery no papel em 007: Os Diamantes são Eternos (1971), era chegada a hora de Roger Moore dar seu rosto ao agente secreto em Com 007 Viva e Deixe Morrer (1973). Encarnando de forma muito própria o personagem, o ator é uma feliz surpresa, conseguindo manter o sex appeal que o papel exige e ainda acrescentando uma aura de bom humor que inexistia em filmes anteriores. Se aqui o James Bond não é um problema, o mesmo não pode ser dito do roteiro assinado por Tom Mankiewicz e de sua execução canhestra realizada pelo cineasta Guy Hamilton, a mesma dupla de 007: Os Diamantes são Eternos.

Na trama, James Bond precisa investigar a misteriosa morte de três agentes da MI6, cada um assassinado em partes diferentes do mundo (Nova York e Nova Orleans, nos Estados Unidos, e San Monique, no Caribe). A missão leva 007 a conhecer a bela cartomante Solitaire (Jane Seymour), que trabalha e é objeto de desejo do perigoso Mr. Big (Yaphet Kotto), sujeito que – evidentemente – está por trás dos crimes e pretende ser tornar o maior traficante de heroína da história. Em seu caminho, Bond encontrará vilões espalhafatosos – o capanga com braço de ferro Tee Hee (Julius Harris) e o sobrenatural Baron Samedi (Geoffrey Holder) –, uma mulher bela e misteriosa Rosie Carver (Gloria Hendry), rituais exóticos, jacarés mantidos em cativeiro e tubarões famintos. Com a ajuda do agente da CIA Felix Leiter (David Hedison) e do amigo Quarrel Jr. (Roy Stewart), James Bond terá de prevenir a ascensão de Mr. Big enquanto engata um romance com Solitaire.

Como costumamos ressaltar ao conferir aventuras mais antigas de James Bond, os tempos eram outros e algumas situações que lá pareciam bastante normais, soam hoje demasiadamente ofensivas e até racistas. É impensável atualmente compor um longa-metragem com um elenco de vilões negros, por exemplo. Não bastasse isso, os personagens são extremamente estereotipados. Era um período em que os filmes blaxploitation estavam em alta e os produtores de James Bond resolveram surfar na onda. Mas o que é realizado chega a ser grosseiro e desrespeitoso. Obviamente, os que menos são estereotipados se saem melhor, como é o caso do próprio Mr. Big, vivido com segurança por Yaphet Kotto. Mesmo que as atitudes do personagem não sejam muito lógicas, o vilão é interessante. Ainda assim, o maior destaque do time dos malvados fica para o curioso Baron Samedi, interpretado com divertido exagero (e com maquiagem pesada) por Geoffrey Holder. Jane Seymour é uma bela inclusão na galeria de Bond girls e Roger Moore tem boa química com a atriz. É notável que o ator busca se diferenciar dos demais intérpretes de Bond, vivendo de forma muito mais solta e leve o personagem. Algumas marcas de 007 como sua bebida preferida ou escolha de armas e cigarros é alterada, para distanciar o novo agente do de Sean Connery. Roger Moore assume o papel com naturalidade e não parece sofrer com o peso do personagem ou de seu passado.

A escolha da trilha sonora é uma história a parte e merece ser contada. Paul McCartney foi convidado para escrever a canção original e quase não a cantou no filme, visto que os produtores pensavam em uma voz feminina para defendê-la. McCartney só aceitaria se pudesse cantá-la. Os dois lados venceram. Os créditos iniciais e finais trazem a versão de Paul, junto com sua banda Wings, enquanto que em uma cena no meio do filme, Brenda Arnau interpreta Live and Let Die. Poucas vezes até então a música tema havia sido tão bem utilizada dentro da história, sendo adaptada de forma muito inteligente por George Martin, o conhecido produtor do Beatles que ficou a cargo da trilha. Primeira canção de rock a servir de tema para 007, também foi a primeira da série oficial a ser indicada ao Oscar.

Algumas cenas de ação são muito bem executadas, como é o caso da perseguição de lanchas ou da corrida com o ônibus de dois andares. Por outro lado, as sequências envolvendo jacarés e tubarões chegam a causar risos involuntários, assim como o tragicômico desfecho do vilão. A culpa destes deslizes recai em Guy Hamilton, que ainda por cima não consegue dar ritmo ao filme, fazendo pesar os 122 minutos de duração. Mas nada feito neste filme é tão insuportável quanto a atuação de Clifton James como o xerife Pepper, outro estereótipo ambulante: o sulista sem cérebro que se acha esperto. O pior de tudo é que alguém deve ter achado fascinante o personagem, tanto que ele retorna em 007 contra o Homem com a Pistola de Ouro (1974), felizmente o último da franquia com roteiro assinado por Mankiewicz e dirigido por Hamilton. Se Com 007 Viva e Deixe Morrer consegue entreter e é passável como um exemplar menos sério da franquia, é apesar desta dupla.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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